O varredor Real
Plácido era varredor de ruas, no Paço do Rio de Janeiro lá pelos anos de 1817. O Príncipe o conheceu e logo se afeiçoou rapaz, fazendo dele um barbeiro. Era natural... Logo o transformou em seu companheiro de todas as noites. Plácido tornou-se o amigo de toda hora.
Apesar de comentarem que a filha do Marquês de Inhambupe foi mais umas das vítimas do Imperador eis que...
Certo dia Dom Pedro chamou Plácido, que o atendeu... “Sim Majestade!”.
“Hoje é o aniversário da filha do Inhambupe?”. Disse Pedro.
“Sim... ela faz hoje vinte anos...”. Respondeu Plácido.
“Que horas será a festa?”. Perguntou Pedro.
“As duas, o Marquês não dá festas a noite, ele anda doente. Ele só esta oferecendo uma simples recepção aos amigos”. Respondeu Plácido.
O patrão abriu o seu baú de jacarandá, pegou uma caixinha de veludo, virou-se para o amigo e disse... Leve isso rapaz, é um bracelete, presenteie a filha do Marques, em meu nome. O jovem criado sorriu. O Imperador, bem humorado e malicioso falou...
“É bonita aquela moça, não é Plácido?” •E o Plácido, um tanto confuso... “Belíssima majestade...”.
“Aquilo é mulher de verdade, não acha?”.
E o já sem graça criado, com um sorriso amarelo... “É uma mulher e tanto! Mas...”.
“Mas... o quê? Ela é solteira, é filha do Marques, homem honrado e é ministro de V. Majestade... tem que tomar cuidado é muito arriscado, pode até dar um escândalo”.
Pedro, sem paciência aumentou o tom de voz... “Que escândalo nada o Marquês é como os outros... Um puxa saco. É o ministro mais bajulador que eu já tive, ele não me assusta, não se meta com ele, ajeite as coisas, deixe o resto por minha conta e leve o presente para moça...”.
Pedro estava desejando loucamente a jovem. Raro o dia em que ele não cortejava a filha do seu ministro. Sempre mandava um recado carinhoso, uma lembrança. O Plácido esta impaciente, andava de um lado para o outro, o leva-e-traz daquele mela-mela. Sempre tinha uma resposta. Que a moça adorou, que a moça estava apaixonada. Que estava tudo bem. O Imperador, sempre contestava...
“Mas ela não mostra gratidão. Nem uma palavra, um sorriso...”.
E o Plácido... “Não percebe senhor! Nada mais singelo, a mocinha é fina, é manhosa, não quer dar na vista, pode ficar mal falada... Mas fique tranqüilo, vai tudo bem!”.
Pedro ia aceitando, e todo dia mais um chamego. Agora, no aniversário, era aquele bracelete, um alvoroço! Sem contestações, lá foi o Plácido cumprir as ordens. Vestiu sua casaca elegante. Colocou uma gravata elegante, um cravo na lapela, perfumou-se. E seguiu alinhado para a festa na casa do Ministro dos Estrangeiros.
E o paciente galanteador, já impaciente, com tanta enrolação, exigiu um encontro. Que desse um jeito e fosse buscá-la! Pedro aguardou um tempo e voltou para casa, eis que de repente, apresenta-se na residência real, o pai da menina! O Imperador pensou... Que devia estar tudo perdido! Como sairia dessa? Mas um bom conquistador não recua. E como se nada tivesse acontecido, imaginando que aquele pai teria vindo fazer justiça com as próprias mãos.
Então entra o Marquês, vinha indagar, impaciente, se Pedro não se opunha ao casamento da filha, pois os dois, já há algum tempo, vinham se entendendo, dizia que o rapaz era muito generoso sempre presenteando a filha, uma demonstração de carinho, quanto a ele, aprovava, muito feliz, aquela união, sua filha seria feliz casando com... O criado Plácido! Parece que a surpresa e o espanto do Imperador eram tanto que não conseguia nem falar. Ficou estatelado.
Respirou profundamente, conseguiu disfarçar o susto e deu seu consentimento ao surpreendente enlace. Despediu-se do Marquês e mandou chamar o Plácido. O que ele faria diante dessa traição? Chicoteá-lo... Seria pouco... A forca seria bem melhor. Logo entra o rapaz se descabelando, soluçando e atira-se aos pés do patrão... “Majestade eu sou o mais detestável dos homens... Trai meu amo, o meu benfeitor... como pude. Mereço todos os castigos, nunca deverei ser perdoado!”.
Mas Pedro como sempre foi se deixando amolecer...
“Mas que história é essa? Conte-me o que houve, não consigo acreditar!”.
“Não agüentei a paixão Majestade, aquela mulher é a minha vida. V. Majestade tem as mulheres que quer, e essa é o meu único amor! Perdão, perdão!”.
Como sempre a sua benevolência superava o seu ódio que se transformava em riso. E aquela era uma situação inusitada! Pedro começou a rir, e em vez de um chicote, pegou uma jóia e disse...
“Para tua noiva, seu ordinário, é meu presente de casamento”.
Uma história Real, real que o Brasil esqueceu.