O meu primeiro carro...um Fiat 147.
Era o ano de 1983, tinha na época 17 anos e sempre olhava
na televisão a propaganda daquele carro. Um Fiat 147.
Ele era o carro de meus sonhos.
Desde quando ele fora lançado eu literalmente babava olhando
aquele carrinho que eu achava simplesmente, lindo!
Um vizinho meu comprou um novinho, zerinho. Todos os dias eu o via parado na frente da casa dele e ficava eu então sonhando em ter um carro igual aquele.
Infelizmente, o meu vizinho nunca me chamou para entrar dentro do
carro dele, sentir o seu cheiro.
Naquele tempo os carros acessíveis para se comprar eram: Brasília, Fusca, Chevette e o Fiat 147.
Sempre falava comigo que assim que completasse 18 anos, iria tirar a minha carta e depois comprar esse carro, mesmo que fosse usado.
Eu trabalhava em uma empresa desde s meus 15 anos. Com 18 anos consegui tirar a minha tão desejada carta. Com 19 anos, solicitei com o meu empregador que me dispensasse. Queria assim, com a indenização, comprar o meu sonhado carro.
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Recebi toda a minha indenização, equivalente hoje a R$2.700,00. Juntando algumas economias minhas, consegui o montante de R$3.650,00. Isso era tudo o que eu tinha para poder comprar o carro dos meus sonhos. Um Fiat 147 usado. Novo não daria para comprar, mas um usado já daria.
Com o dinheiro reservado para a aquisição do meu primeiro carro, todos os domingos eu ia num feirão de carros usados não muito
longe de casa.
Os carros que eu gostava, o valor não dava para comprar,
o que dava para eu comprar, achava simplesmente horrível.
Já estava desanimado nessa busca de meu carro perfeito.
Valor ideal e carro ideal. E foi essa a minha rotina durante alguns meses. Já tinha até conseguido encontrar emprego novo,
mas o carro que é bom, nada!
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Num domingo, nesse mesmo feirão, enfim consegui visualizar o carro
de meus sonhos. Ele era lindo mesmo o olhando de longe. Quando me
aproximei, meus olhos brilharam. Era aquele o meu carro!
O proprietário estava perto dele, assim que me viu olhando já foi
me perguntando se tinha interesse.
Parecendo um bom entendedor de carros, lhe fiz algumas perguntas.
Quando olhei no vidro do carro a placa com o valor, meu coração disparou...
Aquele carro tinha que ser meu. O Valor do carro: R$3.580,00.
Perguntei sobre os opcionais. Era aquele carro!
Tudo exatamente como eu sonhava. Pintura linda, bancos novos.
Pedi então que ele ligasse o carro, mostrando a ele que eu realmente entendia de carros usados. Ele então o ligou, e surpreendentemente
o carro pegou na primeira batida. Achei um encanto tudo aquilo.
Mostrando interesse, perguntei se havia abatimento no preço.
Depois de alguma choradeira ele baixou o valor para R$3.500,00. Fechei negócio imediatamente.
Na segunda-feira, fomos ao banco, e paguei a ele o valor acertado.
Na minha santa ignorância em me achar apto a comprar um carro usado sem levar um mecânico ou um amigo que entendesse.
Comprei o carro sozinho, simplesmente perguntando ao dono:
O Carro é bom?
Obtive como resposta: Claro!
Esse carro é excelente e está pronto para viajar sem problema.
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Hoje me lembrando dessas coisas eu dou muita risada.
Como alguém pode ir comprar um carro usado sem entender nada e nem ao menos levar alguém que entendesse?
Me lembro ainda como se fosse hoje, quando ele me disse: Você pode
levar esse carro sem problema nenhum!
Sim, o levei sem problema nenhum, mas somente até chegar perto de minha casa. Na chegada ele já apresentou o primeiro problema e parou.
Chamei um mecânico conhecido.
..
Assim que o mecânico chegou, abriu o carro, olhou para mim e me perguntou:
Você levou algum mecânico quando foi comprar esse carro?
A resposta do sabidão: Não!
- Pois é! Você parece ter um problemão. Respondeu ele.
Após o mecânico fazer vários testes, mexer nisso e naquilo, deu o seu orçamento:
Trocar discos e pastilhas dos freios, limpar o carburador, troca mangueiras,
correias, trocar o óleo e outras coisas.
Valor do orçamento: R$400,00.
Pedi socorro a minha mãe e mandei efetuar todos os reparos.
O bobão aqui nem consultou outro mecânico.
Três dias depois eu fui buscar o carro todo feliz e dessa vez cheguei com ele em casa sem nenhum problema.
No outro dia uma vizinha que eu paquerava me pediu que a levasse até a casa de sua tia. Claro! respondi.
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Antes da hora combinada, fui testar o carro para retirá-lo da garagem e notei que um pneu estava baixo demais. Furado.
Bem! Pneu furado eu mesmo seu trocar, então a solução seria simples, isso até eu procurar o estepe do carro. Cadê? O esperto aqui tão entusiasmado na hora da compra se esqueceu de olhar se o carro tinha estepe e outros apetrechos do carro.
O carro não tinha estepe e também não
tinha a chave de rodas, não tinha nada...
Consegui resolver, pedindo emprestado a chave de rodas de um amigo.
Juntos, levamos o carro a um borracheiro próximo que o reparou.
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Quando cheguei com o pneu, a minha vizinha já estava nervosa me esperando.
Troquei rápido o pneu. Justifiquei a ela o atraso e tudo resolvido.
A levei até a sua tia que era mais ou menos uns 15 minutos de carro de onde morávamos. Assim que ela desceu do carro, notei que um pneu estava baixando. Outro pneu furado!
Minha preocupação - Estava sem estepe!
Pedi socorro a um amigo que no carro dele me levou junto com o pneu até um borracheiro. O caso foi resolvido depois de alguma canseira.
A minha vizinha aproveitou que ainda estava na porta da casa da tia dela e me pediu que a levasse de volta.
Quando estava chegando à porta de minha casa, aconteceu algo incrível.
Os quatro pneus baixaram.
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Chamei um borracheiro próximo para me socorrer. Ele retirou os quatro pneus e juntos fomos até a sua borracharia. Diagnóstico:
Teria que trocar os quatros pneus.
Estavam tão ruins que nem davam mais para rodar com eles.
O esperto aqui somente olhou a lataria e os bancos.
Faltou olhar os pneus
que pareciam bons, mas não estavam.
Nova dívida, o borracheiro me parcelou os pneus e ainda me deu
uma idéia,
um dos 4 pneus trocados ainda serviria como estepe por que não estava tão ruim como os outros.
Já devia a minha mãe e agora estava devendo também ao borracheiro, fora a dívida de gratidão com dois amigos.
Mas, algo bom iria ficar. Pneus novos, mecânica nova, elétrica, etc... Conclusão:
Estava com um carro quase novo.
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Havia combinado com a minha vizinha de no outro dia que seria um sábado, todos iríamos sair para dançar.
Combinamos a hora do encontro.
Na hora combinada, estava lá eu com o meu Fiat 147 amarelinho limpinho e brilhando aguardando a minha vizinha e as duas amigas delas chegarem.
Quando elas chegaram, abri a porta educadamente e na frente ficou a minha querida vizinha e atrás as duas amigas dela.
Feliz, me sentindo o máximo e um verdadeiro rei, liguei o carro...
Fiquei ouvindo aquele barulhinho chato de carro que não quer pegar. Somente quem já sofreu esse tipo de problema sabe como é a ansiedade que dá na gente.
E assim sofri longos minutos tentando fazer o carro pegar.
As lindas meninas dentro do carro olhavam uma para a outra.
Desci do carro, chamei um amigo que passava e pedi para ele me ajudar a empurrá-lo e ver se ele pegava no tranco.
Depois de mais de um quilômetro empurrado, nada de sucesso.
O Carro simplesmente me enganou e me traiu com três lindas meninas.
Chamei o mecânico e ele olhou e me disse: Somente amanhã!
Ele foi curto e grosso.
Nada de passeio. Frustração total.
Na segunda-feira o mecânico com dó de mim, me chamou e disse: Venda esse carro urgente!
Vender? Eu estava com o carro de meu pesadelo, digo sonho, não havia completado ainda um mês na posse dele.
Como vender assim tão cedo? Não havia usufruído nada dele ainda.
Conversei com alguns amigos e com a minha mãe e depois de tudo, resolvi então seguir o conselho de todos....vender o meu Fiat 147 amarelinho.
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Coloquei anúncio em um jornal de grande circulação e imediatamente um comprador ansioso veio verificá-lo pessoalmente em casa.
Ele olhou o carro de cima embaixo e simplesmente o amou.
E realmente o danadinho do meu Fiat 147 amarelinho era lindo e despertava corações.
Mas, com dó desse ansioso comprador, o aconselhei a trazer um mecânico para depois concretizarmos o negócio.
Era a minha consciência pesando com certeza.
Depois de algum tempo ele apareceu de novo e com o seu mecânico
de confiança.
Os dois olharam de novo o carro e o mecânico aprovou a compra.
Mesmo assim, com a minha consciência pesada e com dó do feliz
ou infeliz comprador, dei a ele um desconto equivalente hoje a R$500,00, avisando que serviria para ajudá-lo em uma eventual despesa.
Ele ficou muito feliz e depois de acertamos tudo, os dois...
ele e o mecânico ligaram o carro e saíram.
Ainda fiquei ali parado, contemplando o danadinho do Fiat 147 seguir
a avenida e depois lá embaixo virar a esquerda, sumindo assim de minha visão.
Um misto de saudade e de alívio senti em meu ansioso coração.
Já não era mais eu o dono dele.
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Fiquei com o carro de meu sonho ou pesadelo mais ou menos
um mês.
Entrei em casa feliz. Com o dinheiro no bolso, em primeiro lugar
fui logo mostrando a minha mãe que havia recuperado o dinheiro.
Dei a ela o que eu devia, fui até a borracharia pagar o borracheiro
e acertei outras dívidas que havia contraído com o tal Fiat 147.
Quando o comprador e o mecânico saíram era mais ou menos 1 hora da tarde.
Já eram 17 horas. Havia acabado de chegar em casa, depois de resolver
todos os problemas.
Tomei um banho relaxante e me senti aliviado, mas não por muito tempo.
O telefone tocou, e não sei por que eu senti que não era uma boa
notícia. Atendi ao telefone ainda enrolado na toalha. Do outro lado da linha estava o in-feliz comprador chorando.
Muito nervoso tentava me explicar que assim que saiu da minha presença o carro rodou uns 10 minutos e parou.
Mas como estava com o mecânico, depois de uma hora o carro foi reparado. Conseguiu rodar mais uns 15 minutos e o carro parou novamente. Havia esquentado e furado o radiador.
Com o dinheiro que havia dado a ele, deu para pagar um guincho e
reparar o furo no radiador.
Ele finalizou que gastou o dinheiro que eu havia dado como desconto
e ainda mais do dinheiro que ele tinha no bolso.
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Mas o pior ele me disse:
- Acabei de conseguir chegar em casa agora, depois de todos os problemas
que tive para conseguir chegar até aqui. Adivinhe o que acabou de acontecer?
Fiquei preocupado, achando que haviam roubado o carro dele.
Então perguntei o que havia acontecido. E ele me respondeu:
- O motor fundiu!
Esse carro foi um verdadeiro problema para mim até depois de vendido.
O rapaz queria que eu o ajudasse no reparo do motor, mas informei a ele que já o tinha ajudado com o desconto muito bom.
Mesmo assim ainda acabei o ajudando com mais R$ 300,00 e lá se foi
o pouco lucro que havia tido que acabou se tornando em um bom prejuízo depois de tudo somado.
Conclusão:
Esse Fiat 147 amarelinho foi um verdadeiro pesadelo para mim
e além de tudo....ELE ERA GAY!
Afinal, bastava entrar mulheres dentro dele para ele não funcionar ou furar os pneus.