O padre chorou
Uma linda manhã de domingo, Ditinho acorda com o galo cantando, toma seu café, coloca sua roupa e sai para brincar. No caminho ao passar pela mercearia Santo Sauro, resolve entrar pois teve uma brilhante idéia... vou pescar.
“Seo Sauro, eu quero uma varinha de pescar completa”.
“Você vai pescar Ditinho? Ou vai levar minhoca nadar”.
“Do jeito que eu pesco bem, acho que vou banhar minhoca mesmo”.
Ditinho pegou os apetrechos e seguiu para o Paraíba, montou sua vara com muito cuidado sentou-se num tronco velho debaixo de uma figueira, por onde flutuavam borboletas, pássaros cantavam e sobrevoavam às margens do rio, colorindo e musicando a pescaria. Ditinho lançou a linha...
O rapazinho sabia que era um péssimo pescador e torcia para continuar sendo, pois quando por ventura fisgava um peixe trazia o bichinho até as mãos e com muito cuidado tirava o anzol e devolvia ao rio... Sempre desejando ao peixinho mais cuidado com o que come...
O ano era 1937, as coisas política que criança não entedia e não fazia questão de entender, naquele dia marcaram a vida de Ditinho...
Sentado à margem direita do rio quando se olha para esquerda avista-se o quartel da legião, que excepcionalmente neste domingo fazia treinamentos variados com os recrutas artilheiros. Foi então que após um tempo pescando Ditinho escutou um forte estampido e em segundos depois uma explosão, e água pra todo lado, e isso se deu por três vezes... Ele se levantou impressionado com o espetáculo.
Muitas outras pessoas que estavam por perto escutaram o estrondo, logo vieram ver o que havia acontecido, após uns minutos do até então espetáculo que Ditinho presenciara uma triste visão tirou o brilho do olhar do menino. Eram peixes e mais peixes desesperados saltando de dentro do rio para terra. Ditinho não havia percebido que os peixes não estavam saltando de dentro para fora do rio eles haviam sido lançados para fora.
Ditinho num ato insano corria de um lado para o outro desesperado pegando peixes de vários tipos e tamanhos e jogando-os de volta para a água...
O padre, sempre sisudo e sério que acompanhava o ocorrido impressionado e curioso desceu até bem próximo ao jovenzinho que corria desesperado socorrendo os bichinhos e falou...
“Ditinho, para com isso menino, você vai acabar se machucando...”.
“Não posso padre...”.
“Porque não pode, que diferença vai fazer pra você um peixe a mais ou a menos nesse rio tão piscoso”.
“Pra mim padre não vai fazer diferença nenhuma...”.
“Então filho, saia daí...”.
“Não padre, o senhor não entendeu, não faz diferença nenhuma pra mim, mas para cada um desses peixinhos faz muito...”.
O padre sempre durão, olhou fixamente para Ditinho que continuava correndo desesperado, e percebeu o gesto de carinho que o menino sem cobranças fazia, o padre tirou o chapéu coçou a cabeça com uma das mãos e com a outra tirou um lenço do bolso e secou uma lágrima que lhe corria pela face...
Naquele domingo a tarde na missa das seis, na hora do sermão o padre contou para os fieis ali presentes, sem dar nomes, a história de um menininho que com fome e um pão na mão, ao presenciar um grupo de crianças pobres, esqueceu a sua própria para saciar a dos semelhantes...