Pangaré Real
Plácido era varredor de ruas, no Paço do Rio de Janeiro lá pelos anos de 1817. O Príncipe o conheceu e logo se afeiçoou rapaz, fazendo dele um barbeiro. Era natural... Logo o transformou em seu companheiro de todas as noites. Plácido tornou-se o amigo de toda hora. Ele mantinha uma caderneta com as contas do patrão Real e sabia que o Príncipe não ganhava muito dinheiro. A sua pensão era ínfima. O Rei era um sovina, já Pedro era o avesso do pai, gastava impulsivamente.
Mais de uma vez, nos seus apuros, recorreu a empréstimos. Joaquim Antônio Alves, vulgo Pilotinho, bodegueiro da rua dos Barbonos, endinheirado e louco para fazer parte do círculo de amigos do príncipe forneceu-lhe, certa ocasião, grande soma em dinheiro para saldar as dívidas contraídas por Pedro, por ocasião de seus presentes românticos para as amantes.
Manuel Sarmento, antigo oficial de secretaria, ajudou-o muitas vezes com grandes quantias. Nada mais restava fazer diante da situação senão pedir empréstimos e mais empréstimos. Foi então que o Príncipe tomou uma decisão...
“Vou ganhar dinheiro a qualquer custo”.
Como um desmiolado ganharia dinheiro? Fácil... Fazer uma sociedade com o Plácido. Planejar e executar, simplesmente.
Feito o trato, ambos, unindo os seus destinos, começaram a negociar. Um Príncipe negociando de parceria com o seu barbeiro.
A coisa que Pedro mais entendia era cavalos, e porque não, compra e venda de cavalos... A dupla quase todas as manhãs iam ver as tropas que chegavam, escolhiam num relance os animais mais belos. Um golpe de vista espantoso! Apontava, pagava e mandava-os para as cavalariças do Paço. Diziam os tropeiros que o moço tinha faro de cavaleiro.
De volta à cidade, o negócio era simples. Uns dias cuidando dos animais, eles encorpavam e o pêlo brilhava. Plácido saía então em busca dos compradores. Uma moleza. Bastava dizer a um daqueles endinheirados...
“O Príncipe resolveu vender um belíssimo animal, é um dos mais admiráveis das cavalariças do Paço. Por que vosmecê não aproveita a ocasião?”.
O interessado não vacilava, via o cavalo, achava-o perfeito e comprava por qualquer preço, e ainda saía honradíssimo, cheio de orgulho, a espalhar pela corte que adquirirá uma montaria real.
A dupla começou a prosperar, ganhavam muito dinheiro. O negócio era muito bom, negócio lucrativo, e dizer que não pensaram nisso antes.
Mas um dia por acaso a história foi parar nos ouvidos de Dom João. Nunca na sua vida o pobre se enfureceu tanto! Aquela doidice do filho deixou-o revoltado, mandou chamar imediatamente o filho. Pedro ao entrar se deparou com o pai de pé, furioso e alterado, o Rei ergueu sua bengala e disse...
“Então, seu canalha, vosmecê a negociar animais! E a negociar de parceria com o barbeiro! Pois vosmecê, não tem vergonha nessa cara? Eu devia... seu cachorro, eu devia enfiar esta bengala na sua cara de lavada”.
Gaguejava de raiva. Diante a revelação, Pedro não negou. Dom João então, mandou buscar Plácido e disse...
“Vosmecê, de hoje em diante, está proibido de se meter em qualquer negócio com o Príncipe. A sociedade está acabada. Lucro se houve, que fique para vosmecê, não admito que meu filho toque num fruto dessa pilantragem”.
E desfez a sociedade. Claro que havia muito lucro no negócio. E o Plácido, o felizardo, ficou com aquele dinheiro todo.