COMUNISTA
Nos anos de chumbo, por qualquer manifestação de cunho comunista as pessoas sofriam consequências físicas e psicológicas. O silêncio e o pavor eram a tônica das pessoas com algum conhecimento do regime vigente da época. Havia os ingênuos que sofriam por falar alguma coisa, que nem sabiam o que era. Foi o que aconteceu com um amigo e colega de trabalho. Contava o fato com tremenda raiva, mas a gente fazia daquela história, motivos para cairmos na gargalhada.
Esse meu amigo tem o apelido de China, além de garçom estava envolvido em movimentos musicais. Tornou-se amigo dos componentes do Clube da Esquina. Contava, todo gabola, de ter Milton Nascimento como assíduo frequentador de sua casa. Aí resolveu dar uma de compositor para um festival em Caeté.
Lá tem um morro, que o povo apelidou de Morro Vermelho. Foi o título da música. Levou-a ao Departamento de Censura da PF. O delegado leu a letra, deu um murro na mesa e perguntou gritando: “Que negócio é este de Morro Vermelho?”. Por mais que tentasse explicar, não convencia o delegado. China voltou várias vezes e o delegado, cansado da insistência deu o ultimato: “Vou mandar te por vermelho, mas é de outra coisa!”. Meu amigo desistiu e sua maior revolta era que sua música iria ganhar o festival de Caeté, afirmava convicto.