ESSAS MÚSICAS MODERNAS

Era pescador, nascido naquelas brenhas de pedra em frente ao mar, em um rancho de pau-a-pique e sapé. Seus pais foram pescadores, tanto o pai quanto a mãe. À vezes ele ficava com a avó materna enquanto os dois saiam mar adentro em busca de peixe para o sustento da família. Ele também, como seus pais, cultivava a banana que servia para comer com peixe, a mandioca para fazer a farinha, e a cana de açúcar para fazer garapa e adoçar o café, que também eles plantavam.Tivera uma carreira de filhos, , alguns morreram ainda novinhos, outros estão lutando com a vida nos cantos do mundo que Deus dá. Só fico consigo sua filha caçula. Sua mulher morrera afogada quando os dois pegaram uma tormenta de vento em alto mar, a canoa virou e os dois caíram na água: ela não sabia nadar, ele que sabia ficou tentando achá-la naquele mundão de água com ondas que pareciam tocar no céu. Infelizmente, depois de muito cansado de procurar, tomou o caminho das praias. Desse dia em diante, quem ficou a cuidar dele foi a filha caçula.

Um dia sua filha disse-lhe que queria morar na cidade, pois lá ela poderia freqüentar uma escola e até arranjar um emprego, nem que fosse de doméstica, porque ele já não podia continuar com aquela vida de pescador e no pesado da lavoura. Ele aquiesceu, fazia tudo que sua filha queria. Foram morar em um barraco, na periferia da cidade, onde havia outros iguais, e as pessoas denominavam de favela.

Depois de alguns meses, vivendo ali, sua filha arranjou um emprego de doméstica e fazia supletivo à noite. Sempre chegava tarde em casa e saía logo cedinho, quase não dava tempo de vê-la. Até que certo dia ele percebeu que sua filha estava grávida. Uma barriga se projetava, apesar de ela andar com roupas apertadas tentando esconder o fato. Chamou-a e perguntou que era o pai, no que ela respondeu que tinha importância quem era o pai, o importante que ela queria ter aquele filho. O pai calou-se, mas dentro dele ficou um desânimo concentrado na idéia de que tudo estava errado, que as coisas já não eram mais como nos tempos dele, ou no de seus pais. Imagine uma moça de família ter filho sem saber quem era o pai. Ou se sabia não queria revelar? Um domingo, a filha passava roupa e ele estava como sempre sentado a ouvir o rádio de pilha que ela lhe dera de presente. Enquanto passava ela cantava:

– Rock’nroll lullaby...

– Então o nome dele é Roque?

– O que é que você está resmungando ai, velho?

– Não tô resmungando nada não. Tô apenas tentando intendê o que vosmicê ta cantando, fia.

– E o que é que o senhor acha que eu estou cantando, velho?

– Você ta dizendo aí que o Roque errou, que o Roque errou, mas se o Roque tivesse errado, você não tava buchuda desse jeito.

Joban
Enviado por Joban em 30/11/2006
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