QUEM NUNCA ERROU... NÃO CONHECE O PODER DAS BORRACHADAS (PARTE 3... E ÚLTIMA)
“Será mais fácil usar uma foice parecida com as de muitas ali que cortam cana. E o bom também é que para cortar cana é necessário usar luvas. Um golpe rápido no pescoço vai derrubar esse safado de uma vez por todas!”
(...)
--- ENTENDEU BEM O QUE VOCÊ VAI FAZER, NÉ? AGORA VÁ PRA CASA E NÃO CONTE A NINGUÉM O QUE COMBINAMOS. VOCÊ DEVE GUARDAR NOSSO SEGREDO DURANTE UM MÊS, OU ATÉ AS NOTÍCIAS DA MORTE DESSE SAFADO SE ACALMAREM. VOCÊ CONFIA EM MIM?
Nardinho guarda em sua memória os conselhos desse “desconhecido”, ele sabia que era a única forma de se salvar de todos que poderiam acusá-lo. Ele tinha seus inimigos: Tuninho e Juninho que só esperariam um bom motivo para se vingar de seus “risos” e testemunhos borrachísticos. Sr. Papai, apesar de ser muito rígido, tinha prazer em castigar os filhos, não se sabe porquê. E a danada da borracha, que está lá no cantinho dela, aflita pra queimar o couro dos filhos do Sr. Papai. A única que se salvaria seria a Dona Mamãe que sempre estava posta a defendê-los e até mesmo levar borrachadas para não ver um de seus três filhos chorar.
Enquanto andava nos trilhos do trem, o menino dava graças a Deus por ter encontrado esse salvador que lhe dera uma solução tão boa para não ser acusado desse assassinato. Ele agora sabia que não foi sua foice que matou o pai do Calau, seu melhor amigo. O que lhe deixava preocupado era saber quem foi o verdadeiro assassino (seu “amigo-desconhecido” lhe dissera).
Depois de todo o episódio daquele jantar e em aceitar a chantagem dos irmãos, Nardinho começou a perceber que a memória de seus irmãos e do povo da cidade, durava o tempo do luto do falecido. Um mês. Fatos guardados em sua cabecinha, são tristes e ao mesmo tempo alegres, podendo mudar tudo o que supostamente está certo.
Para você, querido leitor entender o tempo presente, deverá então voltar a história para doze anos atrás; quando Tuninho (o mais velho) e Juninho (o do meio) eram nascidos, mas Nardinho, nem tinha consciência de que viria a esse mundo.
“Contam os mais fofoqueiros, que em certa cidade viviam felizes a bela jovem Maria do Socorro e o homem mais cobiçado e corajoso José João. Tinham dois filhos que diziam amar a tudo nesse mundo. A família era completa e perfeita, bem como a união que reinava na casa.
Porém, nem tudo é felicidade. E José João nunca desconfiava e nem tão pouco sabia o significado de um ‘casamento arranjado’ (isso é quando a filha de uma família é prometida em casamento para o filho da outra família por dívida de dinheiro ou favores). Essa então seria a vida da pobre Maria do Socorro que desde moça e sabida de seu destino, resolveu tentar a sorte em outra cidade, a cidade onde encontrou o seu amor e a felicidade não-prometida.
Contam ainda os mais fofoqueiros, que chegou nessa mesma cidade um homem já de certa idade com o nome de Claudionor, já se apresentando carinhosamente como ‘Ruivão’ e estava lá a procura de seu maior amor: uma moça chamada MARIA.
‘Maria? Mas Maria de quê seu moço! Existem tantas Marias nesse mundo.’
E para surpresa da boca pequena, a descrição da Maria que Ruivão deu, é a mesma Maria de José João. Melhor nem se meter para não arrumar mais confusão!
Ruivão foi levado até a casa de Maria de José João. O marido da moça estava trabalhando e seus filhos pequenos na escola. Ao abrir a porta da casa e logo após Ruivão se apresentar como o tal noivo pretendido da Maria fujona, o coração da pobre-diaba bateu mais forte pela beleza do rapaz e foi ali mesmo na casa e na cama do José João que os dois se atracaram fazendo aquelas coisas que só se faz com as portas bem fechadas.
Esse novo rapaz, esse tal Ruivão, mudou-se de mala e cuia para a cidade onde Maria morava e entre visitinhas hoje, visitinhas amanhã e depois, Ruivão passou a ser o mais novo melhor amigo do José João: Pescavam juntos, trabalhavam juntos. Dividiam piadas, risadas e... outras coisas.
Para Maria do Socorro, tudo estava bem. Em silêncio, podia ter ao mesmo tempo seu ‘belo-ruivão-antes-prometido’ e também ‘José-João-o-mais-cobiçado-agora-marido’.
Felicidade para o casal-casado quando a boca pequena disse para José João que ouviu Maria comentar que teria seu terceiro filho. Infelicidade em descobrir que depois de nove meses, o menino que nasceu escondido no canavial era ruivinho e cheio de sardas. O pobre José João chorou tanto ao saber que Maria ‘abortara’ seu terceiro herdeiro e do pequeno ‘natimorto’ nunca mais se ouviu falar do paradeiro.
Casal apaixonado é assim mesmo: perde-se um, mas tenta-se de novo. E lá estava Maria de Bucho Cheio para mais um comentário do povo. Dessa vez o terceiro José nasceu em casa mesmo. Para Maria, era a sorte de seu destino calculado a esmo.
Lembra daquela borrachada antes contada? Foi dada pelo amado José João, quando soube da boca pequena as aventuras de sua bandida amada. E prometeu Maria do Socorro uma vida mais digna, seguiria com a família na linha do trem a outra cidade. Deixaria para trás a boca pequena, o ruivinho que crescia (sem mãe e criado pelo pai, por aí). Uma nova história, nessa nova cidade no interior de São Paulo chamada Maracaí.
Os fantasmas do passado perseguiram Maria e José dez anos depois. Em sua nova cidade, mais uma novidade: O dono do canavial contratou um homem trabalhador e valente. Seu nome era Claudionor, o Ruivão. Vinha com seu filho, um menino simpático de cabelos-vermelhos e a ferrugem na cara sorridente.
Para desespero de Maria sem Socorro, José Arnaldo ‘o Nardinho’, e Claudemir ‘o Calau’, construíam a cada ano que passava uma linda amizade, o que causava no Ruivão e no José João uma grande rivalidade.
Os pequenos ‘pareciam irmãos’ do tanto que se davam bem. E para não criar mais boca pequena nessa nova história, manter tudo em segredo é o que melhor conselho que se tem.”
(...)
Nardinho guardou por toda a sua vida então dois segredos: de que sua mãe cortou o pescoço de seu fantasma do passado e de que seu melhor amigo é seu irmão. Ah, mas isso ele já sentia há tanto tempo no seu coração, que já não era novidade.
Voltou a comer doce e mistura no arroz e feijão. E sabe o que aconteceu com Tuninho e Juninho? Levaram oito borrachadas cada um por terem chantageado o inocente irmão.
Mas essas, quem deu foi a Dona Mamãe.
SP 21/06/11
( REVISADO PELA MINHA AMIGA-IRMÃ CÉLIA MARIA DELFINO)
“Será mais fácil usar uma foice parecida com as de muitas ali que cortam cana. E o bom também é que para cortar cana é necessário usar luvas. Um golpe rápido no pescoço vai derrubar esse safado de uma vez por todas!”
(...)
--- ENTENDEU BEM O QUE VOCÊ VAI FAZER, NÉ? AGORA VÁ PRA CASA E NÃO CONTE A NINGUÉM O QUE COMBINAMOS. VOCÊ DEVE GUARDAR NOSSO SEGREDO DURANTE UM MÊS, OU ATÉ AS NOTÍCIAS DA MORTE DESSE SAFADO SE ACALMAREM. VOCÊ CONFIA EM MIM?
Nardinho guarda em sua memória os conselhos desse “desconhecido”, ele sabia que era a única forma de se salvar de todos que poderiam acusá-lo. Ele tinha seus inimigos: Tuninho e Juninho que só esperariam um bom motivo para se vingar de seus “risos” e testemunhos borrachísticos. Sr. Papai, apesar de ser muito rígido, tinha prazer em castigar os filhos, não se sabe porquê. E a danada da borracha, que está lá no cantinho dela, aflita pra queimar o couro dos filhos do Sr. Papai. A única que se salvaria seria a Dona Mamãe que sempre estava posta a defendê-los e até mesmo levar borrachadas para não ver um de seus três filhos chorar.
Enquanto andava nos trilhos do trem, o menino dava graças a Deus por ter encontrado esse salvador que lhe dera uma solução tão boa para não ser acusado desse assassinato. Ele agora sabia que não foi sua foice que matou o pai do Calau, seu melhor amigo. O que lhe deixava preocupado era saber quem foi o verdadeiro assassino (seu “amigo-desconhecido” lhe dissera).
Depois de todo o episódio daquele jantar e em aceitar a chantagem dos irmãos, Nardinho começou a perceber que a memória de seus irmãos e do povo da cidade, durava o tempo do luto do falecido. Um mês. Fatos guardados em sua cabecinha, são tristes e ao mesmo tempo alegres, podendo mudar tudo o que supostamente está certo.
Para você, querido leitor entender o tempo presente, deverá então voltar a história para doze anos atrás; quando Tuninho (o mais velho) e Juninho (o do meio) eram nascidos, mas Nardinho, nem tinha consciência de que viria a esse mundo.
“Contam os mais fofoqueiros, que em certa cidade viviam felizes a bela jovem Maria do Socorro e o homem mais cobiçado e corajoso José João. Tinham dois filhos que diziam amar a tudo nesse mundo. A família era completa e perfeita, bem como a união que reinava na casa.
Porém, nem tudo é felicidade. E José João nunca desconfiava e nem tão pouco sabia o significado de um ‘casamento arranjado’ (isso é quando a filha de uma família é prometida em casamento para o filho da outra família por dívida de dinheiro ou favores). Essa então seria a vida da pobre Maria do Socorro que desde moça e sabida de seu destino, resolveu tentar a sorte em outra cidade, a cidade onde encontrou o seu amor e a felicidade não-prometida.
Contam ainda os mais fofoqueiros, que chegou nessa mesma cidade um homem já de certa idade com o nome de Claudionor, já se apresentando carinhosamente como ‘Ruivão’ e estava lá a procura de seu maior amor: uma moça chamada MARIA.
‘Maria? Mas Maria de quê seu moço! Existem tantas Marias nesse mundo.’
E para surpresa da boca pequena, a descrição da Maria que Ruivão deu, é a mesma Maria de José João. Melhor nem se meter para não arrumar mais confusão!
Ruivão foi levado até a casa de Maria de José João. O marido da moça estava trabalhando e seus filhos pequenos na escola. Ao abrir a porta da casa e logo após Ruivão se apresentar como o tal noivo pretendido da Maria fujona, o coração da pobre-diaba bateu mais forte pela beleza do rapaz e foi ali mesmo na casa e na cama do José João que os dois se atracaram fazendo aquelas coisas que só se faz com as portas bem fechadas.
Esse novo rapaz, esse tal Ruivão, mudou-se de mala e cuia para a cidade onde Maria morava e entre visitinhas hoje, visitinhas amanhã e depois, Ruivão passou a ser o mais novo melhor amigo do José João: Pescavam juntos, trabalhavam juntos. Dividiam piadas, risadas e... outras coisas.
Para Maria do Socorro, tudo estava bem. Em silêncio, podia ter ao mesmo tempo seu ‘belo-ruivão-antes-prometido’ e também ‘José-João-o-mais-cobiçado-agora-marido’.
Felicidade para o casal-casado quando a boca pequena disse para José João que ouviu Maria comentar que teria seu terceiro filho. Infelicidade em descobrir que depois de nove meses, o menino que nasceu escondido no canavial era ruivinho e cheio de sardas. O pobre José João chorou tanto ao saber que Maria ‘abortara’ seu terceiro herdeiro e do pequeno ‘natimorto’ nunca mais se ouviu falar do paradeiro.
Casal apaixonado é assim mesmo: perde-se um, mas tenta-se de novo. E lá estava Maria de Bucho Cheio para mais um comentário do povo. Dessa vez o terceiro José nasceu em casa mesmo. Para Maria, era a sorte de seu destino calculado a esmo.
Lembra daquela borrachada antes contada? Foi dada pelo amado José João, quando soube da boca pequena as aventuras de sua bandida amada. E prometeu Maria do Socorro uma vida mais digna, seguiria com a família na linha do trem a outra cidade. Deixaria para trás a boca pequena, o ruivinho que crescia (sem mãe e criado pelo pai, por aí). Uma nova história, nessa nova cidade no interior de São Paulo chamada Maracaí.
Os fantasmas do passado perseguiram Maria e José dez anos depois. Em sua nova cidade, mais uma novidade: O dono do canavial contratou um homem trabalhador e valente. Seu nome era Claudionor, o Ruivão. Vinha com seu filho, um menino simpático de cabelos-vermelhos e a ferrugem na cara sorridente.
Para desespero de Maria sem Socorro, José Arnaldo ‘o Nardinho’, e Claudemir ‘o Calau’, construíam a cada ano que passava uma linda amizade, o que causava no Ruivão e no José João uma grande rivalidade.
Os pequenos ‘pareciam irmãos’ do tanto que se davam bem. E para não criar mais boca pequena nessa nova história, manter tudo em segredo é o que melhor conselho que se tem.”
(...)
Nardinho guardou por toda a sua vida então dois segredos: de que sua mãe cortou o pescoço de seu fantasma do passado e de que seu melhor amigo é seu irmão. Ah, mas isso ele já sentia há tanto tempo no seu coração, que já não era novidade.
Voltou a comer doce e mistura no arroz e feijão. E sabe o que aconteceu com Tuninho e Juninho? Levaram oito borrachadas cada um por terem chantageado o inocente irmão.
Mas essas, quem deu foi a Dona Mamãe.
SP 21/06/11
( REVISADO PELA MINHA AMIGA-IRMÃ CÉLIA MARIA DELFINO)