Foi porque Deus quis?
Grávida do sétimo filho, sem dinheiro, sem estudo, sem alegria e sem futuro, sua desculpa para todo "menino" que nascia era "foi porque Deus quis". Em sua rua todos zombavam dela, ficou sendo conhecida por todos como "Maria parideira". Todo ano ela tinha um filho e começou cedo, com treze anos colocou o primeiro ao mundo, uma criança cuidando de outra criança, seus pais a expulsaram de casa por um falso moralismo, afinal teriam eles esquecido o passado, a história da mãe dela se repetia, seu maior exemplo, o espelho do que ela seria em seu futuro incerto onde a culpa de todas as "coisas" era colocada em cima de Deus. "Foi porque Deus quis", ela repetia sem cansar, os momentos bons ou ruins de sua vida eram feitos da vontade de Deus tão somente, ele era quem sabia de todas as coisas, sim ele sabia, mas o que ela não enxergava é que a vontade de Deus não é a mesma que a nossa e que nós mesmos temos a responsabilidade de decidir nosso destino, para isso temos o livre arbítrio para aprender o certo e o errado e não persistir nos erros, mas parecia que ela não via como um erro ver seus filhos passando dificuldade, sem ter ao menos um pão velho no café da manhã, ela achava bonito ter "bebês novinhos" como ela dizia e muitas vezes até esquecia dos mais velhos, eles podiam se virar, eram crianças e as pessoas têm piedade de "gente pequena", ela achava normal o fato dos seus filhos serem dignos de pena. "Os vizinhos ajudam a gente porque Deus vê o nosso sofrimento" ela dizia, Deus via mais não compreendia tal qual um pai que sempre educou bem seu filho e o vê seguindo um caminho nada convencional, apenas o aceita porque o ama de um modo superior, ela realmente sofria pelas dificuldades, mas não era capaz de mover uma palha para mudar aquela situação. Os anos passavam e a quantidade de filhos aumentava "porque Deus quis que viesse mais um", a culpa não era de Deus e se ela realmente caísse em si teria notado que não foi Deus quem quis aquela vida para ela, era tudo culpa da ignorância.