Tarde Demais
Alícia depois de anos apaixonada sem declarar o seu amor, resolveu que naquela manhã fria de inverno, faria isso, independente da resposta do ser amado. Se ele dissesse sim, seu coração pularia de alegria; se dissesse não, também não tinha mais nada a perder. Qual o problema de levar um fora? pior era ficar nessa situação, cheia de ilusões, dúvidas e incertezas.
Arrumou-se lindamente para encontrar-se com ele e finalmente se declarar. Há 2 anos, ela ia toda a semana até a livraria e gastava uma quantia razoável de seu salário com livros, porque ele era vendedor e dava atenção a ela; explicando sobre lançamentos, autores e novidades no universo literário. Ela perdia-se no olhar dele e viajava na doce voz do seu amado. Ele nunca percebeu que ela queria ser mais do que uma cliente especial.
Tinha reservado um livro de artes com ele, e ele a esperaria pela manhã conforme tinham combinado.
Alícia resolveu ir a pé, pois estava tão eufórica que tomar um ônibus a deixaria entendiada. Caminhava pela rua, com um sorriso no coração, sentia-se livre, esperançosa e feliz. Estava tão distraída que não viu quando um carro atravessou a pista e subiu a calçada, o choque foi violento e Alícia caiu já morta.
Lucas estava angustiado, Alícia nunca atrasou, será que aconteceu algo? justo naquele dia que ia se declarar a ela. Não suportava a ansiedade. Ficou triste o dia todo. Esperou pelo outro dia. Pela manhã quando saiu para trabalhar, viu a manchete no jornal sobre o atropelamento e viu a foto de Alícia estampada na primeira página, quase teve um infarto de tanta tristeza. Saiu desesperado da banca e foi a praça chorar, negando-se a si mesmo a notícia que tinha matado uma parte dele.
Passou o dia chorando na praça como criança. Era tarde demais. Nada traria Alícia de volta. Pensou em todas as vezes que ela ia até a livraria e ele nunca teve coragem de dizer o quanto a queria e gostava dela..