Barrigudinha

Das pedras vermelhas da Chapada Diamantina, na região do Machombongo, um platô no alto do chapadão, nasce um fio d'agua de cor escura, cor de "coca-cola" (devido à grande quantidade de minério de ferro do seu sub solo), que vai cortando aquele planalto, lentamente, deslizando entre as sempre-vivas, sumindo derrepente em pequenas grunas e reaparecendo metros depois, cada vez mais volumoso, até chegar à beira do penhasco que rasga a Serra dos Gerais, no noroeste da Bahia. Neste ponto, já não é mais apenas um riacho, mas, um sem número de saltos e quedas que se espalham por centenas de metros e convergem para um grotão, uma caverna que "engole" toda aquela água, que se pode sentir a vibração sob as rochas, por muitos e muitos metros até jorrar magníficamente na Cachoeira da Barrigudinha... e aqui começa a nossa estória...

A Barrigudinha é um salto de mais de dez metros de altura que bate violentamente nas pedras avermelhadas formando esculturas incríveis, que dão margem à interpretações variadas a depender do ponto de vista de quem aprecia. Numa dessa formas esculpidas pelas águas surge a figura indiscutível de uma mulher grávida, bem barrigudinha, sentada às margens do poço encantado, cavado na rocha pela força da cahoeira...

A Barrigudinha tornou-se um ponto de visitação, não só dos "geraiseiros" (gentílico do povo daquele lugar), mas também de muitos turistas que se arriscavam por aquelas trilhas íngremes, depois de atravessar o caldaloso Rio Una. O inusitado é que, coincidência ou não, todas as moças virgens, e apenas as virgens, que tocaram na pedra da Barrigudinha, assim também ficaram... barrigudinhas... e essa é, até hoje, a desculpa das moças que aparecem grávidas, derrepentemente, lá no arraial do Rumo.

A culpa desse "fenomeno" é sempre da Barrigudinha, pois o pai nunca aparece... provavelmente, fruto do romance entre as "ingênuas" nativas e os "desbravadores" forasteiros...

Valdívio Correia Junior, 14/06/2011