Qual é o tamanho do seu preconceito?
A garota sempre estava sozinha no pátio durante o intervalo do colégio e nas aulas, sempre só e triste, ninguém tinha a ousadia de lhe perguntar como estava, era como se ela não existisse para ninguém, por vezes ela chorava solitariamente ,ninguém percebia, mas certa vez uma mocinha de sua idade que havia acabado de entrar na escola decidiu começar uma amizade, a garota se animou e parecia até mais feliz só que quando essa nova amiguinha "conheceu a história da menina" logo se afastou e mesmo gostando da pobrezinha não podia se aproximar dela, seus pais a haviam proibido. A garota era filha de um presidiário, seu pai vendo a família passando fome teve de tomar uma atitude, não conseguia emprego por não ter "boa aparência", tentou pedir ajuda a uma igreja e sempre arranjavam uma desculpa, hora a assistente social não estava lá, hora ele não podia pegar uma cesta porque morava longe. Ele perambulava as ruas pedindo ajuda e sempre ouvia das pessoas "vagabundo", "mentiroso, vai gastar o dinheiro que está pedindo com cachaça", ele nunca havia bebido na vida, o homem não vendo solução escondeu algumas bolachas e um leite em sua jaqueta, roubou porque quem tem fome não consegue esperar e quem tem filhos não consegue velos chorar de fome, o segurança do mercado viu o que o homem fez e lhe atirou na perna, os biscoitos caíram no chão e se esparramaram pelo mercado, o segurança do mercado não satisfeito começou a chutar o homem e apontou uma arma engatilhada em sua cabeça enquanto ligava para policia, o homem tentou fugir e o segurança tentou segura-lo e atirar sobre ele de novo o homem afastou a arma de si e ao fazer isso ela disparou sobre o segurança, quando a policia chegou não teve dúvidas, a culpa com certeza era do homem pobre de má aparência , era óbvio que havia sido ele que tinha matado o trabalhador, pai de família que "nunca fez mal para ninguém". Na escola o telefone sem-fio havia espalhado que o pai da garota era traficante, que ele havia matado quinze pessoas só em um ano e estava foragido da policia, que a família inteira da garota era desestruturada e usuária de drogas e que a garota tinha até o vírus da Aids, era bom nem ficar perto de "gente assim", diziam as más línguas que não podia nem sentar no mesmo lugar que uma "dessas pessoas" sentasse porque se não era capaz de pegar a doença. Os anos passaram e o preconceito e mentiras inventadas aumentavam a cada dia, quase nunca dirigiam a palavra para menina e quando faziam isso era para lhe chamar de "filha de ladrão", ou "filha de matador"; a garota se calava, não sei se era porque já havia se "conformado" com os maus tratos ou porque sabia que nada do que falasse iria mudar a visão pré-existente de seus colegas, por isso ela preferia se tornar quase que imperceptível, esperando sempre por algum novo amigo que pudesse escuta-la ao menos um pouco, alguém que por algum momento na vida gostasse realmente dela, não importa se depois esse alguém também fosse embora.