O OURO DO CAPETA

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Recontando Contos Populares

 

Conta-se que vivia numa região do pantanal, um viúvo bastante velho e sem forças para trabalhar, que tinha três filhos jovens e muito obedientes que faziam todo o trabalho da família, inclusive o da lavoura. Não se ter filho na roça é um prejuízo.

Um dia, quando os irmãos trabalhavam na roça, apareceu um homem, vindo não sei de onde, que lhes disse:

— Meninos, que trabalho penoso é esse de roçado!

— É, a gente tá penando aqui, porque nosso pai tá bastante avançado na idade, coitado, e não pode mais empunhar a enxada.

O homem pensou um pouco e disse:

— Vocês estão perdendo um tempo precioso! Saiam pelo mundo, procurem outro trabalho. Se ficarem junto de seu pai a vida toda, não vão conseguir nada. Ele dá um jeito de arrumar alguém para cuidar da sua velhice.

Após essas palavras, o estranho homem, despediu-se dos meninos e caiu na estrada.

Os rapazes refletiram sobre as palavras ditas pelo visitante e concluíram que ele estava certo:

— A gente não vai conseguir nada se ficarmos aqui só trabalhando pra tratar de nosso pai. Vamos embora. Nosso pai dá um jeito.

Então os três jovens partiram; e, passando por uma mata, ouviram alguém gritar:

— Eh, mundão! Se vocês querem ver o ouro do capeta, venham aqui!

— O que acham? Vamos lá pra ver como é que é esse ouro do capeta!

— Está bem! – responderam os dois irmãos.

Caminharam em direção da voz que os chamava, até que, se defrontaram com o mesmo homem com o qual haviam conversado na roça. Quem poderia supor que aquele homem era o capeta.

— Vejam, esta pedra de ouro é para vocês. Se tivessem ficado com seu pai, teriam conseguido esta fortuna? De modo algum. Mas agora, tudo isto é de vocês. E dizendo isso, o capeta desapareceu.

Os rapazes tentaram insistentemente apanhar a pedra, que estava presa ao chão, inútil; nenhum deles conseguia. Depois de várias tentativas frustradas, um deles teve uma ideia:

— Se a gente tomasse uma cachaça, por certo, conseguiríamos levantar essa pedra.

— Pois não é que é mesmo. Olha, tem uma venda aqui perto. Vamos a dois, enquanto um fica aqui vigiando a pedra.

De modo que, enquanto os dois estavam a caminho da venda, o outro, que ficou vigiando a pedra, bolava um plano para ficar com todo ouro: "Quando eles chegarem aqui com a cachaça, boto fogo neles, bebo a cachaça e fico com a pedra só para mim".

Perto do botequim, um dos moços sentiu vontade de verter água e entrou no mato, enquanto o outro foi depressa até a venda, comprou a cachaça e um veneno, que misturou à bebida. Voltou e encontrou-se com o irmão, antes que ele pudesse chegar à venda.

Oé, sô! Cê já foi lá?

— Já fui lá, já comprei e já to de volta. Toma aqui um pouco.

— E deu a garrafa ao irmão, que tomou, com vontade, uns goles de cachaça, cuspiu grosso, limpou os beiços com as costas da mão e caiu morto no mesmo instante. O outro imediatamente apanhou a garrafa, pôs a tampa, guardou-a no bornal e seguiu, planejando: "Chegando lá, dou a cachaça ao outro mano e, quando ele cair, fico com a pedra".

Enquanto isso, o irmão que ficou vigiando a pedra pensava a mesma coisa:"Logo que eles chegarem aqui, deito fogo neles, bebo a cachaça e fico com a pedra para mim".

Então, quando o jovem foi chegando com a cachaça, o irmão ateou-lhe fogo, matando-o. Em seguida lançou-se sobre o bornal, apanhou a garrafa e sorveu de um só gole a cachaça envenenada, caindo estirado com a garrafa na mão. E, assim, o capeta arrebanhou três almas ambiciosas.

Bem diz o ditado, meu patrão, a ambição é o diabo. ®Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 10/06/2011
Reeditado em 12/06/2011
Código do texto: T3026915