Coisas de concurseiro

Decidi estudar pra concurso (tardiamente, minha mãe diria). Fiz cursinho e tudo. Só depois foram me contar que era daqueles concursos que se fosse perguntado na rua quem o faria, até o vigia dos carros levantaria a mão.

Pois bem, lá fui eu pra prova do primeiro dia. Era a de nível superior, o que quer dizer que já não fui com muita responsabilidade, porque não era a minha praia, ainda.

Todo mundo da sala tem seu nome. Você passa a achar sua mãe sem criatividade. E o fiscal evita a fadiga na hora dos recados, todo mundo tem um nome só,

Fiz a prova twittando, ou seja, cada situação peculiar na prova eu anotava pra depois compartilhá-la.

Tinham 3 fiscais na minha sala. T-R-Ê-S. Concentração zero.

Uma moça inventou de levar jujubas, mas ninguém tinha ensinado a ela como abrir o saquinho. Não satisfeita com o barulho, ela parou pra olhar as calorias. É mole?

Ah, e antes que me esqueça, deixo um aviso: Em algum momento da prova todo mundo resolve lanchar, menos você. Quase estendi uma toalha pras pessoas colocarem seus lanches e fazerem logo um lanche comunitário, igualzinho um que fui na 4ª série.

Um dos fiscais no início da prova recolheu aqueles sacos pra guardar os celulares. E não é que ele me resolveu devolvê-los DURANTE a prova?! Fiquei indignada que nem disfarcei. Minha concentração já tinha ido passear mesmo.

E o que dizer das frases motivadoras da banca examinadora a serem transcritas para a folha de respostas? "A parte mais importante do progresso é o desejo de progredir". Pensei: "Tô bem mais feliz agora, já que desejo progredir!"

Deviam proibir o salto alto. O "poc, poc, poc" já explica. Que nervoso.

Estava nítido que o ar condicionado ia alçar vôo quando acabasse o tempo. Quem sabe ao final ele fosse buscar minha concentração.

E tinha a dor de barriga, que poderia ter sido causada pelo nervosismo, pela comida de fast-food que tive de engolir sem mastigar, pelo chocolate que sempre indicam que se coma na hora da prova, pelo energético que me foi necessário, ou por nenhuma das alternativas anteriores. Podia ser só um verme. Fato é que quando fui ao banheiro E tive a audácia de reparar no xixi da menina do lado. Dois minutos de xixi torrencial. Coitada dela, devia estar segurando 3 dias de urina.

Música. Sempre me aconselharam a escutar músicas do meu gosto no dia, pra relaxar. Mas o que aconteceu é que eu coloquei na rádio, fui ouvindo no caminho pra prova. Aí sem querer mudei pra outra rádio bem na hora da música "Vou não, quero não, posso não, minha mulher não deixa não...". E é claro que é essa música, dotada de repetições, que ficou na minha cabeça durante a prova. Chupa essa manga.

Pra tentar esquecer a música que estava na cabeça, passei a reparar nos candidatos. Umas coçando a cabeça, outras mudando as páginas desesperadamente, e um cofrinho. Ninguém tinha avisado a colega da frente que não gosto de cofrinho. Chato isso.

Respondi todas as questões. Quando achei que ia me livrar, vi as benditas das bolinhas pra marcar. Quem foi a peça rara que inventou que em múltiplas escolhas deve-se pintar bolinhas? Acho que um "x" já dá pra entender qual opção escolhi.

Resultado: Vai sim ter alguém que vai fazer barulho com um saquinho de balas, alguém com o sapato barulhento, alguém com um cofrinho HORRÍVEL pra te distrair e te dar nojo. Todo mundo vai ter o seu nome e você vai perceber que vocês de nomes iguais lancham na mesma hora. Vai ter um fiscal que nao sabe o que fazer lá só pra te irritar! E nao reclame das bolinhas, poderia ser pior: tem umas num formato de retângulo com os cantos arredondados, acho que são pra testar as habilidades motoras dos candidatos.

Torça para nao ter dor de barriga, torça pra que a música que vai ficar na sua cabeça seja boa e pra que a frase motivadora da banca examinadora REALMENTE te motive!!

No mais, que tudo pelo menos vire um texto!