UMA VISITA MUITO AGRADAVEL

Meu avo sempre se gabava por nunca ter colocado uma gota sequer de álcool na boca porem o vicio do fumo o acompanhava desde a juventude e até aquela data, com mais de noventa anos de idade, não rejeitava um cigarro de palha feito por um bom fumo de corda mas especialmente naquele dia ele estava muito jururu. Nunca em sua vida havia pensado em parar de fumar mas devido as perdas da habilidades manuais e fragilidade em decorrência do peso da idade, as tarefas rotineiras se tornaram mais difíceis tanto é que por duas vezes colocou fogo no colchão de palha em que dormia e por pouco não incendiou a casa toda, pois tinha o habito de tirar uma modorninha no meio do dia, geralmente após o almoço e como dizia ele, dominado pelo bendito vicio, acendia o cigarro ao deitar e acabava cochilando e incidente acontecia, alem do que agora vivia com as camisa toda cheia furinhos provocado pelas fagulhas do cigarro, visto não ter as destrezas e percepções da juventude e por estar mais lerdo e mais descuidado, levou a tomar uma decisão seria em sua vida: Deixar de Fumar.

Com isso vovô passou o dia amuado, debaixo das sobras das arvores espalhadas pelo terreiro, inquieto e perambulando de uma para outra, porem nada estava bom, faltava alguma coisa, afinal de conta foi uma vida toda de fumante e agora toma esta decisão drástica, parece que a vida nem tinha mais sentido até que uma coisa inesperada acontece naquele finalzinho de tarde. Os fieis cachorros que acompanhavam o ancião de uma sombra para outra, derrepente, levantam a orelhas, farejam algo estranho no ar, levantam e vão verificar, é uma charrete de aluguel que chega ao sitio e em instantes alguém bate palmas no portão de entrada da propriedade acuados pelos velhos cães que latem muito mas permanecem a distancia obedecendo a voz de comando da mulher que ralhe com eles ao mesmo tempo que se apresenta para as boas vindas e o visitante a cumprimenta cordialmente:

__ Boa Tarde É aqui que mora Damião?

A mulher nem tem tempo de responder quando vovo que a seguia muito curioso, vem e depara com senhor já de idade avançada a sua frente:

__ Não é possível, homem de Deus, é você Napoleão, meu irmão.

Os dois se abraçam e vovo faz as honras da casa, haja visto que meu pai estava na lida da lavoura, convida gentilmente o irmão recém chegado para entrar em casa, convite reforçado pela minha mães que ficou conhecendo o tio após as apresentações e instantes depois, já acomodados dentro de casa, ferram no papo recordando águas passadas e colocando os assuntos em dia.

Não demorou muito mamãe trouxe uma bandeja com algumas bolachas de nata e duas xícaras de café passado na hora, o que ambos saborearam deliciosamente, sendo que na seqüencia e num ato tão espontâneo, Napoleão sacou da algibeira o canivete, uma palha já preparada e um belo pedaço de um cheiroso fumo de corda, ofereceu ao irmão que retrucou negativamente.

__ Ahhh Napoleão, parei de fumar!

__ Ora meu irmão, parou porque? O cigarro estava fazendo mal?

Com água na boca de tanta vontade fumar, vovô explicou o motivo de sua conduta:

__ Ah Napoleão, não que o cigarro estivesse me prejudicando a saude mas eu ando muito distraído, veja bem, por duas vezes caiu faísca no colchão e eu não percebi, ainda bem que viram a fumaceira no quarto a tempo de evitar um mal maior, senão lá se ia o colchão, a cama e a casa do compadre, se eu não fosse junto também, por causa disso decidi não fumar mais.

Terminada a narração, Napoleão perguntou:

__ Mas é preciso fumar no quarto homem de Deus? Você pode muito bem fumar aqui na varanda ou lá fora, debaixo de uma sombra

Vovô assuntava o irmão que no ardor da conversa em enquanto picava o fumo, indagou:

__ Faz Tempo que deixou de fumar?

__ Fumei o meu ultimo cigarro hoje cedo, e não coloquei mais esta porcaria na boca até agora

Napoleão deu uma gostosa gargalhada e completou

__ Ora irmão, deixe de bobagem, quem fumou uma vida inteira, agora no final da vida, vai parar de fumar, isto até e um pecado homem, toma ai o fumo e o canivete, experimente este é um Tiête dos bons.

Tiête era uma famosa marca de fumo na época e era exatamente o que vovô estava precisando naquele momento e não encontrando justificativa contra o argumento do irmão simplesmente murmurou:

__ Sabe que você tem razão.

Os dois irmãos entraram noite adentro bebendo café, fumando cigarro de palha e ferrados no papo, remoendo o passado.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 01/06/2011
Código do texto: T3008015
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