064 - PEDRO MIJÃO...
Festa na fazenda, Pedro e Maria noivando, os pais dos noivos felizes com aquela promessa de casamento, o rapaz tinha todas as boas qualidades que se espera de um homem, a moça nem se fala, fogueira acesa, alianças nos dedos, pedido de casamento aceito, foguetório e viva os noivos!!
Pela primeira vez Pedro e Maria desfilando de mãos dadas, em seus rostos só contentamento.
Dançaram em volta da fogueira, se aqueceram na fogueira, minha mãe sempre dizia que quentura de fogueira faz qualquer um mijar na cama, comeram batata assada, beberam quentão, noite friorenta de junho, vento tremulante, e lá estava o Pedro aquecendo suas mãos no calor da fogueira. Noite alta, pelas tantas todos os convidados se retirando, Pedro que nunca tinha dormido na casa do sogro, relutantemente aceitou o convite, não resistiu as súplicas da noiva que insistia que dormisse em sua casa.
Melhor seria se o Pedro tivesse se mandado pra bem longe, mas não há homem que resista a um pedido choroso de uma mulher.
Depois de tomar muito quentão, abrasado na caloria no volteio da fogueira, cansado Pedro foi dormir.
Madrugada se despedindo, galo cantando, nosso noivo acorda e tem uma súbita e estranha sensação que choveu na cama, que talvez tenha chovido lá fora e por alguma telha quebrada gotejou sobre ele. Quisera que assim fosse, mas a realidade era outra, ele tinha feito xixi na cama, se tivesse um revolver ao alcance na certa teria suicidado tão avexado que ficou!
O tempo parou e o Pedro matutando o que fazer:
- Vou pular pela janela e me mandar pra nunca mais dar notícias, adeus Maria!
Adeus noivado!
Adeus casamento!
Abriu a janela devagarzinho, sem nenhum ruído ou som comprometedor, silenciosamente foi abalando pelo pomar que no fundo da casa existia. Ah! A desgraça do Pedro só tinha começado.
No pé por pé, naquele silêncio madrugador, foi quando ouviu um forte rosnado na distancia, arrepios de medo, pernas fraquejando, claramente e fortemente agora já ouvia grossos latidos, meia dúzia de cachorros guardiões da fazenda a toda velocidade vindo em seu encalço.
O pobre noivo, agora já se considerando ex-noivo, precipitou rumo a um ribeirão que passava no fundo da fazenda, se vendo acuado por todos os lados pelos cães, sem alternativa alguma se atirou no brejo onde foi se afundando no lamaçal e no capinzal a enroscar e a prender.
Toda aquela correria e latidos dos cães a todos acordaram e acudiram no entrever.
Atolado até ao pescoço, sem poder se aluir nem pra frente, nem pra trás, ouvindo vozes passou a gritar:
- Socorro, socorro, estou atolado no brejo, me acode!
Tirado do atoleiro, cabisbaixo se explicou:
- Que estava necessitado de ir ao banheiro, e não sabendo onde era, resolvera cagar lá no meio do pomar, quando os cachorros o acuaram. Semanas passaram e o Pedro em sua casa não conseguia esquecer da mijada na cama do sogro nem da Maria, remoia de saudades dela, mas a vergonha destruía todas as possibilidades de algum dia rever a sua amada, foi quando recebeu um bilhetinho que dizia mais ou menos assim:
- Pedro meu amorzinho, não se acanhe, fazer xixi na cama qualquer um faz, fui até seu quarto e vi, virei o colchão, troquei o lençol, como você se enlameou no brejo, ninguém desconfiou de nada. To morrendo de saudades! Um grande amor tem dessas coisas, segredinhos, cumplicidades... Um beijão! Da sua amada Maria.
Era o que faltava para que o Pedro voltasse voando para os braços do seu amor, mas desconfortado ficava quando alguém tocava no assunto de fogueiras...
Não se sabe como, mas dizem que na distancia bem distante, à boca pequena, chamavam o rapaz de Pedro Mijão, mas no alcance dos ouvidos quem ousasse assim chamá-lo na certa morto seria...