Em meio à modernidade.

Foi na festa do arroz que tudo aconteceu, estava fazendo um sol que ardia à cabeça, mesmo assim todos se empenhavam a colocar suas melhores roupas, e ia rumo ao centro.

Não importava tanto, o quanto se trazia no bolso, o interessante era o clima de fraternidade. Não tinha muito dinheiro, mas um bolinho de arroz não poderia ser mais do que cinco reais. Logo, de longe, se avistava a multidão, e com uma visão periférica podiam se ver os que estavam e os que chegavam casais, crianças, idosos, solteiros e cachorros iam como simultaneamente numa mesma direção.

Como se aquelas pessoas estavam hipnotizadas pelo olfato, e eu parte daquele todo não fugia a regra.

Lupo era um cão muito levado e ao mesmo tempo cultivava a inteligência, quanto apercebeu que me trocava já ficará ao lado do portão, esperando-me para que quando eu abri-se não houvesse escolha, ou o levava, ou o levava.

Ficava bravo com ele, mas por estar tomado pelo mal da atual sociedade, não percebia seu movimento, minha ansiedade me cegava para este ponto, e quando me notava, ele já estava do meu lado como se fosse minha filha em um passeio matinal.

Escolhi a melhor calça para ocasião, era de veludo e combinaria perfeitamente com minha camisa de xadrez, e o chapéu branco com um broche de cavalheiro, cairia muito bem com minhas botas pretas, então fui rumo à fonte de todas as atenções.

Logo, quando cheguei, fui direto a barracas de bolinhos de arroz, paixão desde criança. Esperava o ano inteiro a feira gastronômica, para relembrar de minha mãe, pois, lembro-me de seus bolinhos feito no fogão de lenha, combinados com um cafézinho fresco feito de primeira mão, algo assim não se pode esquecer, você não acha?

Enfim, quando eu estava degustando meu bolinho de arroz, e claro dando beliscadas e jogando ao chão, para que Lupo participasse daquele momento sublime, percebi que todos ao meu redor me olhavam, uns tentava esconder as risadas, outros descarada mente não faziam questão de esconder.

Então o bolinho de arroz foi descendo vagarosamente em minha garganta, o que era para ser algo maravilhoso, se tornará aos poucos em pesadelo, o bolinho de arroz parecia um bloco de quinze descendo rasgando minha garganta, meus olhos do brilho divino, se tornou em vermelho inferno então não agüentei e gritei:

___Porque me olham e dão risadas! Seus cretinos!

Agora Lupo estava como um cão que protege seu dono latindo nervosamente, então um jovem simpático, pôs sua mão em meu ombro e me disse:

___Não ligue Senhor, estão somente achando engraçadas suas vestimentas...

Meus olhos encheram de lagrimas, e logo me tornei criança novamente e só me lembro de dizer em meia voz:

___Que pena que se perdeu o brilho do caipira, antigamente não era assim.

Guido Campos 30/05/2011.

guido campos
Enviado por guido campos em 31/05/2011
Reeditado em 31/05/2011
Código do texto: T3004519
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