O Jegue viúvo
Tenório era um jumentinho que perdera sua mãe ainda filhote e fora criado por Cotinha, a Maricota, filha do vaqueiro da fazenda Pau da Rola, lá pelas bandas da Chapada Diamantina.
Cotinha criara o jeguinho com todo carinho do mundo. Leitinho na mamadeira, banho com xampú, crina e cauda muito bem tosadas, orelhas impecáveis e cascos envernizados. Tinha até óculos escuros e uma gravatinha, que a Cotinha costumava enfeitar o Tenório quando ia dar umas voltas no Arraiá do Rumo, proximo à fazenda.
Tenório ficara famoso, nem se comportava mais como um ani-
mal, adorava ficar no meio de gente e não desgrudava da moça, era tanto que o jegue só dormia na varanda, ao lado da janela do quarto da Cotinha (dizem as más linguas que eles tinham uma relação bastante carnal).
Numa dessas andanças da fazenda para o arraiá, a moça fora picada por uma jararaca, acabou morrendo e o jegue enlouqueceu. O fato era que, todos os dias pela manhã bem cedinho, Tenório saía em disparada da fazenda, atravessava o arraiá, ia direto para o cemitério e em frente à sepultura da Maricota, desembainhava a "maromba", dava umas dez badaladas na "caixa dos peitos" e zurrava, zurrava, zurrava...
Valdívio Correia Junior, 28/05/2011