Tocaia ( e a fuga do Marambaia )
Era um dia tenebroso, cheiro de morte....
Eu passei pelas bandas lá do Trancaia,
Com meu terno de linho, em cambraia,
Meu revolver do lado, temendo a sorte...
No meu cavalo alazão, bem pela praia,
Eu fui ver Gabriela, mi'a bela consorte,
S'eu pensava nela, coração batia forte...
A galope para o fuzuê caía na gandaia,
Cheguei lá no cabaré muito assanhado,
Puxei mi'a morena e dancei o apertado,
Gabriela era mais bonita do Marambaia...
No meio de dois jagunços me ví rodado,
A mando de um coronel, que enciumado,
Mandou os "cabra" me armar uma tocaia...
***
Lá estava eu, bem no meio duma tocaia,
Neste fi-ó-fó de cobra, tal na maravalha,
Cercado, pelos jagunços, da mesma laia...
Armados com faca, pistola, e de navalha,
Se, quem é capoeira, nunca se atrapalha,
Eu resolví a parada e, com rabo de arraia...
Num gingado de mestre, chapéu de palha,
Assim é que o couro comeu no Marambaia...
Gabriela, era arretada e não fugiu da raia,
Cêpo de dar em doido, e pau de cangalha,
E a moça amarrou nas pernas, a sua saia...
Meia lua, armada voadora, arrasta, e caia,
Com união de amor, capoeira nunca falha,
Lutamos, e fugimos juntos, do Marambaia...
***
Assim, quando fugimos para Maracangaia,
Então, jagunços vieram em nosso encalço,
Eu que não podia dar mais um passo falso,
Montamos em meu alazão, o de crina báia...
E a galope, que nós fugimos lá do Trancaia,
Com a morena na garupa de pás descalços,
Eu, já não temia a sorte, nem os percalços...
Assim adentramos à mata feia de sapucaia,
Com o chão encoberto, pelas sambambaias,
Que despistavam os nossos, perseguidores...
E ao chegarmos às margens do rio Miragaia,
Já madrugada, nos prateou em sol que raia,
Sinal que na fuga, nós fomos os vencedores,
Comemoramos, fazendo amor, bem na praia...
Valdívio Correia Junior, 27/05/2011