QUE DIABO!
O velho solar dos Mirandas, com mais de um século de existência possuía muitas antiguidades e muitas velharias.
Qual a diferença entre uma antiguidade e uma velharia?
Pelos salões e quartos que abrigavam os muitos moradores
da casa, espalhavam-se antiguidades, algumas muito valiosas, outras, nem tanto e as velharias atulhavam o sótão.
Era entre as velharias, na mais alta prateleira que se encontrava a misteriosa lata amarela.
O mais antigo morador do solar lembrava-se de ter ouvido ainda crianças a incrível história.
Uma das antepassadas que ninguém sabia ao certo quem era tinha acabado o namoro com um rapaz envolvido com práticas diabólicas e ele despeitado contratou um diabinho para atazanar a vida dos Mirandas.
Aconteceu, porém, que a família tinha a proteção de um anjo muito poderoso que aprisionou o demo na lata amarela, com a recomendação de que nunca a abrisse nem jogasse fora.
A história era inverossímil, ninguém admitia acreditar nela, mas ninguém tinha coragem de mexer com a lata.
Euclides era uma espécie de líder entre os irmãos e os primos mais novos e resolveu tirar a limpo a lenda do demônio preso na lata
–Eu vou destampar a lata e mostrar para todo mundo que não tem nada lá dentro.
–Duvido que você tenha coragem para isso.
–Duvida? Pois vocês vão ver! Será hoje a meia noite, hora de assombração, quando todos estiverem dormindo que eu vou acabar com essa bobagem.
Dito e feito. Quando o relógio deu as 12 badaladas da meia noite os meninos levantaram e pé ante pé foram até o sótão.
Todos estavam com medo, mas ao mesmo tempo excitados com a aventura. Alguns não tiveram coragem de entrar no sótão e ficaram parados nos degraus de acesso.
Euclides encostou uma escada na prateleira, subiu, tomou a lata e...Seja o que Deus quiser! ... tirou a tampa e o diabo
pulou de dentro e caiu inerte no chão com um assobio ensurdecedor.
A criançada correu gritando tropeçando nos degraus fazendo um barulhão enquanto o Euclides se desequilibrava e vinha ao chão caindo desmaiado ao lado do demo.
Todos acordaram com o barulho e vieram ver o que estava acontecendo.
Yvone, mãe de Euclides veio correndo com a camisola de mangas longas, desabotoada até a cintura e quando vê o filho caído junto ao diabo grita:
–Ele está morto! E cai desmaiada no chão.
Eustáquio, o pai, sem camisa, com a ceroula de bolinhas até a canela, andava em círculos sem saber se acudia o filho ou a mulher.
O vovô com o camisolão até os joelhos senta-se queixando de palpitação, mas ninguém repara nele.
Todos estão apavorados, sem coragem de aproximar-se do diabo embora ele esteja imóvel, aparentando estar morto, até que Nicolau num rasgo de coragem abaixou-se junto a ele e viu que não passava de um boneco de borracha com uma mola que o impulsionou quando a lata foi aberta.
Todos acabaram rindo do desfecho da lenda do diabinho escondido na lata, brincadeira que há tanto tempo vinha apavorando crianças e adultos.
Quem sofreu foi o Euclides. Embora fosse o herói da historia, teve os dois braços quebrados e por dois meses teve que aguentar a caçoada dos outros meninos cada vez que precisava de ajuda para ir ao banheiro.
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Este texto faz parte do Exercício Criativo – NA VELHA LATA AMARELA
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