Alma
A música começou num conjunto relaxante e ao mesmo tempo capaz de levá-lo ao extremo. Bem no topo da colina, sentiu os ventos em sua volta ficarem mais forte á medida que o batuque atingia um nível nostálgico. Uma inusitada sensação o fez interagir lentamente, enquanto as pernas começaram a ficar mais desinquietas. E as memórias rapidamente foram voltando, sobre um brilho branco incandescente e cintilante.
Escutou suspiros vindos do horizonte. Vozes se diluindo, como estivesse no mais profundo plano do mar absorto. Quando de repente algo o fez viajar para as dimensões do invisível, através dos batuques da canção enigmática que se formava pelas ondas daquelas montanhas.
Fechou os olhos devagar. Respirou fundo o ar fresco, e sentiu-os entrando e saindo pelos seus pulmões. E então, num foco absoluto, ele viu o manto de seda levemente suave brandindo e sobrevoando em volta do corpo daquela mulher de aparência misteriosa. Tanto o corpo quantos os cabelos que se remexiam pelo vento em poupa, possuíam uma perspectiva aterradora. Algo com o que ele nunca tinha visto antes. O cenário daquela cena o tinha possuído. Sim, por inteiro. E por ora, ficou ali, admirando-a, eternizando-a, vivenciando-a, sem ao menos ela ter havido existido.