UM CAIPIRA QUE SEPARAVA DA ESPOSA COM UMA TÁBUA NO MEIO DA CAMA
(Um compadre brucutu)
Embora a educação ainda deixe muito a desejar já houve certo avanço no comportamento social de nossa gente. Atualmente a escola da vida já dispõe de mais ferramentas para educar os excluídos, ou seja, aqueles que não têm acesso a educação por falha política, ou por falta de estimulo e motivação para freqüentar um centro educacional. Os recursos oferecidos pela política educacional em comparação com o meu tempo de criança por exemplo, são enormes. Alguns dos analfabetos do passado educados apenas pela escola da vida não tiveram uma formação cultural, como na atualidade, que querendo ou não o elemento tem acesso as informações através dos meios de comunicação, e pelo convívio com uma sociedade mais bem informada. Através do intercambio entre o meio rural e o centro urbano, acabam adquirindo um pouco mais de conhecimento.
La pela metade do século passado famílias numerosas foram criadas sem nenhuma istrução, educadas a base da chibata, as crianças cresciam revoltadas contra tudo e contra todos. Subnutridas e amargando a extrema pobreza em que viviam. As mulheres então alem do machismo teriam que lutar contra a pobreza e as péssimas condições de vida, submetidas a um comportamento moral primitivo e preconceituoso imposto pela tradição, subalterna ao homem.
Uma geração criada fundamentada pela historia repleta de mitos, nos quais acontecimentos do passado eram confundidos, sendo distorcidos por narrativas imaginarias tornando-se mentiras históricas repassadas de geração para geração.
Conheci um conterrâneo e vizinho pai de oito filhos, sendo sete homens todos batizados com o nome de José acrescido por um segundo nome e o sobrenome. Dizia ele ser descendente de índio, o que realmente é verdade, mas aí entrava a mentira histórica, afirmava com convicção que sua avó era índia legitima e fora capturada no laço. E se alguém contestasse sua história, o velho botava fogo pelas narinas. Cada filho narrava de uma forma a maneira como a ancestral foi pega. Uns diziam ser um laço de armadilha, outros afirmavam ter sido com o laço usado por vaqueiro. Eu com toda ingenuidade de criança ficava imaginado a cena desta captura, e um filme de aventura selvagem passava em minha cabeça, criando imagens de uma mulher vestida apenas com uma tanga de penas coloridas correndo pelo campo e vários caveleiros de laços em punho tentando laçá-la.
A pobreza sempre imperou nesta família quase todos analfabetos, fator que contribuiu muito gerando a discórdia em alguns depois de casados. Um dos José parece-me ser o quinto conhecido pelo codinome de Machado, se casou com uma jovem muito humilde. Coitada dela comeu o pão que o diabo amassou.
Trabalhávamos juntos, ele e eu, aos poucos fizemos amizade, inclusive sou padrinho de um de seus filhos. Com a nossa convivência aos poucos fui conquistando sua confiança, e descobrindo o martírio que sua pobre esposa enfrentava. Certo dia eu disse a ele:- compadre mude a maneira de tratar sua esposa e seus filhos. A gente colhe aquilo que plantamos, seus meninos estão crescendo daqui a pouco começam a trabalhar vão-te abandonar e você vai perder tanto eles como a mãe! – Vamo mudá de assunto cê tem lá idade pra mode currigi ieu-, só pu caso deu ti contá minha vida cê invem querê mim dá parpite? – Tudo bem compadre não está mais aqui quem falou!
Neste dia ele havia me contado que estavam brigados havia mais de uma semana, a pobreza era tamanha, sua casinha pequena, quatro ou cinco crianças, a alternativa foi dividir a cama de casal ao meio por uma tabua. Dormiu a semana inteira um de um lado outro do outro sem trocar uma palavra si quer, no sábado lá pra meia noite ele deu um espirro, ela disse: - Deus te ajude! – Intão cê tira a taba! – Resultado fez mais um filho.
Anos mais tarde me casei fui residir noutra localidade perdi o contato com ele, Um belo dia o encontro por acaso no cento de Bom Despacho fui abraçá-lo -, como vai compadre? – To bão cocê não boca de coâ! -Boca de acauã porque compadre? –Cê falô qui hora cus mininu crescesse a muié ia largá ieu e largô memo agora tô suzinhu curpa sua viu boca de coã!
Atualmente com mais de oitenta anos vive com mais dignidade numa casinha decente construída pelos filhos, no mesmo local de sempre. Tem o beneficio de sua aposentadoria e assistência dos filhos que conseguiram estudar e situar bem na vida, apesar de ainda serem maltratados por ele, estão sempre lhe assistindo; mas pau que nasce torto não tem jeito morre torto, quando queima na mata até a cinza é torta.
OBS: (IMAGEM COOGLO)
(Um compadre brucutu)
Embora a educação ainda deixe muito a desejar já houve certo avanço no comportamento social de nossa gente. Atualmente a escola da vida já dispõe de mais ferramentas para educar os excluídos, ou seja, aqueles que não têm acesso a educação por falha política, ou por falta de estimulo e motivação para freqüentar um centro educacional. Os recursos oferecidos pela política educacional em comparação com o meu tempo de criança por exemplo, são enormes. Alguns dos analfabetos do passado educados apenas pela escola da vida não tiveram uma formação cultural, como na atualidade, que querendo ou não o elemento tem acesso as informações através dos meios de comunicação, e pelo convívio com uma sociedade mais bem informada. Através do intercambio entre o meio rural e o centro urbano, acabam adquirindo um pouco mais de conhecimento.
La pela metade do século passado famílias numerosas foram criadas sem nenhuma istrução, educadas a base da chibata, as crianças cresciam revoltadas contra tudo e contra todos. Subnutridas e amargando a extrema pobreza em que viviam. As mulheres então alem do machismo teriam que lutar contra a pobreza e as péssimas condições de vida, submetidas a um comportamento moral primitivo e preconceituoso imposto pela tradição, subalterna ao homem.
Uma geração criada fundamentada pela historia repleta de mitos, nos quais acontecimentos do passado eram confundidos, sendo distorcidos por narrativas imaginarias tornando-se mentiras históricas repassadas de geração para geração.
Conheci um conterrâneo e vizinho pai de oito filhos, sendo sete homens todos batizados com o nome de José acrescido por um segundo nome e o sobrenome. Dizia ele ser descendente de índio, o que realmente é verdade, mas aí entrava a mentira histórica, afirmava com convicção que sua avó era índia legitima e fora capturada no laço. E se alguém contestasse sua história, o velho botava fogo pelas narinas. Cada filho narrava de uma forma a maneira como a ancestral foi pega. Uns diziam ser um laço de armadilha, outros afirmavam ter sido com o laço usado por vaqueiro. Eu com toda ingenuidade de criança ficava imaginado a cena desta captura, e um filme de aventura selvagem passava em minha cabeça, criando imagens de uma mulher vestida apenas com uma tanga de penas coloridas correndo pelo campo e vários caveleiros de laços em punho tentando laçá-la.
A pobreza sempre imperou nesta família quase todos analfabetos, fator que contribuiu muito gerando a discórdia em alguns depois de casados. Um dos José parece-me ser o quinto conhecido pelo codinome de Machado, se casou com uma jovem muito humilde. Coitada dela comeu o pão que o diabo amassou.
Trabalhávamos juntos, ele e eu, aos poucos fizemos amizade, inclusive sou padrinho de um de seus filhos. Com a nossa convivência aos poucos fui conquistando sua confiança, e descobrindo o martírio que sua pobre esposa enfrentava. Certo dia eu disse a ele:- compadre mude a maneira de tratar sua esposa e seus filhos. A gente colhe aquilo que plantamos, seus meninos estão crescendo daqui a pouco começam a trabalhar vão-te abandonar e você vai perder tanto eles como a mãe! – Vamo mudá de assunto cê tem lá idade pra mode currigi ieu-, só pu caso deu ti contá minha vida cê invem querê mim dá parpite? – Tudo bem compadre não está mais aqui quem falou!
Neste dia ele havia me contado que estavam brigados havia mais de uma semana, a pobreza era tamanha, sua casinha pequena, quatro ou cinco crianças, a alternativa foi dividir a cama de casal ao meio por uma tabua. Dormiu a semana inteira um de um lado outro do outro sem trocar uma palavra si quer, no sábado lá pra meia noite ele deu um espirro, ela disse: - Deus te ajude! – Intão cê tira a taba! – Resultado fez mais um filho.
Anos mais tarde me casei fui residir noutra localidade perdi o contato com ele, Um belo dia o encontro por acaso no cento de Bom Despacho fui abraçá-lo -, como vai compadre? – To bão cocê não boca de coâ! -Boca de acauã porque compadre? –Cê falô qui hora cus mininu crescesse a muié ia largá ieu e largô memo agora tô suzinhu curpa sua viu boca de coã!
Atualmente com mais de oitenta anos vive com mais dignidade numa casinha decente construída pelos filhos, no mesmo local de sempre. Tem o beneficio de sua aposentadoria e assistência dos filhos que conseguiram estudar e situar bem na vida, apesar de ainda serem maltratados por ele, estão sempre lhe assistindo; mas pau que nasce torto não tem jeito morre torto, quando queima na mata até a cinza é torta.
OBS: (IMAGEM COOGLO)