O Circulo da Paixão

Em meados de Março,

meu amor com um compasso

um círculo fez.

E na cidade, um circo se erguia

e nele um trapezista

que o círculo desfez.

Me vi um palhaço

Traçando no espaço

Meu destino de vez.

Já no globo da morte,

Entre o azar e a sorte,

Apareceu-me um homem,

Que uma confissão me fez:

Seu moço, triste moço,

Não se mate, não ainda.

Se quer o porquê de minha vinda,

Não se mate, não ainda.

Esta estrela que em mãos trago

Lá do céu eu hoje apago,

Pois um dia me foi dada

Voto de algo que não acaba.

Mas acabou, perdão,

Mudou de dono.

Me encontro no abandono.

Meu sertão não tem luar.

Se quer saber de quem é a estrela,

Basta olhar pro céu. Veja.

Que a mentira logo acaba.

Ele é mulher barbada

E engana a quem olhar.

Fitei meu olhar no trapézio

E o cigano dos mistérios

Sumiu de uma só vez.

E a roda da fortuna se fez minha amiga

Vou mudar toda essa rima

Até o próximo mês.

Refiz todos os meus planos

E por debaixo dos panos

Sutilmente o cantei.

Em seus olhos, luxúria.

Nos meus, sede e secura,

E junto disso, amargura,

Do que um dia ele fez.

A respiração se agita.

No ar, a intenção reprimida.

No chão, a roupa caída.

No fogo eu o coloquei.

Os olhos eram fechados.

As mãos iam pra baixo.

As pernas, como um compasso,

Abriram-se na embriagues.

O compasso aumentava,

Como um leão preso na jaula,

Um urro jorrou. Se satisfez.

Virei e fui embora,

Pensando somente em outrora

Quando ainda não era esse mês.

Voltou após três dias.

Dizia tudo o que queria

E deitou-se outra vez.

O tempo passou bastante.

Eu passei a amante

E ele juras me fez.

Mal sabia o trapezista

Que na corda bamba da vida

Não existe o que o salve

Se cair de lá, talvez.

O circo, a partida preparava,

Minha vida ele roubara

E chegava o fim do mês.

Fui atrás do tal cigano.

As cartas iam contando:

Valete, Copas, Rei.

Dada à hora marcada,

Encontrei-o na calada

E uma estrela de sua capa desfez.

Prometeu-me o infinito,

Muito mais que o infinito;

Como o cigano contou-me uma vez.

Aceitei a tal estrela,

Entreguei-me aos seus desejos

E de mais estrelas o céu se fez.

Minha vez de balançar no trapézio

Não pensei nem duas vezes

Sua roupa eu tirei.

Os tambores ressoaram,

Preparado o salto da morte

Com vontade, novamente o beijei.

De repente um grito,

não de gozo, mas de horror.

Era a moça de história

Que um dia com um compasso um círculo fez.

Junto a ela, o cigano,

Que amava o trapezista

Que o círculo desfez.

O picadeiro estava armado.

Começou o espetáculo

Que preparei pra vocês

.

Todos viram, virou notícia,

A história do trapezista

Que tinha caso com três.

A moça morreu de desgosto.

O trapezista saltou do porto.

O cigano foi procurar outro.

E o circo de desfez.

Foram embora da cidade.

Se já vai – Já vai é tarde!

Mês de Março acabas-te.

Minha rima mudarei.

Em meados de Abril,

Abro a mala em um ato

E para o mundo parto,

Partindo com o que não tem valor.

Na mala um pretexto.

O coração no peito.

No tempo, um ano inteiro

Pra aprender o que é o amor.

Harley Arruda
Enviado por Harley Arruda em 22/05/2011
Reeditado em 12/09/2012
Código do texto: T2986426
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