Desejo de alazão
Paixão por cavalos, era isso que o rapaz com rosto angelical nutria no âmago da sua alma. O seu corpo magro e ágil gostava de interagir com o animal. Músculos seus e músculos eqüinos. Tudo em movimento e integração.
O garoto cresceu, desejou alçar vôo. Despediu-se dos seus pais, mochila nas costas e um sonho a lhe embalar. Lançou-se além mar. Foi parar em terras lusitanas para bem aprender a montar. Apaixonou-se pelos puro sangue lusitanos. De tanto recolher o feno, limpar baias e lustrar arreios e selas, convenceu o maduro cavaleiro a lhe ensinar a intrincada arte da montaria. Assim seguiu na vida, montando aqui e ali, cavalos mansos e bravios, cavalos tranqüilos e impetuosos, cavalos alegres e agressivos, potros e cavalos senis, enfim, apenas cavalos.
Sua musculatura tornou-se forte e com os movimentos do quadril e das pernas, aprendeu a dar direção e impulsão ao animal. As rédeas somente mantinham o contato, sem dor, sem sofrimento, sem subjugação, só sinalizando ao cavalo a presença do cavaleiro.
O jovem e másculo homem correu o mundo. Seu coração batia impetuoso no peito tal qual o trote do cavalo que anseia sair para galopar livremente. Foi expiar terras distantes. Sem dinheiro e pouso certo, um dia embarcou num caminhão eqüino e foi parar lá para as bandas da Alemanha. Gente fina, com os seus impecáveis animais lá estava. O rapaz, loiro e de olhos azuis, queria fazer bonito. Retirou do caminhão o garanhão cor de canela e o levou para pastar perto das amazonas que relaxavam seus animais após intenso treino.
O seu esplêndido animal farejou o ar, cavoucou o chão e sacudiu a longa crina, a energia de macho a fervilhar. O que o cavalo quis foi se aproximar das éguas que lá estavam a se espojar. Saiu à todo o galope, arrastando o pobre homem, coitado, que só queria paquerar.