CONVERSA ENTRE AMIGAS NA BEIRA DO AÇUDE

Olhe Dedinha, esse açude Gargalheiras esconde cada mistério! Eu mesma sei de cada coisa e já vi tanta coisa aqui, vice?Uma vez passei a noite inteira na janela do hotel pastorando a serra, porque o maluco do Rubim disse que aparecia disco em cima dela.Nessa noite eu não vi nada a não ser uns vultos que andavam na parede do açude. Achei que eram casais de namorados que iam pra lá de noite na falta de motel na cidade, mas Chico de Balá contou que eram almas dos afogados nas sangrias do açude. Não tive medo não, se foi alma, estavam muito entretidas e nem me viram, mas eu acho meio difícil alma andar de mãos dadas. Já um dia desses, João Cutia que é pescador e mora ali na vila, disse que uma noite ficou na cidade tomando umas e outras e quando botou reparo, já estava escuro. Ele pegou a bicicleta e meio cambaleando veio embora pra vila. Quando chegou à ponte de Maria Farinha, ouviu um estrondo e em seguida um clarão, pensou que era um raio, mas tava no verão de rachar, nem sinal de chuva no céu. O coitado olhou pra cima e viu um negócio redondo e brilhante em cima do pé de jurema. O bicho focava uma luzinha azul pra baixo e tinha dois homenzinhos dos olhos arregalados em pé quase na frente dele. Menina, o pobre largou a bicicleta, quis correr e as pernas não obedeciam, quis gritar e a voz não saia, só no pensamento repetia a Nossa Senhora que nunca mais colocava um gole de aguardente na boca. Pesou em todos os santos, na sua mulher Balbina, em seus onze filhos, mas não se bulia. De repente uma vós ecoou dentro da sua cabeça:

-Não tenha medo, não vamos lhe machucar. Só queremos estudar o comportamento da raça humana.

-Que...quem...são ocês? Gaguejou João Cutia.

E a vós no seu cérebro:

-Seres de um planeta distante. Não vamos lhe fazer mal.

Depois disso, João disse que não viu mais nada. Acordou dentro de um salão com tanta luz que não conseguia abrir os olhos. Perto dele tinha bem uns vinte homeninhos e mulherezinhas daqueles. Uma delas, quando viu que o caboclo abria os olhos, soprou no rosto dele que dormiu de novo. Quando voltou a abrir os olhos, estava deitado na sua cama de vara, com a bicicleta ao lado. Sonhei! Pensou ele, mas quando olhou para os punhos tinha uma pulseira de ferro que emitia uma luz estranha. João tentou tirar de todas as maneiras e não conseguiu, dois dias depois, a pulseira desapareceu. Nunca mais o coitado bebeu pinga, mas fica só repetindo essa conversa pra todo mundo e pouca gente acredita, acham que ele está louco.

Eu mesma nunca vi assim de perto não, mas queria muito ver.

-Tais doida, mulher, e se um troço desse carrega tu?

-E daí? Eu ia. Eu vou morrer mesmo, tanto faz morrer aqui como no infinito.

-Deus é quem diz a hora da morte da gente.

-Mas Ele não diz o lugar! Bem que eu gostaria de conhecer o céu ainda viva. Se morresse lá, era só mudar de casa, não era não? rs rs rs rs

-Ô criatura maluca, vambora tomar banho de açude que é melhor, antes que o disco apareça! rs rs rs rs rs rs