O sorriso da criança
Todo dia eu acordava e fazia a mesma coisa, escovava os dentes, tomava café, lia um jornal, almoçava, estudava, voltava para casa, fazia um lanche, assistia TV, tomava banho e dormia. Era assim de segunda a segunda. Já não encontrava mais sentido nos meus dias, me acostumei tanto à rotina que quando acontecia algo fora do normal, me assustava. Receber visitas então, ih, era coisa rara! Sem distinguir mais entre pessoa e motor, realizava minhas tarefas sem vontade, sem felicidade, já não era mais firme ao acordar. Passava das 11h na cama, e já não ligava de perder o dia, perder o café e o jornal. Será que seria sempre assim? Quando menos esperei, a sexta de uma semana normal mudaria meu olhar sobre o mundo. Saí para estudar e entrei num ônibus lotado, onde não reconhecia ninguém e ainda por cima tive de ficar em pé, sem que ninguém percebesse minha existência. Era mais um passageiro de vida desinteressante, ao qual todos que ali se encontravam eram apenas egoístas, interessados em suas próprias vidas. Foi sem olhar com interesse que vi uma garotinha de aproximadamente dois anos, que me olhava atentamente desde a hora que entrei e parei na sua frente. A criança sorriu e disse: "Senta aqui moça", apontando para o próprio colo, e fez com que finalmente arrancasse um simples sorriso e uma lágrima de mim, aquela passageira sem vida que tinha entrado no ônibus. Um ser, mais fraco que eu, incapaz de aguentar uma boneca no colo se ofereceu para que eu ficasse no lugar dela, que eu me tornasse a criança e ela a adulta, foi ela quem percebeu minha tristeza, minha impaciência. Foi aquela experiência de brilho nos olhos que me mostrou o mundo de outra maneira, que identifiquei a possibilidade da ingenuidade e do carinho que me cercava. Um sorriso de criança valeu mais do que toda a rotina miserável a que eu estava presa.
As pessoas não esperam surpresas no dia a dia, isso que as faz infeliz!