Um quase paraguaio em nosso time.

Nas décadas de 60 a 70, nos confins da divisa deste glorioso Brasil com o Paraguai, viviam alguns meninos que conviviam com o ar do crepúsculo amambaiense, visto que as tardes, naquela pequenina cidade interiorana, eram anunciadas pelo friozinho matreiro que arrepiava o queixo do freguês, mas, ao mesmo tempo, enchia seus olhos de sofreguidão, visto que ao longe, lá no horizonte, o sol se encarregava de formar o espetáculo do por do sol. Essa vastidão de cores, não lhes chamava muita atenção e nem era obstáculo para aqueles venturosos e magrelos moleques que, com a utilização de uma bola tipo ‘capotão’ (bem surrada), não se importavam em unir-se naqueles finais de tarde arrepiantes, para curtir uma ‘peladinha’ de rua.

Era uma rua pouco comum e incapaz de ser imaginada em nossos dias, pois, a grama insistia em nascer junto com as guanxumas e se misturava com a rama rasteira de outras ervas daninhas. Mas, esse misto de plantas rasteiras não atrapalhava a sintonia daquele improvisado campinho urbanista, já que a rua se confundia com nosso lazer. Os próprios motoristas, sabedores, que ali, naquele horário, era costume a realização daquela reuniãozinha pouco comum, não se atreviam a interromper a animada partida. Desviavam por outra rua, respeitando o valoroso esporte, já que a molecada era mais do que conhecida naquela região. O único entrave do improvisado campinho, eram os trilhos edificados pelos desgastes dos pneus, pois, a grama, naquelas linhas paralelas, tinha cedido aparecendo o vermelho da terra, desnivelando nossa cancha esportiva. Isso não importava, já que nossa ginga se improvisava para driblar aqueles desníveis, fazendo a bola correr suavemente pela grama verde.

Evidente que depois de alguns minutos, a noite se aproximava e, as mães, preocupadas, começavam a chamar seus filhos, haja vista que alguns deles tinham que se preparar para a jornada estudantil. Assim, somente a falta de quorum era o limite entre o começo e o fim da brincadeira futebolística.

Esse cenário infantil acompanhou nossos dias até que chegou a hora dos pássaros saírem do ninho, por isso aqueles que já voavam mais alto foram parar nas seleções de futebol de salão dos colégios e teve até aquele que foi expor sua ginga no clube amador da cidade, o saudoso Milionário Esporte Clube.

O José Robson Fernandes foi um desses meninos que despontou para o estrelato ao compor o glorioso elenco. Jogou algum tempo e foi um daqueles atletas de rua que conseguiu deixar registro histórico para o povo amambainse, figurando no elenco fronteiriço, cuja realidade histórica é demonstrada, hoje, no acervo fotográfico catalogado pelo Orkut, no endereço denominado “Túnel do Tempo”.

O renomado atleta, depois de vislumbrar que o futebol da época não iria lhe dar o sustento e a evolução pessoal que almejava, passou a ingressar na luta forense, prestando seus serviços no Fórum da cidade de Amambai, para, mais tarde, mudar-se para esta Capital, vindo a trabalhar a meu lado, no Cartório do Sexto Ofício que atendia ao Fórum da Capital, localizado na Rua 26 de Agosto.

Referido amigo, algumas vezes, mas, com relutância, reforçou o time do Poder Judiciário, primeiramente, participando do glorioso elenco da ARTJMS, para, depois, fazer parte do nosso time em alguns amistosos realizados por nossa equipe da ASPJMS, especialmente, quando a delegação se deslocava para cidades interioranas.

Não estranhem a palavra relutância acima citada, visto que ela se deve ao fato desse nosso atleta ser daqueles que não tinha ‘fome de bola’, já que os bons salários e o conforto que conseguiu com seu esforço no trabalho, tornaram-se obstáculo no seu universo de preferências, preferindo, aos domingos e finais de semana, curtir uma boa churrascada ou uma boa piscina, do que sair atrás da nossa galera que tinha uma atração maior sobre a saudosa bola de ‘capotão’

Machadinho
Enviado por Machadinho em 12/05/2011
Reeditado em 13/05/2011
Código do texto: T2965767