ÍNDIO MODERNO
Este causo que passo a narrar supostamente ocorreu durante a construção de uma rodovia no Estado de Roraima no início dos anos oitenta.
Para construir uma estrada pavimentada, é necessário primeiro fazer o serviço de terraplenagem, ou seja, limpar e aplainar o terreno, ora retirando ora colocando terra e compactar o solo para receber a camada de pavimento.
A empresa construtora montou acampamento, formou a equipe de trabalho e deram início às obras. Obra com alto grau de dificuldade, principalmente por se tratar de uma região bastante florestada e com um alto índice pluviométrico, o que restringia as ações referente a compactação do solo, visto ser necessário um grau de umidade, de acordo com as normas técnicas.
Nesse serviço, geralmente ao final do expediente, se o tempo estiver prometendo chuva, o mestre de obra pede para selar o solo que foi trabalhado durante o dia para, caso chova, não dar excesso de umidade e por a perder todo o trabalho, caso o tempo esteja firme não é necessário gastar hora de máquina nesse processo. Portanto, a previsão do tempo é fundamental.
Em um final de expediente, o operador perguntou ao mestre se havia necessidade de selar o solo, o que o mestre após aquela típica olhada para o horizonte disse não haver necessidade, pois, segundo sua previsão não iria chover. Mas, um dos membros da equipe, um índio contratado ali na aldeia vizinha que ouviu a conversa foi incisivo.
— Esta noite chove.
— Chove nada, Índio! Nem nuvem no céu tem.
E assim foi feito. O solo não foi selado, seguindo a previsão do mestre. Resultado, a chuva veio firme e forte e junto com ela, um prejuízo de alguns milhares de reais (naquela época era cruzeiro).
A partir daí, o índio começou a receber mais atenção, posto que, por ser da região deveria ter herdado de seus ancestrais alguma sabedoria em relação ao comportamento da natureza e isso deveria ser levado em consideração. Sendo assim ao final de cada expediente o índio passou a ser consultado.
— E aí índio, Chove hoje?
— Não. Respondia secamente.
De fato, não chovia e a obra seguia seu planejamento, para a felicidade da equipe de produção.
— Chove hoje, índio?
— Chove muito.
Dito e feito, a noite era água que Deus mandava. Com isso, o conceito do índio ia subindo mais e mais diante da chefia, que passou a conceder algumas regalias em relação aos outros funcionários, afinal, o homem em questão poderia evitar grandes prejuízos para a empresa com sua sabedoria.
Alguns meses se passaram e o índio, sempre que consultado respondia apenas, chove ou não chove. Até que um dia, em uma das consultas já tão naturais, aconteceu o inesperado.
— Vem aqui índio, meu amigão... (até o tratamento tinha mudado) diz aí. Essa noite chove ou não chove?
— Índio não sabe.
— Como não sabe? Você sempre sabe!
— Hoje índio não sabe.
— Por quê? Insistiu o mestre.
Nisso, o resto da equipe se aglomerou em volta do índio e do mestre querendo saber o que tinha acontecido, e o índio do alto de sua tranqüilidade, mais uma vez foi categórico.
— Televisão de índio pifou.