PARQUE DE DIVERSÃO

A grande maioria das pessoas residentes em Boa Vista, ES, não se relacionava muito bem com os moradores da cidade de Flor da Mata, MG. A recíproca era verdadeira.

Mas Flor da Mata passou a se desenvolver muito mais do que Boa Vista, devido ao fato de que a Agência do Banco do Brasil, criada para ser instalada na cidade capixaba, o foi na de Minas, graças à indiscutível e exuberante força política deste Estado. E a jurisdição da agência atingia o município capixaba, que tinha um número muito maior de agricultores.

Em virtude dessas razões, Flor da Mata crescia assustadoramente do ponto de vista econômico, atraindo investidores nas áreas de medicina, educação, comércio, agricultura, pecuária, etc. e passou a oferecer condições melhores para que, não só a população da cidade, mas, também, a vizinha, ali encontrassem maiores facilidades para aquisição dos mais variados bens.

Do ponto de vista do entretenimento, o que mais me chamou a atenção foram os parques de diversão. Um, bem grande, armado no centro da cidade, com muitas luzes, atraía gente de todas as condições sociais; outro, na entrada da cidade, de menor porte mas não menos atrativo, oferecia músicas de todos os gêneros e oportunidade para aqueles que desejassem exercitar a arte de cantar.

Mas fiquemos com o parque do centro. Ali havia muitas mesas de jogos. Jogo de baralho, de dados, de botão, de dama, jogos malabares, roletas e tantos outros.

Os jovens, de ambos os sexos, glostorados, passeavam de um lado para o outro, incessantemente, os olhares se cruzando, num perfeito flerte, uns disfarçados, outros, escancarados, traduzindo a beleza universal da juventude.

Muito próximo de mim, um jovem bem apessoado se dirige, cavalheirescamente, a uma gatíssima de cerca de dezessete anos e lhe pergunta, sorridentemente:

— Senhorita, desculpe-me abordá-la, mas se não o fizesse, morreria de curiosidade. O pai da senhorita é fabricante de toalha ?

A moçoila, entre surpresa e alegre, sorria muito diante da pergunta inusitada. Mas, uma vez passada a surpresa, disse-lhe que não. Que seu pai era marceneiro.

— Por que a pergunta ? – indagou a moça.

— É que você é muito enxuta, daí eu pensei que...

Não terminou de falar e a jovem já lhe dava as costas, retomando o seu passeio, com elegância e trejeitos provocantes.

Um outro cara de pau, do meu lado direito, bem próximo de mim, no momento em que três “bonecas” passavam, de braços dados, tascou:

— Ei, você de lá, fala com a de cá que eu quero falar com a do meio.

Coitado, nenhuma delas olhou para ele, que ficou com cara de taxo. Mas, quem manda ser bobo demais!

Mudei de lugar, partindo do pressuposto de que não iria mais ouvir bobagem. Ledo engano! Ao aproximar-me de uma barraca (afinal ninguém é de ferro), percebi que um babaca, com um sorriso de imbecil, mexeu com uma senhora que passava. Quando a senhora franziu o cenho, contrariada e ia desancá-lo, o desajustado, querendo dar uma de inteligente, como sói acontecer com os cafajestes, disse:

—Senhora, queira desculpar-me, pois ao vê-la rapidamente entre os passantes, pensei que fosse a minha mãe.

—Tudo bem – disse a senhora. Realmente você se enganou porque eu jamais poderia ser sua mãe. Sou casada.

Bem feito!

Mudei novamente de lugar. Fiquei mais distante dos auto-falantes. O speaker, com voz impostada, fazia propaganda até de ledora de mão, ledora de sorte, como diziam. Apareceu um conhecido e ali ficamos papeando. Foi muito bom porque tomei conhecimento de muitas coisas que ignorava.

A guerra comercial mais acentuada era a das pensões. Duas delas, a “Pensão São Jorge” e a “Pensão Familiar”, uma de frente à outra, jogavam duro na propaganda.

Segundo o meu companheiro de papo, a “Pensão Familiar” era tão familiar, que só aceitava casal maior de treze anos. Mulher que, ao passar naquela rua e olhasse para a placa da pensão ficava falada Chegaram a dizer que certas pessoas, mais prevenidas, usavam preservativo quando tinham que passar nas proximidades daquela pensão.

Já a São Jorge, não. Segundo o meu informante, era diferente. Só recebia casal à noite. De dia nem pensar. Só se a temperatura tivesse muito alta.

Foi aí que eu arrisquei uma pergunta: —esta cidade é muito quente ?

—Quente? Bota quente nisso. Quando tá a 40 graus o pessoal usa capote.

Neste momento, já bem tarde da noite, mudou o speaker, que foi logo anunciando uma música a ser ouvida, que um cara cego de amor não correspondido oferecia à moça que um dia haveria de ser sua mulher, nem que fosse num passageiro sonho.

Tratava-se, segundo o speaker, que dizia com ênfase, de um bólero, de Augustinho (Agustín Lara) e Laura, intitulado Quíças, Quíças, Quíças. Cruz credo!

O tempo foi passando, passando, até que o speaker anunciou o fechamento do parque, não sem antes fazer o seguinte anúncio, patrocinado pela Pensão São Jorge:

—Você, meu caro amigo, que trabalha em escritório e não pode ir à casa para almoçar, coma de malmita da Pensão São Jorge. Se o pão de lá é de trigo (referindo-se à Pensão Familiar) o de cá é de centeio. Se a de lá dá um bife, a de cá dá um bife e meio. E tem mais: na de cá folha de alface não se move, sabugo não é papel higiênico e mel não é de cana.

O meu companheiro de lero explicou-me a questão da referência ao sabugo: —é que certa vez um viajante entrou na Pensão Familiar à procura de um sanitário. A dona da Pensão esticou o braço e mostrou-lhe o sanitário do lado de fora da casa, perto de um córrego. Caminhou para lá, mas ao passar pela porta da cozinha um garoto de uns 14 anos ofereceu-lhe um pedaço de pau de cerca de sessenta centímetros e dois sabugos de milho. Ao perguntar para quê, obteve a resposta de que o pau era para espantar os porcos e o sabugo para limpar a...

Fim. Apagaram-se as luzes do Parque

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 18/11/2006
Código do texto: T295093