QUANDO COMPREI MINHAS MAÇÃS

O sol daquela manhã estava branco de tão quente. As pessoas que andavam nas ruas tentavam proteger-se usando desde protetor solar até bugigangas estranhas compradas em camelôs do centro daquela cidade chamada Santo. Apenas...Santo! Em uma certa rua daquela metrópole, encontrava-se uma das feiras mais visitadas de todo o Elma - estado localizado em um país longínquo. E um dia, aconteceu algo que mudou todos os moradores de Santo.

No dia 25 de abril, àquela manhã quente antes narrada, Erica Mariellu procurava por uma fruta na feira. Erica usava um paletó feminino preto com uma camisa cor-de-rosa com calças e sapatos combinando com o paletó; tinha os cabelos escuros cortados até os ombros e olhos verdes escuros como as folhas de uma árvore bela. Erica não aguentava mais ficar embaixo daquele sol. Se tinha uma coisa que ela odiava, isso era o sol. Nunca gostou de ficar no calor. Desde pequena não teve muitos amigos e amigas. Odiava passar calor e tinha nascido em um país tropical.

Fazer feira nunca fora uma atividade de vida de Erica. Com trinta e um anos, já se esquecera da última vez que fora a uma. - Talvez com a mãe, pensou. Formada em direito, estudava para tornar-se juíza. Um barulho seco de plástico mexendo-se trouxe Erica de volta ao presente.

- Quanto custa isso, moço? - A voz não condizia em nada com a pessoa. Em frente de Erica, uma mulher com roupas amassadas falava com o feirante. Aparentava ter mais ou menos, um metro e sessenta de altura; era loira, tinha olhos azuis e um belo corpo.

- Oi? - Ao ver que a mulher conversara com ela, Erica cumprimentou-a com um certo mau-jeito.

- Oi. - Após um breve silêncio. - Quente hoje, não?

- Muito. - Ao olhar para aqueles olhos azuis, Erica sentiu uma paz interior que há tempos não sentia.

- É como o salário mínimo.

- Perdão. Não entendi a analogia.

- Não entendeu o quê?

- O que você quis dizer.

- Ah, que o sol é como o salário mínimo: bonito de se ver para quem está na sombra e difícil de se enfrentar quando se está por baixo.

- Legal. - Erica sorriu com a definição de salário mínimo da mulher. Depois, pensou que ganhava vinte salários mínimos por mês com o seu trabalho e com a empresa que seu pai deixou, uma empresa de sapatos famosa naquele país: a 'Mariellu's'. Foi aí que ela se lembrou. - Você poderia me ajudar a escolher umas maçãs?

- Claro. Meus filhos adoram maçãs. Os seus também?

Essa pequena pergunta bateu como uma flecha no peito de Erica. O seu maior sonho sempre foi ser mãe. Mas por causa do trabalho chegara aos trinta anos sem ninguém. Os pais faleceram em um desastre aéreo, o irmão morava na Europa e...namorados? Não tinha. Dizia para si mesmo que os homens não prestavam e que podia viver muito bem sozinha, mas sabia que era mentira.

- Eu não tenho filhos. - Uma lágrima teimosa caiu do olho de Erica e a mulher reparou, mesmo com a tentativa de disfarce.

- Não precisa ficar assim. - A mulher agora sorria com carinho. - A vida sempre dá um jeito nessas coisas.

- Será?

- A vida... - Ela pegou um saco plástico com o dono da barraca de frutas. - ...é exatamente como uma feira. - Escolhia as frutas com naturalidade e colocava as maçãs no saco - Por isso que eu gosto tanto delas. Se você não escolher as frutas certas, elas estragam rápido. Lembre-se sempre disso. - Erica viu a mulher dando o saco ao feirante que o pesou na balança. - Cinco reais, está bem?

- Está ótimo.

- Está aqui. - A advogada pegou o saco recheado de maçãs vermelhas e pagou o feirante.

- Muito obri...Ei! - A mulher estava no final da feira puxando o seu carrinho com suas roupas amarrotadas. - Muito obrigada. Qual o seu nome?

- De nada! Apenas lembre-se de mim como a mulher da feira! - E Erica viu a mulher que mudara a sua vida descer a rua e desaparecer de vista em meio das outras maçãs.

Sérgio Siverly
Enviado por Sérgio Siverly em 18/04/2011
Reeditado em 03/05/2011
Código do texto: T2916489
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