Dragão sem asas.

Quando jovem, sempre foi o centro das atenções. Desde o tempo da escola, aquele tipo de cara descolado que todos conhecem mesmo que ele próprio não conheça todos. Alguns dizem que é rebeldia, pra mim isso é chamar atenção, andar todos os dias de preto dizendo ser roqueiro, mas, pra ser roqueiro não precisa usar preto e sim saber curtir e conhecer o que é este tipo de som. Mas ele era assim, usava preto, camisas com símbolos de forças misticas misturados com nomes de bandas. Tocando violão, coturnos do exército, calças justas, tatuagens que lembravam a escuridão. Um jeito rebelde, solitário, mas, se sua intenção era chamar a atenção dava certo. Sujeito inteligente, tinha notas boas e entendia de tudo um pouco, sem pensar que era um sabichão. Sabia ouvir não ficava somente de azaração. Jogava basquete com os camaradas da escola e sempre podíamos ver ele e seus amigos na praça do centro a noite. Uma gangue de cabeludos bebendo e conversando sobre roque. As vezes tinha até uma briguinha ou outra, penso que era pra apimentar a relação. Lembro-me de quando foi candidato a presidente do grêmio estudantil da escola, claro, a chapa dele ganhou, mas, o interessante foi que os períodos do diurno e noturno que votavam, ambos já o conheciam. Quando falavamos com ele parecia estar falando com um socialista apesar de que ele dizia detestar politica. Nunca o vimos chorar e apesar de usar aquela fantasia sempre nos ajudava a ficar pra cima. Dizia para fazermos o que dizia e nunca o que fazia e assim foi. Convivemos com ele durante uma década inteira até que um dia ele se foi. Desapareceu de nossas vidas e a última notícia que se ouviu sobre ele foi de que vivia pelas ruas como camelô, vendendo artigos femininos fabricados a mão. Sabem eu o conheci e de certa forma convivi com ele por muito tempo, frequentamos duas escolas e uma universidade juntos. Nunca fui seu amigo, mas, o cumprimentava e sempre o respeitei. Dizem que depois de formado, foi convidado para ótimos trabalhos, mas não sei o que aconteceu. Sempre pensei que aquele jovem depois de formado seria um líder, mas, como todos que arriscam um palpite também me enganei. Sabem o importante disso tudo é que dizem que ele é muito feliz, não sei se ele constituiu família ou se vive sozinho, mas, a informação interessante é que ele esta feliz e isso não tem conhecimento que supere.