ANIMAIS QUE FIZERAM HISTÓRIA EM BARRA DO MENDES ( Celismando - Mandinho)
ANIMAIS QUE FIZERAM HISTÓRIA EM BARRA DO MENDES
( CELISMANDO - MANDINHO)
Miguelão já se foi, mais deixou uma saudade muito grande em quem conviveu com ele devido ao seu senso de humor e sua criatividade. Ele dizia que as pessoas que eram bonitas quando bebês, quando cresciam ficavam feias e quando eram feias ficavam bonitas. Foi quando alguém perguntou: “e tu Miguelão?” eis o que ele respondeu: “obviamente que eu era muito feio... por isso que fiquei lindo deste jeito”. Falava isso e passava o pente no cabelo, com uma expressão de safadeza, na maior gozação do mundo.
Miguelão tinha uma tese interessante, segundo ele, era possível saber se os donos dos animais de estimação eram ricos ou pobres pelos nomes desses animais; ele falava isso e citava alguns exemplos que de uma certa forma tinha lógica, ex: animais das pessoas ricas e da alta sociedade, geralmente se chamam: Fidalgo, um touro reprodutor que ele viu na TV que valia um milhão de dólares; Shirley, a cachorrinha que pertencia a uma famosa atriz e que gastava com ela cinco mil dólares por mês, com tratamento dentário, ração especial, veterinário; Barítono, papagaio de um grande empresário que cantava o Hino Nacional e outras músicas; Aristocrata, o cavalo que ganhava boa parte das corridas nos hipódromos, proporcionando grandes lucros para o seu dono, e foi citando outros exemplos.
Então alguém perguntou: “ e os nomes dos animais dos pobres?” Ele responde com a cara mais sem vergonha do mundo: “vou citar exemplos daqui da nossa cidade mesmo: tem Latumia, o cavalo de Jarinho; Farofa, a cadela de Jobilino; Fubá, o cachorro de Domingo Belo, Farinha Perdida, a vaca magra de Armando; Papa Inseto, o Pássaro Preto da véia Tonha, e por aí vai. Pode ver que são nomes de animais de pobres, isto lá são nomes para se colocar nos animais dos endinheirados”.
Pegando uma carona nas histórias de Miguelão, em Barra do Mendes já existiu alguns animais que entraram para a história da cidade, devido as suas características interessantes. Vamos citar aqui apenas alguns exemplos:
Gato
Gato, o cachorro de Ezechias, talvez tenha sido o animal mais imponente que já apareceu na nossa cidade; a sua altivez era notada na sua própria maneira de andar, com a cabeça erguida e o rabo a balançar, era algo que nenhum outro cão conseguia imitar. Quando estava tendo uma disputa por alguma cadela no cio, com aquela cachorrada atrás, ele chegava e não tinha para ninguém, todos se afastavam, e murchavam o rabo para Gato passar e “faturar”. Isso acontecia porque: primeiro, que ele era o Cão mais bonito, mandava bem e as cadelas apaixonadas, facilitavam para ele; segundo por que não tinha medo de nenhum outro cão. Dizem os mais velhos que ele teve dezenas de filhotes e “faturou” quase todas as cachorras do pedaço. É... realmente, Gato, o cachorro de Ezechias, era de “lascar o cano”!!!.
Bernadão
Bernadão, o canário de Pingão, era um pássaro briguento pra caramba! Já tinha contribuído para que o grande Pingão ganhasse diversas apostas, pense num canarinho cismado!! ele batia um enorme papo no seu animal. No município de Barra do Mendes já não tinha mais páreo para Bernadão.
Um dia, ele resolve partir para outros campos de guerra, para cidade próxima que era Ibititá e fechou todas as apostas possíveis, com a certeza que nesse dia ia encher os bolsos. Só que nessa cidade, eles levavam esses embates de canário a sério, com treinamentos, ração especial e outros cuidados. Nesse dia Bernadão tomou um coro feio, apanhou muito, foi uma verdadeira decepção.
O Grande Pingão pagou as apostas pela metade, negociou o restante para pagar depois e pegou seu canário de estimação e falou: vamos embora DIM, falou isso e sorriu gozando da cara do seu próprio pássaro, imagine a raiva dele, de BernaDÃO, passou a chama-lo de DIM.
Sabugo
Eu não sei se já teve um cachorro mais preguiçoso do que Sabugo (também com um nome desse!!), que era do velho Damião, ele ia para roça a uns três quilômetros da sua casa com um carrinho de mão e levava Sabugo dormindo em cima do veículo de transporte. Ao chegar debaixo do pé de umbu, despejava Sabugo que ainda caia dormindo e assim continuava.
Damião trabalhava na roça até meio dia, após o fim do duro expediente, ele chegava debaixo do pé de umbu e lá estava o cachorro dormindo, pegava ele dormindo e botava em cima do carrinho de mão de novo e ele continuava em sono profundo, até chegar em casa de novo. Pra comer era obrigado Damião colocar a comida na boca de Sabugo. Dizem que ele comia dormindo. Imagine a paciência de Damião!!.
Toquinha
Se já existiu uma Jumenta como Toquinha eu duvido. Foi o animal mais manso que já comeu capim por estas paisagens. Era muito solícita e ajudou a muitos adolescente e jovens na década de sessenta em nosso município. Naquela época a repressão sexual era muito rígida, por isso, segundo José Rui, Toquinha merecia uma estátua em algum lugar de Barra do Mendes, por ter “acalmado” muitos jovens garotos barramendenses.
Navegante
O cachorro de Antõnio Toco era de uma magreza que chegava a transparecer as costelas, mas também de uma esperteza tamanha. Naquela época, como a situação era muito mais difícil e a alimentação era escassa, era preciso ser esperto para sobreviver. O saudoso Milton de Flora dizia que Navegante tinha aprendido uma proeza incrível. Acontece que ele, quando havia alguma panela de bode ou outro tipo de carne, mocotó, buchada, no fogão de lenha, ele destampava a panela, quando não tinha ninguém por perto e tirava com a pata direita os pedaços, deixava esfriando e depois comia. O que é que a fome não faz???.
Latumia
Jarinho tinha um cavalo ‘véi” magro chamado Latumia. Foi o único cavalo que nunca levou ninguém montado em seu lombo, nunca carregou uma carga seja lá do que peso fosse, nunca puxou capinadeira. Era compreensível, o velho cavalo era tão magro, mas tão magro!!! Que simplesmente ele não agüentava, todas as vezes que tentaram colocar nele alguma carga ele deitava e peidava.
Dendê
José Baião trouxe o galo dele para enfrentar os outros que estavam fazendo uma disputa no meio do jardim, seu nome era Dendê. Pense num papo exagerado que uma pessoa pode bater num animal que lhe pertence. Pois tudo isso é pouco diante do que Baião estava dizendo a toda hora: “meu galo é criado com ração especial, recebe treinamento todo dia”, e deixou o galo lá esperando a sua vez de brigar e foi jogar baralho no bar conhecido como Ponto Certo.
Estava ele a jogar, com seus colegas de carteado, cada um mais gozador do que o outro; inclusive, nesse dia estava num azar tremendo, de quatro partidas tinha perdido todas, quando de repente, começa aquele barulho de galo brigando lá fora e entra igual a um foguete; o galo enorme e cheio de penas coloridas de José Baião na frente e um galinho preto, pé duro, do tamanho de um pinto atrás do de Baião. Foi grande a pirraça, os colegas gozadores juram que nesse dia, por incrível que pareça, esse galo chamado Dendê, chegou a botar um ovo.
No outro dia de manhã bem cedinho, uma panela chiava no velho fogão de Zé Baião. Desse dia em diante, ninguém mais ouviu falar sobre um galo valente chamado Dendê. Será que ele sumiu numa panela??