O Pequenino Violão
O Pequenino Violão
Joanilson
Desde muito cedo o menino ouvia as histórias contadas sobre o seu avô materno. Sua mãe não poupava elogios ao pai dela, particularmente sobre as serestas de que ele gostava de participar como violonista, e ela, como cantora. O garoto via nos olhos da mãe a emoção que sentia ao relembrar da infância, notadamente dessa habilidade musical do seu querido velho, de saudosa memória.
O jovem chegou a conhecer o avô, e guardava consigo uma antiga fotografia, em preto e branco, onde o velho empunhava um surrado violão, seu parceiro de noitadas memoráveis, conforme contava a sua genitora.
Infelizmente, nenhum dos membros da família herdou a vocação artística de seu Joaquim, motivo pelo qual o menino não esquecia as histórias da mãe.
Quando estava perto do seu aniversário de 12 anos, o garoto pediu ao pai que lhe comprasse de presente pelo menos um pequenino violão – “mais fácil de tocar” - para que pudesse dar continuidade àquele interesse de sua mãe pela música, e assim, a fizesse relembrar dos tempos das festas com o velho seresteiro.
O pai do menino, face aos parcos recursos e descrente dos possíveis dotes musicais do filho, mas compreendendo o seu interesse pela arte, com grande esforço comprou-lhe um cavaquinho - no seu entender - mais fácil de tocar
Como o garoto realmente não tinha pendor para a música, encontrou muita dificuldade para executar algum som harmonioso no pequeno instrumento.
Desmotivado, então, resolveu trocá-lo por uma espingarda.
Assim, a família continuou sem cantar as célebres serestas, mas todos os domingos tinha rolinha assada no jantar.
29 de Março de 2004