O Candidato
Político à moda antiga. Semi-analfabeto, grosseiro, fanfarrão e muito matreiro. Conseguia eleger-se na base da compra de votos, troca de favores e outras coisas que tais. Dizem até que com ameaças e mortes. Não posso assegurar. Bem diferente dos nossos políticos de hoje. Não conseguia concatenar duas palavras. A terceira era um palavrão ou uma grande besteira. Não dizia “mé com cré”, segundo um de seus mais letrados “assessores”.
Sentiu-se incomodado com um novel adversário, detentor do dom da oratória. Gentil e eloqüente com as palavras, tinha um poder bombástico de persuasão, segundo o dito popular: “conversa de derrubar avião”. Sabia que corria risco e que estava perdendo eleitores, notadamente da ala feminina, porquanto o adversário, além de grande orador, tinha uma “boa pinta”.
Sabia que tinha que fazer alguma coisa e já tinha algo planejado. Chamou um de seus “assessores”, um brutamontes de dar medo a qualquer mortal, e preparado para qualquer obra:
- Ricardão, vem cá.
- Sim, doutor.
- Temos que dá um jeito nesse individo, meu adversário político. Ele com o seu “lero-lero”, tá robado meus eleitores. Se eu não tomar uma providença, vou perder essa eleição.
- Vai não doutor. Nem me diga isso. O que é que o senhor quer que eu faça? É pra “apagar” o home?
- Não Ricardão, violença não. Depois vai sobrar pra mim. Ele não tem uma fala bonita, cheia de doce na boca, então arrume um cabra bom, com uma peixeira bem afiada e mande cortar a língua dele. Um serviço bem feito, que eu não quero confusão. Só quero ver se ele vai continuar falando.
Ricardão, que era violento e ignorante, mas não era tão burro assim, retrucou:
- mas doutor, num vai adiantar muito não. Ele fica sem falá mais pode inscrever os seus discursso e mandar um assessor dele lê. Num vai ser a merma coisa, mas vai continuar inlundindo o povo.
O candidato levantou a sobrancelha, usou o que ainda lhe restava de cérebro, e disse:
- num é que tu tem razão! Manda cortar a língua do assessorzinho também.