DOIS MINEIROS

Dois mineiros, ambos com vinte e cinco anos de idade, nascidos na cidade de Itacolândia, tinham como sonho conhecer o mar. Assim que conseguiram emprego, passaram a economizar para, um dia, transformar em realidade aquele desejo.

O tempo passou e, num belo dia, fizeram as contas e chegaram à conclusão de que a grana dava para passarem um fim de semana numa praia. Todavia, a preferência deles seria por praias de Vitória, uma vez que pretendiam, também, experimentar o sabor da tão cantada e decantada moqueca capixaba servida no Restaurante São Pedro, situado na Praia do Suá.

Em janeiro, num sábado de manhã, os dois mineiros chegaram em Vitória, tomaram um táxi e rumaram para Vila Velha, onde se hospedaram num hotel modesto e, ansiosamente, esperaram o nascer do sol para se dirigirem a uma praia. Antes, porém, alugaram um automóvel, por indicação do gerente do hotel, que, também, os recomendou a Praia de Itaparica.

Lá chegaram e ficaram deslumbrados, pois o sol, ao surgir no horizonte, espargia os seus brilhantes raios, fazendo com que o mar se apresentasse multicolorido. E as ondas, umas menores, outras maiores, numa sucessão para eles inexplicável, formavam espumas esbranquiçadas, que invadiam as areias da praia. O espetáculo, para eles, não só era encantador, mas, também, aterrorizador.

A princípio mudos diante daquele extraordinário e deslumbrante mundo desconhecido, ficaram estáticos, embevecidos. Depois, “acordaram”. Ainda assustados, seguindo o exemplo de outras pessoas, entraram no mar, constataram que, de fato, a água era salgada, e, como não poderia deixar de acontecer, passaram a jogar água um no outro. Mas em dado momento saíram correndo em direção à praia, pois uma enorme e imponente onda se aproximava.

Às quinze horas, já um pouco cansados, entraram no carro alugado e passaram a perguntar aqui e ali até que chegaram na rua do Restaurante São Pedro, para realizarem o segundo desejo – degustar a famosa moqueca.

Os mineiros tiveram dificuldades para estacionar o veículo, mas o fizeram numa rua atrás do Restaurante.

De “shorts” e chinelos de dedo, já na porta do Restaurante, um garçom, de maneira delicada mas peremptória, barrou-lhes a entrada na casa.

-- Os senhores estão de carro ? – pergunta-lhes o garçom.

-- Sim, estamos.

-- Queiram, por favor, voltar até o carro. Coloquem camisinhas e voltem.

-- Mas..

-- Não tem mas. Ou os senhores colocam camisinhas ou não entram.

Os mineiros não entenderam nada. Um olhou para o outro, mas permaneceram emudecidos. Pensaram em procurar outro restaurante, mas se o fizessem, um dos objetivos do passeio de fim-de-semana não estaria sendo atingido.

Foram até o carro e tiveram uma certa dificuldade para colocação das camisinhas, eis que a rua estava muito movimentada.

A caminho do Restaurante, um mineiro disse para o outro: “será que o garçom vai querer constatar se colocamos ou não as camisinhas”? O outro balançou a cabeça em sinal de dúvida, mas prosseguiram.

Lá na porta estava o mesmo garçom. Um tipo descendente de italiano, pescoço torto para um lado, parecendo viciado em jogo de baralho, que acaba com defeito no pescoço de tanto tentar olhar as cartas do adversário.

-- Pronto – disse um dos mineiros - colocamos as camisinhas.

-- Peraí – assustou o garçom. Não vão me dizer que vocês (mudou até o tratamento, de senhores para vocês) colocaram camisa-de-vênus na “estrovenga”? - e apontou com o famoso dedo fura-bolo.

-- Os mineiros balançaram as cabeças em sinal de positivo, acrescentando: do jeito que o senhor pediu.

O garçom, entre estupefato e p. da vida, disse-lhes:

-- Olha aqui, seus tarados. Isto aqui não é casa de prostituição. Além do mais, peixe de água salgada – meta isso nas suas cabeças – principalmente sendo peixe de águas capixaba, vocês, para comê-lo, tem de matá-lo, abrir-lhe a barriga e retirar as vísceras, temperá-lo e cozinhá-lo. Peixe vivo, de água salgada, vocês não conseguem comê-lo porque ele vai se defender de todo jeito e vai escapulir de suas mãos sujas. Aqui nesta terra até peixe tem honra. E caiam fora, antes que eu chame a polícia.

Os mineiros, de olhos esbugalhados, atônitos diante dos acontecimentos, escafederam-se e estão inconsoláveis porque não puderam realizar o sonho de comer uma moqueca no Restaurante São Pedro.

levy pereira de menezes
Enviado por levy pereira de menezes em 11/11/2006
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