CAUSOS EM VOLTA DA FOGUEIRA

CAUSOS EM VOLTA DA FOGUEIRA

Alguns dos causos que apresento aqui foram ouvidos por mim em conversas em volta de alguma fogueira que em algum momento crepitou numa noite fria em algum lugar do Norte de Minas Gerais. Outros, foram por mim contados, após, é claro, tê-lo vivenciado.

Foram muitas fogueiras, muitos contadores de causos, que aqui reuno-os como se fosse em uma única fogueira.

As fogueiras têm uma mágica. Elas mudam a vibração do ar e nos deixam mais receptivos. Em sua volta, ouvimos histórias e contamos histórias. Suas chamas, além de nos aquecer, nos ilumina com sua luz tênue, triste e alegre ao mesmo tempo, que, dançando com suas cores vivas e quentes, nos remetem a lugares e épocas diversas.

Em volta da fogueira toca-se violão. Dança-se! Contamos e ouvimos casos dos mais diferentes: de amor e de guerra.

Imagine agora você em volta de uma fogueira, com familiares e amigos, ouvindo os casos que passo a relatar abaixo.

CAUSO 1

O GUARDIÃO DA FLORESTA

Ele estava ofegante, tenso; mas em silêncio.

A noite não estava fria, uma leve brisa às vezes soprava.

De cima da árvore, observava atentamente o local onde há semanas vinha cevando para que sua caçada tivesse sucesso.

Apesar de tenso, estava como uma estátua. Ali, imóvel, só pensava em dar cabo no cervo que por certo logo estaria ali. Isso ele sabia, e era experiente.

Pouco tempo depois, ouviu alguns bates e a árvore onde estava começou a tremer.

Olhou para baixo e viu um lenhador cortando a árvore onde estava. Nervoso, começou a gritar:

___Hei, você ai, estou aqui em cima

O lenhador nada falou e continuou a cortá-la. Seu machado estava amolado, e cada bate, TAC,TAC,TAC, a árvore tremia mais e estava mais próxima de cair.

O caçador desesperou-se e gritava , por favor pare, estou há oito metros de altura, posso morrer na queda, pare!

Seus gritos de nada valiam. O lenhador continuava cortando a árvore, como se nada estivesse acontecendo.

De repente; a última machadada. TAC! A árvore foi tombando, quebrando galhos e o caçador desesperou-se, começando a gritar, xingar, rezar, etc.

A árvore atingiu o chão com forte impacto, apesar de ter tido sua aceleração reduzida por outras vegetações.

Após cair, um silêncio profundo tomou conta da floresta. O caçador, viu que não morreu, e pensou: que sorte, graças a Deus estou ileso, é um milagre. Tenho que sair agora e escapar desse louco. Saiu andando devagarzinho, olhando para a trás, pé ante pé, e, de repente.....Thcabum!

Ele caiu da árvore.

Na verdade ele estava sonhando. O lenhador era produto de seus sonhos, aliás, era um encanto do Guardião da Floresta, para confundir os caçadores.

Conta-se que realmente, o caçador não morreu, teve algumas fraturas, mas, nunca mais caçou, ao contrário, tornou-se um defensor da natureza.

Carlos Leonardo Figueiredo Gomes