O QUE É? O QUE É?
O dia findará e a noite já dava seus ares da graça, era uma típica noite de verão, num suporte na parede da varanda, uma lamparina de querosene iluminava o ambiente e lá fora, a lua parecia pratear toda a imensidão até onde nosso olhos humanos podiam enxergar, logicamente nada comparável com a luz do dia, mas para o caboclo acostumados as trevas do sertão, era um noite especial, apesar disso tudo indicava que não teriam a costumeira visita dos vizinhos, o velho ancião sentado em sua cadeira preguiçosa parecia inspirado, rodeado de seus netinhos, tirou o cigarro de trás das orelhas, da algibeira sacou o seu binga e com ele acendeu o seu cigarro de palha, deu uma tragada, pigarreou e principiou a contar mais uma de suas estórias que a principio, ninguém entendeu nada:
“Uma caixinha de bom parecer,
Não há carapina que possa fazer”
Pegos de surpresa, não sabiam que estória esquisita era essa e ficaram aguardando o prosseguimento e como ninguém atinou dizer qualquer coisa alguma ele indagou:
___ E ai, vosmiceis estão mortos, o que é? o que é?
Só então caíram na realidade e as respostas foram as mais diversas, desde um caixão de defunto até uma caixa de tesouro, no ardor da conversa, surgiram até discussões de quem estava certo ou errado, o velho ria como uma criança malvada, porem ninguém soube dizer na realidade o que era até que ele deu a dica: é gostoso de se comer, cru ou torrado, vem numa caixinha, tem bastante lá no paiol, mesmo assim ninguém atinou o que era porem todos admiraram a sabedoria do homem quando ele disse que era o amendoim, gostoso de comer e vem na vagem que nenhum homem do campos é capaz de fazer sua vagem com tamanha perfeição.
Depois do impasse da primeira pergunta, nova tragada no palheiro instante em que adentra a varanda uma linda jovem, a sua neta mais velha, morena, magra, corpo esquio, altura perto dos seus um metro e oitenta e o ancião faz outra pergunta:
Alta torre, lindas janelas,
Abrem e fecham, sem ninguém bulir nelas
Outra arruaça, e mais uma vez ninguém foi capaz de matar a charada, o velho parecia se divertir muito com seus netinhos, ele informa que a Sofia, este era o nome da neta, possuía e que por sinal eram lindos, foi uma chuva de respostas, as mais diversas e até indiscretas porem ninguém acertou até que ele falou dos lindos olhos esverdeados da neta, sim, a neta era a torre e os seus olhos as lindas janelas, assim mataram a charada.
Quando seu bumbum eu aqueço
Ela pula e vira do avesso
Com essa todos caíram na gargalhada porem logo se compenetraram na busca por uma resposta, foi quando Sofia que observava tudo em pé na soleira da porta brincou
___ PP.PI, PI...PP.PO, PO...PC.PA, CA
Pipoca. Responderam em coro, o ancião riu porem não ralhou com Sofia, pois afinal de contas eram momentos de alegria e a neta era as meninas dos seus olhos e como ele estava muito inspirado e alegre naquela noite, mandou outra charada:
O que é, o que é?
Tem barba, mas não é gente.
Tem cabeça, mas não tem mente.
Não tem boca mas é cheia de dente.
Sofia parecia saber, porem desta vez não se intrometeu e ficou observando a angustia de seus primos na tentativa de dar uma resposta certa, porem ninguém soube a resposta correta que era a cabeça de alho.
O que é, o que é?
Três negrinhos carregando uma negrona.
Outra charada engraçada mas como a resposta não vinha ele informou que existe na cozinha e nela que a mãe faz aquele frango amarelinho com colorau que é de lamber os beiços. Mal acabara de dar a dica, um dos meninos respondeu: Pa-ne-la,
Um minuto de silencio, instantes de indecisão, ninguém havia entendido até que Vovô tomando conta da situação confirmou: a panelona de ferro que tem três pezinhos. Muito bem, até que enfim alguém foi bastante astuto e deu uma respostas as charada de vovô.
As essas altura da roda de prosa, a noite já ia adiantada, hora de ir para cama dormir e foi isso que ele comunicou na ultima charada da noite:
Menina, minha menina,
Vamos fazer o que deus mandô.
Encosta pelo com pelo,
Debaixo dos cobertô.
Saudades dos bons tempos que se foram e não hão mais de voltar, porem dos quais, nada tenho a reclamar.