JOÃO DO TITO

Sô Marico agora esta progredindo, comprou novas máquinas, uma esquadrejadeira, uma plaina, furadeira, desengrosso, e ate uma aparadeira, agora sim a marcenaria esta montada e mãos a obra. Tudo indo de vento em popa; uma grande freguesia, agora precisa de mais pessoas afim de poder atender a demanda. Bentinho foi contratado, um bom oficial de marceneiro, agora só falta um ajudante. Indicaram pro Sô Marico, um rapazinho novo uns vinte anos, mais com muito talento para aprendiz de marceneiro. Seu nome: João, seu pai: Sô Tito, se apresentou ao Sô Marico: Sô Marico, eu sou o João, o João do Tito que o Bentinho te falou.

Hô João vem pra cá, olha, eu tô começando agora, intom eu só posso pagar deiz conto por meis, seno dois e cinquenta por semana, se ocê topá, cê pode começa manha memo.

Há e sabado oce pode saí mei dia.

Novos tempos para o João, afinal aprendendo o oficio de marceneiro sendo remunerado e fim de semana liberado. Sô Marico muito satisfeito com a nova contratação, moço serio, sempre interessado em aprender e tudo que fazia era uma verdadeira obra de arte. Valorizando mais suas encomendas.

Sô Marico chamou o João e lhe disse: Hô João sô cê continua do jeito cocê vai, daqui uns dias ocê é que vai ensiná pra nois. Eu vô te dá um armento, vô drobá o seu salar a partir doje. João satisfeito, já começou a freqüentar, bares, cabarés, e botequins, antecipando o seu aumento salarial. Era Sexta Feira, onze horas, no fundo da marcenaria a casa do seu Marico, um pequeno terreiro na divisa do quintal não havia cerca só estacas marcando a divisão. Ao lado a casa do Sô Joaquim do Izá, um dos melhores vizinhos, Passava o dia a trabalhar.

Sô Marico almoçando, João do Tito também, D. Terezinha dando de comer alguém que esta escrevendo esta historia. Ademar num prato esmaltado sentado na porta comendo, Tirézio com a sanfona de oito baixo de Sô Marico esguelhando a “coitada” sem nada sair de som, somente fonfon fonfon...

De repente um grito seguido de outros gritos vindo da marcenaria, ali não se usava fechar as portas para o almoço, tamanha tranqüilidade naquela cidade. Era gritos conhecidos, era grito de Sô Joaquim do Izá, pedindo por socorro, pedindo; Não faiz assim comigo não home, e o assassino sem misericórdia sempre enfiando e tirando a faca, tamanha crueldade, Sô Joaquim correndo e o assassino atras, por cima do Tirésio passaram e o sangue no menino espalhou, manchando também a “pé de bode” Sô Marico o prato largou correu atras, seu Joaquim caído, pro hospital o levou, o assassino dali desapareceu.

João ate meio amarelo pro Sô Marico falou:

- Sô Marico, olha qui to tremendo qui nem vara verde, Sô Marico, to suando frio, Sô Marico acho ate que vou passar mal, e também que não vou conseguir trabalhar Sô Marico.

Sô Marico disse-lhe:

- João Pódi e num pricisa do cê vim manhã tamen não, cê vem na segunda tá?

- Ta bao Sô Marico.

Mais Sô Marico, como pode alguém ter coragem de fazer aquilo com um homem, igual o Sô Joaquim do Izá, é muita crueldade Sô Marico, nossa só deu lembrar Sô Marico até arrepio, olha aqui ó sô Marico, sabe que eu não agüento ver isto de jeito nenhum.

- Vai João, segunda ocê vorta. Enterraram o Sô Joaquim. A vida voltou ao normal, marcenaria lotada de encomendas, o João produzindo como um bom oficial, Sô Marico orgulhoso, afinal foi ele que o ensinou. Passaram se uns meses após o crime do Sô Joaquim do Izá. Num sábado, umas dez horas da noite, bateu-se na porta, Sô Marico atende, afinal quem será a estas horas da noite, ao abrir , espantado vê o João do Tito todo desesperado falando.

- Desculpe Sô Marico, mais eu vim aqui te incomodar, tenho que sair agora da cidade, por isso quero acertar com Sr. E ir embora o mais depressa possível. Sô Marico mais assustado ainda para o João perguntou.

- Uai João, o que cocê aprontó.

- Nada não sô Marico, mais eu tava num bar, lá na vila nova, um sujeito me deu um tapa na cara, ai eu quebrei uma garrafa na cabeça dele e enfiei o resto no buxo dele. Sô Marico ouviu, foi lá na caixinha, pegou o dinheiro acertou com João, e o João partiu. Ai Sô Marico com Terezinha falou.

- É Terezinha, vê como é as coisa, num tem nem ano, o João tava ali achano que era a maió covardia com Sô Joaquim, agora ele vem faiz o memo que o assassino do Sô Joaquim feiz.

João do Tito desapareceu por uns quinze anos, depois apareceu, era um bem sucedido empresário no ramo de móveis, e o sujeito que ele deu a garrafada não tinha morrido, e a muito tempo, ninguém mais ouvia falar dele.