PESCANDO SARACURA
Chegamos na barra das antas, era onze horas, descarregamos nossas traias, penduramos as capangas nos troncos, limpamos o local do rancho, providenciamos lenha, limpamos o pesqueiro. Ademar foi fazer o almoço, Marinho arrancou sapé, forrou a cama e fumava um cigarro de palha depois de ter tomado uma da branquinha e tirou gosto com um pedaço de pão. Enquanto o Ademar fazia o almoço, fui ao rio e andei dando umas anzoladas, mas como nem beliscou, voltei pro rancho, belisquei um tira gosto tomei também um trago da malvada. Almoço pronto, almoçamos, tiramos uma soneca junto ao pé de jatobá, Marinho levantou fez um café, logo todos nós estávamos de pé e pronto para a pescaria. Como não tínhamos canoa, teríamos que armar as redes com bambus. Fomos até uma moita a uns quinhentos metros do rancho e buscamos uns cinco bambus. Enquanto eu e o Ademar pescava-mos o Marinho subiu as antas e disse que ia armar as redes enquanto era cedo, puxou os bambus, pegou o saco com as redes e seguiu margeando o ribeirão, o sol já estava escondendo. Começamos a pegar uns mandís , o Marinho já estava de volta e nos disse que armadas estavam, agora só falta pegar. No ribeirão das antas, embora era estreito, mas sempre quando das redes armadas, boas traíras pegava. Marinho foi ao rancho, chegou fogo no feijão, tomou uma e trouxe pra mim e o Ademar, num copo de massa de tomate, uma boa talagada e um pedaço de lingüiça. Tomamos, comemos e comentamos: alguns mandís pegamos, mas a noite vai ser melhor. Mês de setembro, pouco vento, noites claras, não muito frio, ideal para uma noitada no mato e uma boa pescaria. Voltamos para o rancho, fizemos a janta, ligamos um radio, ascendemos as lamparinas. Terminamos de jantar, tomamos um café para boca de pito e retornamos ao pesqueiro. Pescamos até ali para as dez horas da noite, como parou de beliscar e não estávamos pegando mais nada voltamos para o rancho e caçamos cama. Apagamos a lamparina, fumamos um cigarro e ao som do canto dos curiangos dormimos. Quatro e meia da manhã Marinho já na beira do fogão, esquentando aquilo da janta havia sobrado, pegou meio copo da malvada e num só gole virou, pra mim meia doze, virei na garganta, tossi , resisti pus um punhado da gororoba na mão e na boca levei engoli, e assim ela não voltou. O novo dia, dava sinal que ia clarear, Marinho esticou os braços, fez uma certa ginástica, tomou mais uma e disse: o gente estou indo buscar as redes, pode colocar gordura na frigideira, que umas três pretona eu vou trazer, como sempre, nós sabíamos, que nas redes nunca falhara, não podíamos duvidar. Ademar fez café, tornei ao rio testar, dando umas anzoladas, até que peguei alguns. Voltei ao rancho, o feijão já estava a cozinhar, fui a beira do rio e as vasilhas sujas lavei. Nisto chega o Marinho, num saco ao ombro, as redes e os peixes, na mão direita segurando pelos pés, uma saracura. Jogou o saco no chão, pra nós foi mostrando a saracura, nos disse: não falei que pegava, e até saracura na rede peguei, ai sim nós duvidamos até que ele nos explicou. Bom eu fui subindo das margens do ribeirão das antas, e retirando as redes, só que eu não levava eu deixava de fora d’água bem perto de onde as armei, retirei todas e assim fui fazendo , depois vim recolhendo as redes e no saco colocando, na terceira de lá pra cá, numa prainha de areia deixei, ao me ver aproximando duas saracura correram, uma se embrenhou pelo mato esta pobre coitada, acabou embaraçando na rede que ali estava. Analisando a bichinha vimos que nada tinha, que impedisse de viver, e ali mesmo no rancho soltamos e num voou rasante no outro lado da margem se enfiou mato a dentro. É mais um destes casos quando contamos que sempre tem alguém que vem logo dizendo : é mais uma de pescador.