UM CASO DE ASSOMBRAÇÃO
CHAMAVA-SE MANOEL, VULGARMENTE CONHECIDO COMO MANÉ. ERA UM MOÇO FORTE, NEGRO COMO O ÉBANO, BEM AFEIÇOADO, UM VERDADEIRO PEDAÇO DE MAU CAMINHO. FALAVA MANSO, TINHA UMA PACIÊNCIA QUE ERA UM DEUS NOS ACUDA! NASCEU E SE CRIOU EM NATUBA, INTERIOR DA PARAIBA, UM LUGARZINHO PREVILEGIADO PELA NATUREZA, DIZEM QUE PERTO DE LÁ TEM ATÉ PLANTAÇÃO DE UVAS! E LÁ TAMBÉM TEM UMA GRUTA ONDE BROTA UM OLHO D’ÁGUA CUJO RIACHO VAI DESAGUAR NO RIO PARAIBA.
A GRUTA FICAVA NO MEIO DA MATA. A AGUA QUE DESCIA DELA CAÍA SOBRE AS PEDRAS, FORMANDO UMA PEQUENA CACHOEIRA; UM RIACHO CRISTALINO DESCIA MANSAMENTE ENTRE AS PEDRAS E SAMABAIAS. HAVIA UMA GRANDE VARIEDADE DE ORQUÍDEAS E PLANTAS SILVETRES, QUE DAVAM UM AR PARADISÍACO ÀQUELE LUGAR.
ERA PERTINHO DALÍ QUE MANÉ APÓS UMA CAPINADA E OUTRA DESCANSAVA TRANQUILAMENTE DEBAIXO DE UMA MANGUEIRA. CERTO DIA ELE SENTIU UM AROMA SUAVE E MUITO ATRAENTE. MANÉ LEVANTOU-SE E PERCEBEU QUE O CHEIRO VINHA DA GRUTA. CURIOSO E TEMEROSO, ESCONDEU-SE NO MEIO DA FOLHAGEM. E ELE VIU DE ONDE VINHA A ORIGEM DAQUELE PERFUME.
- QUE MARMOTA É ESSA? BRADOU DANDO UM SALTO PARA TRÁS.
ERA A CRIATURA MAIS BONITA QUE ELE JÁ TINHA VISTO NA FACE DA TERRA: ERA UMA MULHER LOIRA, CUJOS CABELOS DESCIAM ATÉ AS NÁDEGAS FORMANDO UMA LINDA CASCATA DOURADA, TINHA OLHOS AZUIS QUE PARECIAM DOIS PEDACINHOS DO CÉU. ESTAVA COMPLATEMENTE NUA E BANHAVA-SE NA CACHOEIRA SEM NENHUM PUDOR.
MANÉ FICOU ESTARRECIDO, E MUITO EMBARAÇADO TENTOU SE EXPLICAR:
- DONA ME ADESCUPE, EU...
- DESCULPAR O QUÊ HOMEM? SE AVEXE NÃO! VEM CÁ. FALOU TODA FACEIRA..
- FAZER O QUE AÍ DONA?
- VEM ESFREGAR AS MINHAS COSTAS. VIROU-SE EXIBINDO AS BELAS CURVAS.
- DONA MUIÉ DEREITA NUM SE MOSTRA ASSIM NÃO SINHORA! NUM MOSTRA NEM O MOCOTÓ, AVALÍ O RESTO... ISSO É COISA DE QUENGA.
- DEIXA DE BESTEIRA HOMEM, VAI DIZER QUE TU NUNCA VIU?
- VI NÃO SINHORA.
- ENTÃO VEM VER DE PERTO.
- PRECISA NÃO SINHORA, EU JÁ SEI COMO É.
- ENTÃO VAI PEGAR UMAS MANGAS PRA MIM? FALAVA TENTANDO SEDUZIR O POBRE HOMEM.
- ME ADESCUPE, MAS EU TÔ NUMA CANSEIRA DE DÁ PENA, TRABAEI INTÉ AGORA.
- MAS MANEZINHO , VOCÊ NÃO ACHA BONITA?
- COM TODO RESPEITO, A SINHORA É A MUIÉ MAIS BONITA QUE JÁ VÍ, SÓ DE OIÁ DÁ AGONIA NAS VISTA.
- E ENTÃO?
- ENTÃO-SE O QUE?
- VEM ATÉ AQUI, NÉ?
- DONA EU COMI UMA JACA. TÔ COM O BUCHO CHEIO, SE EU ATREVESSAR O RIACHO VAI DÁ UM NÓ NA MINHA TRIPA. A SINHORA TÁ ME DEIXANDO APERRIADO.
- PORQUÊ HOMEM? EXIBIA-SE SENSUALMENTE.
- TÁ AZUCRINANDO O MEU JUIZO.
- TU TÁ FICANDO DOIDINHO POR MIM NÈ?
- DONA A SINHORA É FORMOSA DEMAIS, É UMA GALEGA DANADA DE BONITA, CHEIROSA QUE NEM FULÔ, MAS É MUIÉ DESAVERGONHADA. EU SOU DEVOTO DE SÃO JOSÉ. SAFADEZA SÓ FAÇO DEPOIS DO CASÓRIO.
- MAS QUE CABRA MOLE! PARECE QUE NÃO É MACHO! FICOU VERMELHA QUE NEM BRASA, E NUM ARROUBO DE FÚRIA DESAPERACEU NUMA NÚVEM DE FUMAÇA. UM CHEIRO DE ENXOFRE SE ESPALHOU PELO AR.
- DANOU-SE! TÁ COM A GOTA SERENA DONA?, QUE ASSOMBRAÇÃO É ESSA? MUIÉ BONITA ENGANA INTÉ O CÃO!
MANÉ PEGOU A ENXADA E VOLTOU ASSOMBRADO PARA O CAFESAL.
NAQUELA REGIÃO COMENTAVA-SE MUITO SOBRE A COMADRE FULOZINHA. ELA ERA UM TIPO DE ASSOMBRÇÃO QUE ENFEITIÇAVA OS CAÇADORES, E FAZIA TRAQUINAGENS COM OS ANIMAIS. DIZEM QUE É AMIGA DO SACI PERERÊ E DA MULA-SEM-CABEÇA.
CRUZ CREDO!
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*EM MEMÓRIA DE MANOEL FRANCISCO DE ARRUDA UM
HOMEM SIMPLES DA ROÇA, QUE NUNCA FREQUNTOU UMA ESCOLA
MAS ERA UM EXCELENTE CONTADOR DE ESTÓRIAS