O Velório do Seu Altino

No interior, quando os alto falantes das capelas tocam , ou é algum objeto perdido,um aviso do padre, ou alguém que falecera.

Bem, e desta vez, falecera o Seu Altino, um senhor já de idade avançada, que depois de prestar serviços na roça e de enfrentar as dificuldades da vida e a falta de um reconhecimento do governo, Deus o aposentou deixando como herança a esposa, doze filhos, netos e bisnetos.

O vilarejo se comove, pois, o Seu Altino era um senhor de bem e respeitado pelos amigos e por ser um conhecedor das raízes e das plantas, era o farmacêutico daquela região que também não tinha muitos recursos para ir ao médico na cidade mais próxima.

No velório, a singela casa do Seu Altino não cabia de gente, entrava um, saía outro, um falava de num canto, outro até se exaltava por falar alto por natureza, como o Alfredo Risada, que gostava de uma piadinha mesmo nos velórios, com respeito, claro!

A família ali inconformada, chora ao lado do corpo e os mais próximos iam juntos nas incontidas lágrimas.

O Ernesto velório, um caboclo trabalhador, bom de enxada, e de marmita, que levava este apelido, por não perder um velório e chorava copiosamente, mas, as lágrimas dele saiam em um só olho.

Aquilo causou estranheza no pessoal e mais ainda no Calixto que no cantinho da sala abarrotada assistia a tudo.

Ele chegou perto do Ernesto e o chamou para fora da sala.

Chegando lá fora foi logo perguntando:

- Ô Arnesto! Pro mode que, ôcê chora só dum zóio? Ôcê num tá duente não home?

O Ernesto enxugando o olho responde:

- Óia Calixto! É que se eu chorá cum os dois zóio ês pode cansar! Antonce eu choro com um e dêxo o ôtro pra mode chorá no ôto velóro queu vô adispois desse!

O Calixto colocou a mão no queixo e saiu de fininho.

O Ernesto voltou pra sala e continuou o choro, mas, só com um olho..

Você acredita?

Não???

Olha, fique de olho no Ernesto, mas, com um olho só, pois, de repente você possa encontrar com ele no outro velório!

Coisas do interior !

Inté!

Mestre Tinga das Gerais
Enviado por Mestre Tinga das Gerais em 14/03/2011
Reeditado em 28/02/2022
Código do texto: T2846853
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