Antero e o Galo Magnífico
Tem dias em que o Sol nos parece mais bonito, brando. É nesses dias que nos dá uma vontade de passar o dia no campo, numa mata com uma belíssima cachoeira! Reunir os bons amigos, aqueles que conhecemos desde a infância e que têm quase os mesmos gostos pelas coisas da vida. Assim era Antero nesses dias. Rapaz de índole boa, amigo para todas as horas, temente a Deus e conhecido por todos os habitantes de sua pequena cidade como “um exemplo de pessoa!” Antero nasceu na cidade onde mora até hoje com os seus pais, na zona rural. Nunca em momento algum teve vontade de ir morar em uma cidade grande para tentar ter uma vida melhor, mais prospera. Estava satisfeito com a sua criação de galinhas caipira. Aliá, ele conhecia segredos, encantos, que fazia as suas galinhas chegarem a mais de sete quilos de peso vivo! A beleza de suas galinhas era de chamar a atenção de todos e serviu até para ser destaque em uma matéria na página de um jornal famoso. Ninguém sabia como Antero conseguia essas proezas com as suas galinhas. A cobiça por suas galinhas nos finais de semanas, devido à tradição da população de fazer uma galinhada nos sábados, fazia os preços subirem até 30% de ágio. Não dava para atender todos os pedidos. Certo dia Antero foi ao galinheiro verificar com estava as suas “queridinhas” galinhas! Chegando lá teve uma surpresa: nasceu um pintinho entre as suas lindas e gordinhas galinhas. Mas como isso pode acontecer? Se eram criadas só para crescer e engordar, como então foi um pintinho nascer logo entre elas! Pensou Antero. Se nem ovos elas colocavam? Ficou Antero com esse dilema o resto do dia. Mas como o fato aconteceu, ele resolveu então cuidar do “bichinho” pessoalmente. Fez uma ração especial e usou seus encantos para fortalecer o pintinho para que no futuro se tornasse um galo forte e tão belo que valeria o dobro do valor que costumava cobrar de suas especiais galinhas caipiras! Assim foi feto. Com um mês depois o pintinho já era um belo frango que até os galos mais valentes da região o temia! Corria tudo bem até o dia em que o especial frango sumiu. Antero ficou totalmente desesperado, uma angustia que já mais sentira por nenhuma de suas galinhas. Saiu por toda a região em busca do “desaparecido”. Dava duas galinhas para quem o achasse. Mas tudo foi em vão. Ninguém nunca o achou. Passaram-se seis meses e Antero já o dava como perdido. Mas o sol voltou a brilhar na propriedade de Antero!Foi numa manhã de sábado, precisamente às cinco horas da manhã que o seu “bichinho” predileto apareceu! Agora era um imenso galo. Uma beleza de galo silvestre! Antero ficou tão emocionado que lágrimas caiam de seus olhos molhando a sua camisa. O galo ficou a te olhar tão fixo que o próprio Antero ficou confuso com a expressão tão humana que tinha naqueles olhos “galiano”! Não se contendo, Antero o abraçou e neste mesmo momento tão emocionante sentiu que foi abraçado também! Aí o bicho pegou! Antero deu uma espiada em sua volta e viu que ninguém tinha visto o que ele presenciou: um galo com uma saudação humana! Após o acontecido o galo foi diretamente para um galinheiro abandonado e por lá ficou até o momento de dormir. Na manhã seguinte, Antero foi alimentar todas as suas galinhas com a sua “super ração”, e, também o seu galo fantástico. Depois que acabou de distribuir as rações voltou para a casa e foi tomar o seu café da manhã. Ligou o seu radinho de pilha para ouvir o seu programa predileto de músicas caipiras. Terminando, voltou para o terreiro da casa e ficou a espiar o movimento em volta de seu sítio. Sentiu que as galinhas estavam muito silenciosas, e que não tinham vindo para o terreiro como era de costume. Ficou assustado. “Será que roubaram as minhas galinhas?” Correu em total desespero até chegar à porta do galinheiro, e para a sua surpresa, estava o Galo com as suas asas abertas de ponta a ponta em frente das demais galinhas que faziam o mesmo. Antero ficou pasmo com que via. E para mais surpresa ainda, as galinhas estavam em fila dupla fazendo várias repetições, ou seja: abriam e fechava simultaneamente as asas! De repente todas saíram em direção dos comedores para se alimentarem. O galo saiu e voou até um galho de mangueira e ficou a olhar todos os gestos de Antero.Estava assustado com o que estava acontecendo com os seus animais. Nesse sentimento resolveu então fazer uma oração para as suas aves na intenção de afastar qualquer força maligna que por ventura estava possuindo as suas galinhas maravilhosas e seu magnífico galo! Após terminar as tarefas no sítio foi até a cidade procurar o padre na intenção de pedir uma benção em sua propriedade. Assim foi feito. Passando três dias um novo fato ocorreu no sítio de Antero. Apareceu no chão de barro do terreiro da casa um desenho de um rosto humano perfeito. Ficou Antero a questionar quem foi que teve o atrevimento de desenhar aquele rosto sem a devida autorização dos legítimos proprietários do sítio! Ficou furioso com o atrevimento. Vendo que não ia conseguir descobrir resolveu deixar de procurar a atrevida mão desenhista. Antero percebeu que o galo não deixava de observá-lo, não tirava o seu olhar em tudo que fazia. Foi nesse momento que o galo abanou violentamente as suas asas levantando vôo em direção dos pés de Antero, que tomou um baita susto! O galo agarrou com o seu bico um pedaço de um facão que se encontrava cravado na raiz exposta de uma mangueira arremessando-o aos pés de Antero que por sua vez saltou para trás na tentativa de se proteger. Rapidamente o Galo voou de volta para o galho da mangueira. Antero começou realmente entender a ação violenta do seu magnífico galo! No momento em que ele voa e paga o pedaço da lâmina do facão cravado na raiz era para protegê-lo. Em sua ponta cravada no chão de barro do terreiro estava uma cobra cascavel atravessada pelo pedaço da lâmina do facão. Antero não sabia o que pensar. Jamais viu isto acontecer! “Um galo com tal inteligência era impossível existir”. Pensou Antero. Agora não sabia o que ia fazer com aquele maravilhoso galo herói! Ficou também preocupado com a sua segurança, pois se alguém descobrisse que existisse um galo com tanta inteligência assim poderiam até sequestrá-lo para fins lucrativos. Mas como esconderia por mais tempo o fenomenal galo? Se por ventura fosse a cidade e deixasse o sítio por conta dos animais e nisso alguém entrasse procurando uma boa galinha pra comprar e desse de cara com um galo tão habilidoso e capaz de adestrar as galinhas numa espécie de aquecimento? E quem sabe se não foi o próprio que desenhou aquele rosto humano? E de repente o pegasse de surpresa desenhando um outro rosto? Seria o fim do mundo, ou melhor, o fim da paz no sítio! Antero agora sentiu o peso daquele galo na vida de todos. Resolveu então se aproximar e tentar um contato mais humanizado, na tentativa de extrair alguma coisa que pudesse entender o que realmente se passava na cabeça daquele galo. Pegou duas cadeiras e as colocou frente a frente no meio do terreiro sentando em uma delas fazendo o convite ao galo que fizesse o mesmo! Não deu outra: o galo voou em direção da cadeira até o momento em que repousou na parte em que se coloca a bunda.Olhando fixo para os olhos do galo, o perguntou:
___Quem é você?
O galo abanou as asas, cacarejou, e voltou a fixar os seus olhos nos de Antero.
Não se contentando resolveu arriscar tudo em uma única pergunta:
___Foi você que desenhou o rosto daquele homem feioso no terreiro da nossa casa?
O galo cacarejou uma só vez. Antero viu que era preciso saber mais se o que ele respondia significava se um cacarejar representava “sim” e se dois representava “não”. Então fez a seguinte pergunta?
___Você é um jegue?
O galo cacarejou duas vezes.
___Você é um belo galo?
Finalmente a resposta estava de acordo com que Antero pensou. O galo cacarejou uma vez! Não tendo mais nenhuma dúvida, vendo que era preciso mudar as coisas, resolveu construir um galinheiro especial com grande segurança para o seu galo fantástico! Assim ele ficaria seguro dos humanos malfeitores a ambiciosos. Todos os dias Antero e o seu galo conversavam bastante, ao ponto de utilizarem desenhos e símbolos evoluindo para uma nova linguagem, uma espécie de língua. Em todos os novos assuntos iam desenvolvendo novos códigos lingüísticos. Chegaram a construir uma semântica própria, vocabulário, tempos verbais e até gírias eram válidas. Tudo naturalmente, dentro de uma regra por eles desenvolvida. Tudo isso ajudou a manter o segredo diante de todos que vinham visitar o sítio. Se Antero precisasse saber se uma das suas galinhas estava bem de saúde, o galo desenhava o símbolo que representasse o tipo de doença que sofria, caso estivesse doente! Se uma das suas galinhas sofresse de depressão, solidão, paixão, rebeldia, o galo imediatamente o comunicava através de códigos específicos. O grau de evolução que sofreu o galo foi tanto que o discurso oral foi também se aperfeiçoando ao ponto de falar pequenas frases do dia a dia sem precisar de nenhum esforço. O tempo foi passando e tudo continuou evoluindo até o dia que os dois já discutiam problemas de ordem pessoal, filosóficos, antropológicos, existencial, teológico, político, e até sobre o Amor universal. Já eram dois grandes amigos e pensadores universais. Mas tudo que existe materialmente sempre terá um fim, mesmo que nos traga dor ou alegria. Viu-se Antero em sua vida diante de uma situação terrível para o seu coração! O galo estava envelhecido e não restava muito para que a sua morte fizesse presente. Não havia nada a fazer. Era o momento final. Após a visita do veterinário, Antero sabia que poucas horas os separava para sempre de sua vida o grande e magnífico amigo “Galo” que o tratava como o grande irmão que a vida te presenteou. Nos últimos momentos que restava o Galo lhe chamou, dentro da linguagem conhecida por ambos, lhe confessou um segredo:
___#_””`´`)+=+&**%¨$#@!&&?\/%%¨¨+=§°°°£¢¬§..!~~}]__+§**?$$$$
___$$$$ ? Ficou espantado Antero de saber do segredo!
___²2@#&¨%)_+&&¨*%:>>>§**&#$@___???__@#@#@&¨¨%)(*_+>><<__Dizia o Galo dando a sua última respirada.
Antero ao saber do grande segredo caiu em prantos. “Viu que aquele grande e único amigo de verdade que teve em sua vida foi-se para sempre para o” céu das aves superiores!”
Antero mudou de lugar. Comprou uma fazenda de mais de mil alqueires para criar só gado puro de corte. Não quis mais saber de criar aves. Tinha sofrido muito pela morte prematura do seu amigo “Galo Magnífico!” E a vida de Antero foi boa até os noventa e sete anos de vida que teve. Mas, alguma coisa não ficou esclarecida? Por que depois da morte do “Galo Magnífico!” Antero ficou milionário? Teve sorte na mega-sena ninguém sabe! Se recebeu uma herança? Também não! A única coisa que se possa suspeitar de Antero é que ele antes de ir embora da sua cidade foi até o galinheiro do “Galo Magnífico” e recolheu uma certa quantidade de objetos de forma oval que brilhava muito expostos ao sol de cor dourada! E só isso que souberam... ( FIM)