Ao meu redor, um mundo em preto e branco, onde diversos edifícios arranham o céu já nublado, fazendo do cinza a cor predominante na cidade. Sobre a lente, o vermelho de uma balança já castigada pelo tempo e que balança já sem alegria em meio ao olhar triste da menina de cachos dourados perdida e entregue ao mundo. Em suas mãos, o milagre da natureza que nascera em meio à impureza do solo já castigado, onde num gesto simples, num leve sopro se desfaz o dente de leão… plumas leves e brancas que dançam sobre a brisa e se espalham em meio ao ar impuro da cidade. Ao lado sobre um chafariz, o canto dramático de um pássaro deslocado que abafado pelo stress da multidão, segue com suas asas feridas cantando e fazendo das suas dores melodia… Incapaz de poder voar ele canta, canta alto, canta lindo e vive a sua liberdade em cada nota que convida a menina a se aproximar… ela o observa atenciosamente admirando o seu canto que lhe faz esquecer de sua realidade, onde se desmancha em um lindo sorriso. Ela então o segura em suas mãos, o afaga, carinhando e tratando de suas asas feridas até que logo suas asas se curam e ela acaba tendo de observá-lo levantar vôo e aquele canto que a afagava, que a fazia mesmo que por um breve momento, fugir um pouco de tal realidade, já não se fazia mais presente e mesmo que feliz por ele, ela já não sorria mais… Foi então que eu me aproximei e observei junto a ela o pássaro seguir o seu destino e falei que fora a coisa certa a se fazer… ela então me olhou nos olhos e disse:


 “O seu canto era lindo, não era? Mas o que é um pássaro sem as suas asas, se a sua beleza parte de sua liberdade, do seu dom de poder voar? Agora ele poderá cantar livre para o mundo e espero que o seu canto leve a ele o mesmo que trouxe a mim, mesmo que por um breve momento”.

E a lente chorou…



(Felipe Milianos)

Imagem via Tumbl


Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 11/03/2011
Código do texto: T2841977
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