A Oração
A ORAÇÃO
Anos 90. Lucas voltando da escola, com um amigo. Sua mãe o espera na porta de casa.
Maria – Entra agora mesmo para dentro de casa.
Lucas entra apressado, seu amigo vai embora.
Maria – Por que é que você estava caminhando daquele jeito, ao voltar da escola, hein Lucas?
Lucas – Que jeito, mãe?
Maria – Até a sua madrinha que estava comigo na porta de casa fez um comentário infeliz sobre você e saiu logo.
Lucas – E o que foi que eu fiz desta fez? A senhora sempre me fala coisas que eu não entendo.
Maria – Você estava vindo muito alegre da escola com esse seu colega de turma.
Lucas – E o que é que tem, mãe? Eu não posso ficar alegre, não?
Maria – Não. O que foi que você viu hoje na escola para voltar desse jeito feliz e ainda volta com um amigo? Você pensa que eu não vi, junto com a sua madrinha, você vindo todo se quebrando, rebolando, parecendo uma bichinha. Até ela comentou que você estava parecendo uma garotinha, vindo feliz com o namoradinho.
Lucas – Eu não to entendendo, mãe.
Maria – Me diz agora, Lucas. O que é que você quer da sua vida, hein, menino? Por quê que você veio rebolando, hein? Você quer ser é bicha, é? É isso que você quer ser? Isso não é de hoje, Lucas. Há dias, ou melhor, há meses que eu falo com você sobre isso, sobre seu jeitinho estranho. Todo mundo já anda comentando!
Lucas – Comentando o que, mãe? O que é que eu to fazendo de errado?
Maria – Não se faça de sonso, Lucas. Você já tem oito anos e já entende muito bem o que eu estou falando. Olha só, menino! Olha pra mim aqui no fundo dos meus olhos e me diz se tu gosta é de homem? Tu quer ser é veado, é? Me diz!
Lucas – (chorando) Não, mãe! Eu não quero ser não! Eu nem sei o que a senhora tá falando! Eu tava caminhando normal. E se eu tava caminhando estranho, não foi por querer. Mas eu tava caminhando normal, mãe. Me desculpe, por favor, me desculpe!
Maria – Olha nos meus olhos, Lucas. Você sabe muito bem que seu pai trabalha nas estradas, naquele caminhão dele, não sabe?
Lucas – Sei.
Maria – Pois olha pra mim e responde: Você quer que seu pai morra de acidente, se você estiver mentindo pra mim?
Lucas - Eu não estou mentindo, mãe. Eu não quero que ele morra.
Maria – Você jura que está falando a verdade, pelo seu pai mortinho?
Lucas – Juro, mãe. Eu não tava rebolando. Eu não sou bicha. Eu nem sei o que é isso.
Maria – Olha, olha! (o telefone toca e ela sai para atender)
Lucas – (pega uma imagem de Jesus Cristo que estava em sua mochila e começa a rezar) Meu Jesus Cristo, eu estou falando a verdade. Eu não rebolei, eu vinha caminhando normal com meu amigo. Agora estou com medo, minha mãe fez eu jurar por uma coisa que eu nem sei o que é. Eu, Lucas, te digo senhor, eu não sou essa bicha que ela fala. Eu não sei o que é isso. E te peço uma coisa: não deixa meu pai morrer de acidente, não. Eu o amo, e amo o Senhor também, meu Jesus. Obrigado por me ouvir; eu confio no Senhor. (põe a imagem no bolso)
Maria – (voltando meio chorosa) Adivinha quem era no telefone?
Lucas – Quem, mãe?
Maria – Não me chame de mãe, seu mentiroso. Acabaram de me ligar dizendo que seu pai sofreu um acidente e morreu na hora.
Lucas – (chorando) Não, mãe. Eu não menti! Eu juro.
Maria -(dá um tapa na cara de Lucas) Pegue suas coisas e vá embora da minha casa agora. Eu não quero mais te ver na minha frente, seu mentiroso.
Lucas – Não, mãe! Eu não menti!
Maria – Eu vou lá para o meu quarto. Quando eu voltar não quero mais você dentro desta casa. (sai)
Lucas – (tirando a imagem de Jesus do bolso) Eu confiei no Senhor.
Lucas rasga a imagem e sai chorando, levando apenas a mochila da escola.