o cigarro

O cigarro

Juca foi um vaqueiro dos mais duros da região. Não tinha pau nem pedra, nem espinho que o atrapalhasse pegar o mais danado dos bois na caatinga arraiana. Hoje já maduro porém , aínda forte , leva a vida a cuidar de um pequeno barzinho perto da rodoviária. E apesar do péssimo atendimento, a sua clientela é farta e satisfeita. Quando está sentado cortando fumo para seu cigarrão de palha, pode o freguez berrar, berrar, pedindo outra cerveja que nem tum...Enquanto não acabar de fazer seu cigarro, não atende nem que a vaca tussa....Ao invés de zangar, o cidadão, que também é sua amigo, fica admirado com a irreverência, levanta-se , vai no freezer pega uma garrafa, passa por ele e diz, anote aí Juca, mais uma, viu....!!!.

Quando algum trambiqueiro, lhe vem com uma proposta de comprar fiado, ele imediatamente responde: Não sei ler, meu amigo, por isso não vendo fiado, pois não sei anotar....

Bom de causos que só vendo, escancha o cigarrão no queixo e lá se vem histórias...Quando algum fumante lhe pede emprestado o canivete, a palha ou o fumo, se retorce todo dá uma desculpa.e o cabra sai sem nada. Numa destas ocasiões, depois de negar um de seus apetrechos, contou-me o seguinte:-Baiano, fui criado por um velho muito cismado, o seu Domingos Aires, homem severo, mas me ensinou muito do que eu sei hoje. Uma vez o sr Domingos ia a cavalo da fazenda Mansidão para o Jacaré, quando a certa altura. encontrou-se com um seu compadre que vinha do lado oposto. Como de costume pararam lado a lado, cavalos cabeça a cabeça e veio logo os cumprimentos; Bom dia compadre-bom...respondeu Domingos Aires que era de pouca prosa. O outro perguntou- tem uma palha aí ?- tenho. -Me empresta pra fazer um cigarro. Tirou do bornal a palha, esticou o braço e deu ao compadre- E o canivete , compadre, tô sem, me serve o seu...Meteu a mão na cintura tirou o canivetão corneta e deu ao compadre..Já a esta altura o velho Domingos Aires estava de olho mau para seu compadre...O outro fez o cigarro, limpou as mãos na camisa, bateu a mão no bolço da calça e fingindo-se surpreso, disse: puxa esqueci o fósforo, me arruma aí o fogo compadre.O sr. Domingos deu uma grunida lá dentro do pescoço, como fosse escarrar e ao invés de dar o fósforo ao compadre disse:Me dá o cigarro aí que eu acendo compadre, já com a caixa de fósforo balançando na mão.O outro esticou o braço , deu o cigarrão já pronto, Sr.Domingos pegou, colocou na boca, acedeu o danado, deu duas baforadas para garantir que não ia apagar, deu uma chicotada no cavalo e seguiu viagem, o outro estupefado na estrada, virou-se e gritou, ou compadre: E meu cigarro?!!!-O velho Domingos olhou para trás respondendo:Você não gosta de fumar não compadre... Pois não carrega nada..Inté, viu....!

l.rocha

Laerte Rocha
Enviado por Laerte Rocha em 08/03/2011
Reeditado em 27/07/2015
Código do texto: T2835315
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