Angu de caroço
O fubá de moinho d’água ! Eta trem bão danado ! Quantas iguarias ele nos oferece. Algumas fazendas mineiras, ainda mantêm os moinhos, em suas propriedades.
A minha mãe preparava inúmeros pratos com o fubá para nós e ainda nos contava alguns causos. Vamos a eles.
Os escravos se alimentavam muito do fubá. Pela manhã, para eles ganharem sustança e enfrentarem o forte trabalho braçal, as cozinheiras preparavam o “Fubá suado”.
Este prato, elas colocavam o fubá molhado em uma vasilha - em descanso – e logo após o refogado das cebolas, adicionava-o e iam pingando água, mantendo sempre a panela ferro com tampa para o fubá suar. Toucinho de barriga e muito “mato” (ervas) eram colocados para dar um melhor paladar e aquele cheirinho verde. Quando aparecia um queijo canastra, também era colocado no “abafa”, dentro da panela.
Quando um escravo passava mal, logo as cozinheiras traziam a “Água de fubá”.
Com as mãos, as escravas faziam bolas do fubá (capitão) e as colocavam em fervura, para assim retirarem o líquido milagroso.
Na hora do almoço, a rapa do angu, enrolada e adoçada, era servida à criançada como “Beju doce”.
Já no “Angu de caroço”, alguns pedaços de carne eram revestidos com uma massa mais resistente e mergulhados no meio do angu, mais mole. Um molho era jogado por cima, para que ninguém percebesse o despisto. Assim, para muitos, o angu virava uma confusão, só. Uma verdadeira bagunça; um angu de caroço.
ANTÔNIO CALAZANS