O Caso da Identidade Perdida

I

Quem nos presenteou com essa pérola foi uma datilógrafa de audiências de Belo Horizonte. Esclareço aos leitores que o conteúdo da presente história é fruto direto do conhecido instinto maternal de proteção.

Vamos então acompanhar o que aconteceu por aqui!

II

O fato é que um rapaz chamado Marco Túlio fora convocado pela Justiça do Trabalho a prestar depoimento como testemunha numa das Varas da Capital.

No dia designado para a sua audição em Juízo, o nosso herói acordou cedo e bastante animado. Como a sua audiência estava marcada para as oito horas e trinta minutos, combinara com o advogado que se apresentaria por volta das oito horas no prédio da Justiça.

O detalhe importante nesse enredo é que naquela bela manhã de Sol o nosso jovem não conseguira encontrar de jeito nenhum o seu documento de identidade. Por mais que tivesse revirado o seu quarto de cabeça para baixo, não chegara a avistar o seu RG em lugar algum.

Começara a investigação passando um pente fino na sua carteira de dinheiro e documentos e nas roupas que vestira no dia anterior. Em seguida transferira a busca aos móveis do quarto: investigara sobre a pequena cômoda e num sofá velho e rasgado que era utilizado para apoiar o seu violão. Passara os olhos por detrás da porta, entre as suas roupas de cama e debaixo do beliche de madeira onde ele e seu irmão Marcos Vinícius dormiam.

No entanto, não encontrara nem lembrança e nem sinal do seu documento de identidade. E o fato naquele momento é que o tempo começara a ficar curto e apertado. Os ponteiros do relógio não paravam de rodar e o rapaz a todo o momento se recordava da insistência com que o advogado lhe pedira que chegasse pelo menos com meia hora de antecedência ao fórum trabalhista.

Então - já não sabendo mais o que fazer e nem a que santo recorrer - Marco Túlio resolveu pedir ajuda a sua querida mãezinha. Ela, porém, nada soube dizer à respeito do RG do filho. Ao mesmo tempo, entretanto, apresentou a ele uma rápida solução para o problema:

- Marquinho, você podia pegar emprestada a identidade do seu irmão e levá-la consigo, principiara a mulher. É melhor andar com uma identidade alheia do que com identidade nenhuma. E o fato, meu filho, é que hoje em dia uma pessoa não pode e nem deve sair de casa, pegar ônibus ou ir ao centro da cidade sem portar no bolso um documento de identidade! E se lhe acontecer alguma coisa – perguntara ela - um acidente, por exemplo? E se você for preso, meu anjo? Deus me livre e guarde de uma coisa dessas, mas do jeito que a coisa anda a gente tem mesmo é que pensar em tudo...

III

Pois bem: algum tempo depois Marco Túlio já se encontrava no fórum trabalhista, sentado diante do juiz. A datilógrafa de audiência solicita que o rapaz lhe apresente a sua identidade, pois antes do depoimento teria que registrar na ata o nome da testemunha.

Marco Túlio, entretanto, se esquecera completamente de que estava portando a identidade do irmão. Então – e com naturalidade - enfia a mão no bolso da calça e retira de lá o seu RG, isto é, a identidade do seu irmão, entregando-a a datilógrafa.

Em seguida, presta o depoimento.

Já no final da audiência - no momento em que as testemunhas são chamadas para aporem as suas assinaturas logo abaixo de onde se encontram transcritos os seus depoimentos - Marco Túlio se dirige à datilógrafa e lhe informa que o nome registrado ali não era o seu, mas o do irmão.

A datilógrafa fica um pouco assustada e embaraçada diante daquela revelação e solicita que a testemunha lhe revele tudo o que lhe ocorrera.

- O fato – concluiu o rapaz – o fato é que eu acabei não encontrando mesmo a minha carteira de identidade. Então – com a sua eterna mania de super proteção e com o receio de que algo de ruim pudesse me acontecer enquanto eu estivesse na rua – a minha mãe insistiu para que eu trouxesse o RG do meu irmão. É por esse motivo que eu me encontro nesse momento com a identidade dele...

IV

Devo confessar que aquela questão não demandou muito trabalho ou esforço para ser resolvida: a um pedido do meritíssimo, a datilógrafa registrou o nome real da testemunha presente e desconsiderou o do proprietário da identidade. Em seguida reimprimiu-se a ata de audiência.

Coube também ao juiz determinar que a referida testemunha trouxesse posteriormente uma cópia da sua identidade e um documento comprobatório do seu endereço residencial. Para esta finalidade concedeu-lhe o meritíssimo o prazo de 48 horas, sob as penas da lei.

O fato, porém, é que o nosso Marco Túlio a tudo providenciou logo na manhã do dia seguinte, colocando ponto final em toda aquela problemática. E para questões cheias de problemas - meus caros amigos - só mesmo como diria o glorioso Dario, o Peito-de-Aço: “não me venham com problemática, porque eu tenho a solucionática!

Obs.: conhecido popularmente como o “Beija-Flor”, Dadá Maravilha se tornou famoso dentro e fora do gramado por criar frases engenhosas e dar nomes aos gols: o “holocausto” (contra o arquiinimigo Cruzeiro), o “mata-mengão” e o “mirabolante” fazem parte do seu currículo. Dario José dos Santos nasceu no Rio de Janeiro em 04/03/46 e foi um dos centroavantes mais desengonçados que já se viu nessas terras. No entanto, é considerado o segundo maior artilheiro do mundo, tendo feito 926 gols. A ele pertence também o recorde mundial de gols numa só partida: marcou 10 dos 14 gols do time do Sport sobre o Santo Amaro em 1975. Além de ser um grande goleador, o Rei Dadá possuía habilidade também para criar frases de espírito, tais como: "somente três coisas param no ar: o beija-flor, o helicóptero e o Dadá Maravilha" ou “dentro da área não houve, não há e não haverá nada igual ao Dadá: ele tem o olhar balístico da águia, a velocidade do falcão e a impiedade do abutre”.