Aderaldo, o avarento
É muito comum nas pequenas cidades do interior ouvirmos histórias fantásticas de pessoas profundamente “mãos-de-vaca". E essas pessoas existem!
Eu mesmo conheci um desses tipos, ainda vive entre nós, acreditem!
Esse tal, no tempo que eu fumava, batia na minha porta, fingia ter um assunto urgente pra conversar, só pra me “filar” um cigarrinho. Soube que esse cara, dentro de sua casa, partia ao meio o cigarro, só pra gozar da sensação de economista esperto.
Mas a história do Aderaldo, que não tem nada a ver com aquele meu personagem fantástico do Rio de Janeiro, também batizado com o mesmo nome, que agora vou contar, é o máximo da miserabilidade. Mas o nome, sem dúvida, “fortalece” a estória!
Esse Aderaldo era tão miserável, que ao comprar um bolo na padaria, só pagava a metade do valor do bolo, obrigando sua esposa a pagar a parte restante. De certa feita, a esposa que já havia comido a sua metade, teve a triste ideia de pegar uma fatia da parte do marido. Resultado: a mulher teve que pagar por esse pedaço.
Caro leitor, por favor, eu lhe suplico: estou falando a verdade, não estou cometendo nenhum exagero. Pois bem, para que acreditem, vou narrar como surgiu essa vocação de “economista” do Aderaldo.
Aderaldo, já rapaz, é chamado por seu pai, Helcio, o “mão fechada” mais conhecido da cidade, para receber aulas de como economizar na vida. Era imperioso manter a tradição. De repente, o velho Helcio diz para o filho: “Filho, tive ideia melhor, vai agora mesmo receber essas aulas com aquele que foi o meu mestre, o Jonas da Venda. Era domingo, dia propício para um “lero-lero”.
Aderaldo chega na casa do Jonas da Venda, diz a que veio e os dois começam a conversar sobre as delícias da economia. Em certo momento, Aderaldo puxa de um cigarro, mas quando ia acender com um fósforo, é imediatamente advertido pelo Jonas: - Que é isso, rapaz, economize o seu fósforo! E usando de uma pinça, pega uma pequena brasa do fogão e acende o cigarro do Aderaldo. Que lição! Que lição!
A conversa ia longe e o dia chegando ao fim. Começa a escurecer, mas nada do Jonas acender o lampião da casa. Com certeza era mais uma lição de economia sub-reptícia do Jonas da Venda. Era o mestre dos mestres do “pão-durismo”.
Na escuridão mais completa possível, um não enxergando mais o outro, um breu total, o Jonas se levanta de sua cadeira e resolve acender o lampião. Grande surpresa: Jonas vê o Aderaldo com as calças arriadas até as canelas, sentadinho na sua cadeira. – O que é isso, meu filho? Por que você está com as calças arriadas desse jeito?
- Nada demais, seu Jonas, é que resolvi economizar os fundos da minha calça, enquanto converso!
Jonas da Venda, ainda atônito com a surpresa e ao mesmo tempo maravilhado com a precocidade do Aderaldo, exclama bem alto: - Filho, pode voltar pra casa e não precisa mais voltar aqui, senão eu é que vou virar o seu aluno!.