Inesquecível Aniversário
Inesquecível aniversário
Não é costume de a família japonesa comemorar o aniversário natalício. Uma colega de serviço, descendente de italianos, casada com um nikkey, ficava louca de raiva. O marido nunca lembrava do seu aniversário. Até que se foi habituando.
Somente ao chegar quase ao final da caminhada, é que tenho, mesmo assim nem todos os anos, comemorado sua passagem, dada à insistência dos familiares. Mas a primeira celebração a gente nunca se esquece, é verdade. Principalmente se o acontecimento foi motivo de separação da primeira mulher.
Trabalhava numa multinacional japonesa, sediada lá no décimo andar do Conjunto Nacional, na Paulista. Éramos uns setenta funcionários. Os chefes eram todos recém-chegados do Japão. A hierarquia era rígida. Se cruzássemos com algum deles no corredor, encostávamos na parece e fazíamos reverência. Na sala, ficávamos só uma moça, um rapaz e eu. Quase não conversávamos. O serviço era datilografar as faturas em cinco vias. Não se podia errar, O tal de computador estava longe de chegar. Qualquer erro ocasionava outro trabalho mais dispendioso e custavam pontos na sua avaliação. Se você tivesse dez pontos negativos no semestre, não recebia o tal de bônus. Uma boa grana, na época. Por isso, a gente dispensava toda a atenção. A moça, uns vinte e poucos anos, era bem bonitinha. Às vezes, almoçávamos juntos lá no térreo. Depois, ficávamos visitando a Livraria Cultura, apreciando conjunto de música clássica. Nada além disso. Acima de tudo, porque ela era amiga da mulher. Ambas tinham vindo de Bastos.
Era um dia como outro qualquer. Somente ao bater a data no formulário, lembrei que era o dia do meu aniversário. Mas como sempre, passaria em branco. Nem a mulher me cumprimentou pela manhã nem os colegas da sala. Também ninguém sabia quando era aniversário do outro.
Mas a Martha –era como a colega se chamava – naquele dia parecia mais alegre, mais bonita. Até arrisquei um gracejo, dizendo: Puxa, você hoje está bem mais apetitosa. Ela sorriu, dizendo. Você, acha? E se afastou, lançando uma piscadela. Aquilo me fez com que imaginasse coisas não muito recomendáveis para alguém casado.
Chegando quase ao final do expediente, a Martha se aproximando bem juntinho, ajeitando a minha gravata, perguntou com aquela voz que achei mais suave do mundo. Você não quer ir beber alguma coisa lá em casa? Ela morava no mesmo conjunto, na ala residencial. Aceitei de pronto.
Ao chegar ao apartamento, disse-me sedutoramente. Vou para aquele quarto arrumar as coisas. Dentro de cinco minutos, você entra. OK? Piscando-me um olho.
Quando entrei no quarto, esta tudo às escuras. De repente, as luzes se acenderam e gritaram: SURPRESA. Lá estava a Martha, e junto dela, a minha mulher.
O problema é que, crente que seria uma noitada memorável, tinha tirado toda a roupa. E lá estava eu peladão, ante duas mulheres estupefatas. T