O DIA QUE O TAMANDUÁ COMEU FORMIGA NA PANELA !!!!!

Hoje, um sábado chuvoso. Olho pela janela e ao longe percebo uma névoa domando parte do verde cerrado. Estou com a família na chácara de meu irmão passando alguns dias. Este mês de fevereiro era o mês das pescarias quando meu pai estava vivo, considerando que nos não gostávamos muito de carnaval então juntávamos a traia e íamos para a beira do barranco de um ribeirão/rio qualquer. A primeira coisa era fazer um arroz com carne seca, muita cebola, tomate, cheiro verde, para levar, evitando assim perda de tempo na beira do córrego. Eu arrumava toda a traia, colocava no carro (veraneio) organizava as redes (de dormir) varas e demais produtos para passar dois dias. Logo após, iríamos conferir as iscas: minhoca na caixa com terra, salame cortado, frutas, salsicha, bacon, sem estas iguarias não saiamos de casa.

Tudo pronto, marcávamos para sair as 4:00hs sem falta, tudo no carro, trabalhando até tarde, tomávamos banho e cama. Eu ficava acordado conferindo, lanterna, anzol grande,médio e pequeno; linhas 0,20, 0,25, 035, 0,50 e os cordões de aço para fazer uma ou duas pindas para surubim ou outro peixe maior. Madrugadinha, todos levantávamos, organizávamos, tomávamos um café reforçado, pão, ovos mexidos com salame, leite e café, nem esquentávamos os assentos, saiamos mastigando mesmo, para ir rápido ao encontro dos belos e saborosos peixes.

Ao passar algumas horas, chegamos ao local pretendido, um ribeirão chamado Capivari que deságua em um rio maior chamado Turvo não muito distante, mas com belas opções de pescaria. Em fim chegamos ao desvio para o Ribeirão, uma estradinha empoeirada, terra fina, pó vermelho, levantando e sufocando todos nos, ansiosos para enxergar a água, 2 quilômetros a dentro da mata, sentimos o cheiro fresco e úmido no meio da mata fechada, com um barulho de espumas borbulhando.O carro, por sinal um grande carro, cheio de coisas deliciosas e suculentas ficou estacionado debaixo de um grande pé de jatobá, com muitas sementes a sua volta, transpirando um cheirinho interessante e infetante, “o cheiro de pum” !. Descemos toda a traia...fizemos um jirau grande debaixo de uma gameleira gigante com abas largas mais de um metro de largura, colocamos tudo em cima para não dar formiga. Olha e as formigas lá são grandes e rabudas, carregam tudo. Depois de tudo arrumado, resolvemos ir cada um para o seu lado, eu fiquei armei a rede e fui descansar, peguei um pouco de farinha de trigo, pó de jatobá e um pouco de pinga e comecei a fazer uma gosma verde indefinida com um cheiro de almíscar selvagem ou seja raspa da poupança de um gambá vencido.

Terminando aquela especial isca, peguei mais um pedaço de salame dois molinetes e uma secretária e fui procurar um lugar , olhei para cima ocupados, para baixo os dois ocupados, resolvi a descer mais um pouco ficar perto da ponte, local perigoso, onde os criminosos que fogem das cadeias escolhem para se esconder.

Mas tudo bem, comecei a lançar a isca, parece que estava benzida, bateu na água e acertei a boca de uma tubarana....foi uma labuta, peixe para cima e para baixo, a linha 0,20 para um peixe de mais de 3 quilos, não é fácil, o bom era que eu tinha uns 100 metros de linha especial, toma linha, enrola linha, até que a bichona ficou de barriga para cima cansada e eu retirei a lutadora para fora e coloquei no criatório que tinha feito, no meio do mato em um laguinho raso. Percebi que a minha isca era fatal, então coloquei novamente um pedaço no anzol e lancei na corredeira, coloquei um pedaço de salame em outra e joguei em um pequeno remanso e sentei relaxadamente espantando os mosquitos a minha volta, todos doidinhos para chupar um néctar doce da cidade. Quando estava pegando no sono percebi dois grandes beliscões e uma puxada, ai foi suicídio, o peixe estava ferrado, apenas administrar a retirada, o dito era pesado logo cansou era um mandi amarelo de quase dois quilos, eu pensei.:..os butelos estão aqui pertinho eheheh.

Estava quase na hora do almoço, então eu resolvi a almoçar, levantei batendo na roupa para tirar as formigas, terras e folhas , renovei as iscas e segui para o acampamento. No caminho ao pular uma mina dágua quase pisei num toco pintado que nada mais era que uma coral de 2metros grossa e muito venenosa, fiquei quieto esperando ela passar, uns poucos metros, devagar eu me afastei rumo ao acampamento.

Após alguns minutos cheguei e deparei-me com uma cena estonteante e interessante, a panela de almoço cheia de formigas rabudas, pretinhas e um tamanduá bandeira passando a língua por cima do arroz com formiga, iac...iac..iac... que nojo...Eu com medo do bruto Tamanduá que se deliciava com as formigas e o delicioso arroz, pela quantidade de formigas logo terminariam de saborear aquela gulosema.

Acampamento sem ninguém, apenas os visitantes concentrados, eu escondido atrás de uma árvore com medo de um abraço com amor, comecei a jogar pedras e mais pedras e logo acertei algumas na tampa e na panela quando o Tamanduá Gigante saiu na maior folga, peludo, rabudo, com unhas de quase 10 centímetros cada, sem prestar atenção quem atirava as pedras, quando ele estava distante eu corri peguei a panela e retirei a parte preta de formiga e joguei dentro do rio , salvando o nosso almoço. Fiquei preocupado, será que baba gosmenta de Tamanduá Bandeira tem algum néctar venenoso, estava com muita fome, coloquei para esquentar e logo devorei uma pratada daquela delícia gosmenta e babenta..(brincadeirinha);

Quando a turma chegou e eu contei a história e meu pai friamente disse pegando um prato, o que não mata engorda. Eu olhei para o meu irmão mais novo e disse você está grávido, ele puto respondeu: é filho de marimbondo cavalo, sou alérgico e ele me ferrou, e foi também rumo da panela, eu não quis esticar o assunto, logo todos tinham almoçado e cada um no seu canto, e meu pai perguntou? O que era mesmo o assunto do Tamanduá, eu respondi depois te conto, dorme um pouquinho que eu vou buscar minha traia.

Ao chegar as minhas linhas estavam arrebentadas, os grandões passaram e levaram tudo, ainda bem que fiquei com as varas, mas tudo bem, naquele momento eu juntei todas as minhas coisas e dei uma olhada a minha volta, um cerrado lindo, cheio de flores exóticas, uma orquídea pertinho de mim, maravilhosa, Pés de Pequi, Jatobá, Ipê Roxo, Branco e Amarelo, e tantas outras arvores de cerrado todas retorcidas, foto esta que ficou mentalizada, nunca mais esqueci.

Resumo da pescaria, todos pegaram belos peixes, mas os meus voltaram para água, eu fiquei com a história e a foto em minha mente e coração, alguns acham que história de pescador outras de conversador, mas eu sei que neste dia, o “Tamanduá comeu Formiga a La Arroz com Carne Seca”, o gosto deveria esta uma delícia. Mas a foto e a lembrança daquele momento com o meu Pai e irmãos nunca sairá de meu coração, sentirei saudades em tempo de chuva ou sempre que me sentir só neste mundão de meu Bom Deus!

Kulayb
Enviado por Kulayb em 23/02/2011
Reeditado em 28/12/2012
Código do texto: T2809535
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.