Foguetório em Pendura Saia

Nos meados dos anos sessenta o padre só ia à Pendura Saia uma vez por mês. Mas, por ocasião da festa da padroeira ficava lá por uma semana inteira o que era um acontecimento extraordinário para os moradores por ser eles muito temente a Deus. Então todo fazia questão de ir a todas as novenas e esse causo passou por ocasião da festa da padroeira de lá. Porque todos os anos no alto da celebração da festa que era no domingo bem na hora da missa quando todo estava na igreja, acontecia de um político da comarca a qual Pendura Saia pertencia fazer questão de ir lá, por pura estratégica política, pois sabia que iria encontrar com todos moradores de lá como também das fazendas da região.

Com a chegada do tal político, os seus correligionários, faziam questão de soltar foguetes, atrapalhando assim, a missa. O padre ficava bravo, com tal atitude, dizia que faltavam com respeito à igreja e a Deus. Com isso, os seus partidários, colocavam a culpa no seu Antenor. Um dos fazendeiros mais rico da região. Por ser ele contrário ao partido deste político. Eles diziam que o seu Antenor mandava seus peões fazerem isso por puro despeito. Para eles ficarem bem com a cidade e com o padre e o seu Antenor ficar mal. Com esse feito, seu Antenor passou aos olhos do povo um descrente e uma pessoa má.

Esse tipo de coisa aconteceu uns três anos seguidos até que o seu Antenor resolveu tomar uma atitude e dar uma lição ao político e as pessoas ligadas ao partido dele E ao padre por ter proibido que ele e sua família freqüentassem a igreja sem saber se realmente era ele que fazia aquilo. Sua primeira providência um mês antes da festa, foi ir até o armazém do seu grande amigo e compadre o seu Bento, chamando-o para um particular. Seu Antenor foi logo dizendo,

-Compadre Bento, você me conhece e sabe que não sou capaz de fazer o que esse povo anda dizendo que mando meus empregados fazer que seja soltar foguetes na hora da missa.

-Compadre sabe muito bem, você não faz esse tipo de coisa, pois é um homem de bem. Um homem temente a Deus. Mesmo não indo à igreja por proibição do padre, por causa desta conversa.

-Pois é compadre, foi pensando nisto que resolvi dar uma lição neste povo e uma lição bem dada.

-O que o compadre está pensando em fazer?

-Compadre, quer pedir-lhe que encomende para mim, dois caminhões fechado de foguetes com três tiros e que mande entregar na minha fazenda, pois não quero que o povo veja e nem fique sabendo da minha intenção.

-Já entendi compadre, vou fazer isso, pode ficar tranqüilo que irá ficar somente entre nós dois, não vou contar nem pra minha patroa.

-Obrigado compadre sabia que podida contar e confiar.

-Por isso, é que somos compadre e amigos.

E assim foi feito e o caminhão de foguetes chegou à fazenda do seu Antenor.

Quando a festa começou tudo corria na maior tranqüilidade e dentro do normal. No domingo de madrugada que eram os dias do encerramento da festa, os empregados do seu Antenor juntamente com ele, cercou a cidade toda com os foguetes e ficou combinado que quando o povo do partido do político começasse a soltar os foguetes era o sinal para acender o pavio dos foguetes. E agora sim, todo poderia dizer que ele havia soltado foguete. E quando o carro trazendo o político entrou na cidade e seus correligionários começaram a soltar o foguete, um peão do seu Antenor acendeu o pavio, foi um estrondo só, a cidade escureceu por conta da fumaça. Foi um barulho tão grande, que todos acharam que o mundo estava acabando. Foi aí que a confusão foi formada.

Pois foi um corre, corre e uma gritaria sem fim, uns entraram dentro dos mata burros de medo. Outros subiram na copa dos bacuris plantado no largo da igreja, uns esconderam debaixo dos bancos, outros saíram entraram dentro dos chiqueiros dos porcos, outros pularam dentro das cisternas para esconder, teve até a dona Cota mais a dona Lola que entrou debaixo da batina do padre. O político correu para um curral caindo nas fezes das vacas. Além de ter feito xixi pernas abaixo. Seus correligionários, esses, foram o que entraram no chiqueiro dos porcos. Foi uma coisa que nunca havia visto por aquelas bandas. Neste dia nem a procissão aconteceu. Pois até padre tremeu de medo, pois também pensou que o mundo estava acabando mesmo. Porque foi tanto barulho que o chão tremeu, tanta fumaça que o dia escureceu.

Quando passou o foguetório, seu Antenor pegou o alto falante que também havia encomendado para o seu Bento, e falou assim,

-Povo de Pendura Saia, não precisa ficar com medo, pois o mundo não está acabando. Foi apenas uns foguetes que mandei soltar em homenagem ao político e as pessoas do seu partido que sempre soltam foguetes na hora da missa e não tem coragem de assumir o que fazem. Mas, como gosto de fazer a coisa bem feita. Soltei os foguetes que vocês ouviram. Esses sim fui eu soltei. Porque já levei muita fama por coisas que não fiz. Depois deste acontecido, nunca mais ninguém de Pendura Saia soltou foguete na hora da festa.

Quanto ao político que queria ser muito bacana, nunca mais voltou à Pendura Saia de vergonha, por ter saído do curral todo sujo e fendendo a urina, ainda por cima ter vindo um cachorro e feito xixi na sua perna. O padre depois disto foi até a fazenda do seu Antenor pedir desculpas e dizer que a proibição estava suspensa no que ele respondeu ao padre. Que era um homem de brios na cara que ele nunca mais iria à igreja e não foi mesmo.

Lucimar Alves

Lucimar Alves
Enviado por Lucimar Alves em 20/02/2011
Código do texto: T2803438
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